Capítulo 75

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Desci correndo os degraus molhados da prefeitura com o alvará de construção enfiado debaixo do braço e protegido por uma pasta plástica. 
Ajustei o guarda-chuva em meu ombro tentando manter o equilíbrio dos saltos sobre o piso escorregadio.
Chovia forte naquela noite. 
Meus sapatos estavam chapiscados de água e logo minhas meias preta também ficariam encharcadas e se grudariam às minhas pernas se eu não me apressasse até o carro. 

Olhei o relógio no meu pulso, que naquele dia resolvi usar. 
Eram sete e vinte e dois da noite de uma quinta-feira. Isso significava que dali a vinte e oito minutos Alfonso Brown estaria em uma mesa do Beige me aguardando. 
Tínhamos marcado a reunião para às oito.

Já havíamos nos encontrado outras duas vezes e nesses dois encontro ele tinha chegado com exatos dez minutos de antecedência. E esse comportamento parecia ser recorrente. Um padrão. 
Eu não podia me atrasar mais do que cinco minutos do horário combinado, caso contrário, totalizaria mais de quinze minutos de espera para ele. Era bastante negativo deixar um cliente esperando por esse tanto de tempo.

Pelo horário, ainda era cedo para as ruas já estarem escuras, porém, era como estavam. O céu estava encoberto por nuvens densas e carregadas. A chuva tinha começado uma hora atrás e, até aquele momento, não havia cessado. Parecia ficar mais forte. 
Os reflexos das luzes de neon dos letreiros da fachada das lojas se projetavam sobre a estrada molhada deixando-a com sombras coloridas. 
O som das buzinas não cessavam. Havia engarrafamento na estrada, e eu só conseguia pensar em ter que enfrentá-lo.
Graças a Deus, o restaurante do encontro não ficava longe.

Esbarrei em outros transeuntes pela calçada até, enfim, chegar ao meu carro. 
Sacudi o guarda-chuva antes de entrar. 

Abri minha bolsa no banco ao meu lado e tirei um dois lenços de papel. Passei por cima do sapato e pelo salto. 
Virei o espelho para conferir a minha aparência. 
Ok, eu estava apresentável. 
Passei as mãos sobre as mangas do meu sobretudo preto que, ao passo que me protegia do frio, também protegia meu vestido de receber chapiscos de chuva.

Meu celular começou a tocar, me assustando de início com o barulho repentino.
Enfiei novamente a mão dentro da bolsa. 
Era Christopher. 
Ainda tinha uns minutos de sobra, então aceitei a ligação. 

- Oi, amor - atendi.

- Está presa no trânsito? Posso ouvir a comoção das buzinas.

Oposto ao meu, o redor dele era silencioso.

- Quase isso. Acabei de entrar no carro. Estava pra sair agora para a reunião. 

- As estradas estão bastante escorregadias. Tome cuidado. Não vá com pressa, mesmo se estiver atrasada - advertiu. 

- Com este trânsito, não há como ir rápido- brinquei, rindo. - Você ainda está no escritório?

- Não sei a hora que sairei daqui. Houve muitos atrasos nos negócios sem Lolla por aqui e, com a proximidade do grande evento anual, estamos todos atolados de pendências. Já passou do horário da Lolla, então logo mandarei ela pra casa e cuidarei do restante sozinho. Qual sua previsão de chegada em casa?

Liguei o limpador de para-brisas. - Talvez pelas nove. Não tenho uma previsão certa de quanto tempo a reunião durará.

- O dia está péssimo. Por diabos você escolheu logo hoje para estender seu horário? Não me agrada a ideia de que você está perambulando pela rua à noite, debaixo de uma tempestade.

Revirei os olhos, embora ele não pudesse ver. - Não estou perambulando pelas ruas. Vou me encontrar com o Sr. Brown no Beige e de lá irei pra casa. É algo bem simples. 

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora