Vasculhei a bagunça de objetos dentro da bolsa. Puxei pra fora as duas folhas de papel vergê. A minha se rasgou na ponta ao ficar presa no zíper, mas nada que comprometesse o entendimento.
- Temos isso em comum. - Estendi os papéis para ele.
Christopher aceitou. - O que é isso? - Virou as folhas.
Fiquei ao seu lado e apontei para o meu. - Recebi isso há algum tempo quando estava com Evie em uma lanchonete. Não sei quem mandou, mas percebi que você também tinha um igual. Vi o seu largado em uma das gavetas da cômoda do quarto, então me dei conta de que eram iguais.
- Não estava na cômoda - objetou e me olhou de lado com os olhos ligeiramente apertados.
Tinha xeretado o escritório dele hoje de manhã à procura do papel, e o encontrei dentro da gaveta de sua mesa. Mas eu não ia contar isso a ele e nem que tive que rasgar três de seus envelopes para achar... Ou que acidentalmente derramei dez mililitros de café em uma planilha.
Dei de ombros. - Pelo menos estava quando vi pela primeira vez. Você sabe quem enviou isso?
Ele uniu os dois papéis como se fossem peças de um mesmo quebra-cabeça. - Nós dois sabemos quem foi.
Assenti. - Foi o que pensei. O você acha que significa?
- São só rabiscos de um psicopata desocupado - desdenhou com uma risada amarga.
Olhei para o meu papel que tinha um desenho de uma rosa quebrada ao meio em um fundo escuro feito com riscas de lápis.
Tirei da mão dele o seu. Era um desenho de uma paisagem lúgubre. O que parecia ser árvores, ladeava um caminho estreito que levava para mais árvores à distância. O desenho se tornava ainda mais bizarro e sombrio em uma folha de dimensões pequenas como aquela.
- Você reconhece esse lugar? - Passei o dedo sobre a superfície texturizada do papel, como se um simples ato como esse pudesse me fazer reconhecer. - Fiquei pensando nisso. Algumas vezes me parecia ser familiar, mas não consegui lembrar de nada.
Ergui os olhos para ele que estava em silêncio.
Christopher desviou seu olhar do desenho em minhas mãos e também me encarou. - Não deve ser nada. - Puxou a folha da minha mão.
Observei os dois papéis virarem bolinhas amassadas e serem arremessados para o pé da janela.
- Agora não é nada mesmo - murmurei.
- O natal está chegando - mudou de assunto.
Tombei a cabeça para o lado girando com o polegar o anel de três pedras no meu dedo anelar. - Daqui a cinco meses.
- O que você gostaria de ganhar? Não pude dar nada no seu aniversário todos esses anos... - refletiu com remorso.
Nem eu a ele. Muitas coisas nos afastavam nessa época.
- Uma mansão em Miami.
- Com vista para o mar? - Fez um gesto amplo à nossa frente, encenando a paisagem.
- Essa é a graça, não é? - Fui até a parede de vidro. Separei as lâminas da persiana e encostei o rosto na fenda. - Imagina como deve ser maravilhoso morar em uma cidade litorânea. - Admirei a vista diante de mim como se fosse possível ver as praias substituindo os arranha-céus. Me virei para olhá-lo. - Não acha fascinante?
Christopher moveu a cabeça. - Queimaduras, câncer de pele, suor e muito calor... Fascinante.
Lancei um sorriso divertido. - Um pensamento típico de um londrino.
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Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]
RomanceO ser humano é mutável e subjetivo. Mas até que ponto as transformações são capazes de nos fazer deixar de ser quem nós fomos? Nada mais é igual. O tempo passou e trouxe consigo muitas mudanças. O medo maior, agora não são mais as lembranças, mas si...