Capítulo 45

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Passei por minha cabeça uma camisola de seda roxa assim que terminei de secar o cabelo. 
Minha imagem no reflexo do espelho era projetada de forma meio embaçada pela condensação causada pelo vapor do chuveiro e o ar quente do aquecedor em contato com a superfície fria do material.

Tinha esquecido de trazer algum remédio para dor de cabeça.
Não estava de fato com dor, mas por ter dormido poucas horas na noite anterior, o efeito da morfina presente no analgésico talvez me ajudasse a dormir sem interrupções. 

Abri as portas dos armários altos, ficando na ponta dos pés para conferir o interior à procura de algum analgésico que Christopher poderia ter.
Não havia nenhum frasco de remédio. 

Talvez ele nem tivesse. Em nenhum momento ouvira ele se queixar de alguma dor. Quaisquer que fossem. Eu invejava sua saúde de ferro.

Abri uma das gavetas de baixo. Nada. Continuei xeretando as demais em uma busca frustrada. Abri uma outra aleatória sem mais esperança. 
Não havia remédios, mas o que tinha lá dentro atraiu minha atenção. 

Puxei uma das embalagens preta brilhante e segurei na altura dos meus olhos.
Joguei novamente dentro da gaveta e a fechei.

Saí do banheiro, sentindo a frieza do piso sob as solas dos meus pés descalços. Mas não me importei com isso.

Desci a escada com o intuito de ir até a cozinha e comer alguma coisa, apesar de nós dois já termos jantado havia pouco tempo. Mas mudei de direção ao chegar ao pé da escada.
Virei para o corredor da direita e segui a direção da pequena flecha de luz provinda da porta do escritório entreaberta.

Christopher tinha dito que ficaria até um pouco tarde, adiantando alguns assuntos do trabalho e que eu não esperasse por ele para dormir.
Mas o que eu queria era dormir com ele ao meu lado, sentindo o calor de seu corpo me abraçando, e não sozinha.
Eu estava agindo de modo egoísta e carente, entretanto, era assim que eu estava me sentindo e precisava dele perto de mim.

Hesitei na porta. Não queria atrapalhá-lo e fazê-lo pensar que eu havia me tornado grudenta e carente de atenção. 

Isso é ridículo. 

Empurrei um pouco a porta para a frente e enfiei a cabeça dentro do cômodo com pouca luz, iluminado somente pelos spots de baixa luminância. 

Christopher ergueu os olhos do computador até mim. Não pareceu surpreso por minha intromissão.
Estava sem camisa, vestido apenas com uma calça de seda preta que pendia em seu quadril.

- Não quis atrapalhar - me desculpei sem sentir algum arrependimento de fato. - Está muito ocupado?

Ele me chamou para dentro com um gesto de mão.

Entrei com cautela. Deixei a porta do jeito que estava de início e fiquei parada junto a ela. 
Subi a alça fina da minha camisola sem saber ao certo se deveria me aproximar dele. 

Agora que estava ali, senti que estava realmente o incomodando em seu trabalho.

A luz da tela do computador que refletia no rosto dele se apagou de repente.

- Está se sentindo sozinha? 

Brinquei com a bainha da camisola. - Não quero incomodar você. 

- Você já se desculpou. - Girou a cadeira e fez um breve gesto com a cabeça me incentivando a ir até ele. - E você nunca incomoda, meu anjo.

Não quis parecer desesperada e nem muito entusiasmada, mas foi exatamente o que demonstrei ao ir praticamente saltitando até ele.

Ele estava com a cadeira virada para o lado, me convidando a sentar em seu colo, o que eu já ia fazer mesmo sem convite.

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora