Capítulo 60

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Os dias agora eram mais curtos e as noites se tornaram mais longas. Tão logo as ruas estariam cobertas por finas camadas de neve, porém isso ainda levaria uns dois meses para acontecer.

Não me parecia correto amaldiçoar a chuva rala que persistia a maior parte do dia, depois de ter praguejando contra o sol menos de um mês atrás.
O ser humano é, por sua natureza, ingrato, logo, eu também poderia ser sem carregar peso na consciência.

As estreitas gotas de chuva embaçaram a janela do carro, limitando minha visão a pontos vermelhos e laranjas dos faróis dos outros veículos acentuados pelas trevas da noite sem luar.

O trânsito estava um inferno. Havia contado mentalmente seis minutos desde que tínhamos congestionado atrás da massa de carros.
Por sorte, eu estava me sentindo especialmente mais paciente naquele dia.

Apertei a mão fechada. Senti o couro da luva se esticar nas juntas dos meus dedos.
Olhei para o líquido âmbar girando no copo em minha mão e tive novamente a mente assaltada pelo ressentimento precoce. Não deveria estar ali, indo fazer o que eu sabia, talvez, ser um equívoco.

Eu estava falhando com minha palavra de honestidade, mas não dispunha de muitas opções. As cartas estavam postas na mesa e todas elas indicavam aonde eu iria errar, no entanto não havia como desviar delas, a armadilha estava em todas as trilhas. Só bastava esperar para saber quem iria cair primeiro.

O ardor do álcool trouxe junto o calor que, consequentemente, aqueceu meu corpo quando tomei um outro gole.

Alonguei o braço para o banco à minha frente, oferecendo o copo. - Tome um pouco disso - comandei.

Ela torceu o nariz pequeno e negou movimentando veementemente a cabeça. - Isso é muito forte.

- Bem, claro que é, mas vai ajudar seu corpo a conservar a temperatura.

- O aquecedor do carro está perfeito. - Afastou o rosto da minha mão.

Que mulher tola.

Segurei o copo junto a sua boca e o virei, obrigando-a a beber alguns goles.
Lolla tossiu assim que afastei a bebida de sua boca.

- Você vai matar a moça, Christopher.

Virei o resto do líquido em minha própria boca. - Estou tentando fazer exatamente o contrário.

- Precisamos de um prêmio bacana. Isso eleva a excitação de todo mundo e aflora os ânimos - retomou o assunto. - O que acha do seu DBS?

- Você não vai sortear meu carro de novo. Já perdi um porscher e não estou disposto a perder outro carro. 

- Vamos, Cross, cadê seu espírito natalino? 

- Não estamos no natal - observei seco, embora semanas antes eu estivesse dizendo o contrário.

- Mas será em menos de dois meses. - Jake batucou um dedo no vidro da janela ao seu lado, indicando as luzes coloridas e enfeites remetentes à época natalina que já decoravam algumas lojas e outdoors. - É natal - alegou -, se divirta ao menos nesse ano, diferente dos outros. Já virou uma tradição da empresa oferecer uma comemoração calorosa de fim de ano para todos os funcionários, não vamos falhar agora. 

Olhei através do vidro turvo. - Nunca me dispus a nada disso. Se quiser um grande prêmio para o sorteio que você organiza junto com a celebração todo ano, doe o seu carro.

- Tudo bem, tudo bem. Não vamos por seu carro a prêmio. Vou pensar em outra coisa.

Apreciei o silêncio formado pela quietude de nós três.

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora