Harry enfiou debaixo do meu nariz o iPad e foi passando as imagens para que eu visse.
Foquei minha atenção na sequência de fotos tiradas por ele.
- A localidade do terreno facilita bastante as coisas. A área é aberta sem construções ao lado, então o barulho será um problema a menos. Não vamos incomodar ninguém.
Assenti.
A manhã começava a se aproximar das onze, mas parecia que já tinham se passado umas seis horas desde que cheguei.
Não era agradável me sentir indisposta como eu estava. Eu adorava o meu trabalho e adorava a empresa, apesar do pouco tempo que estava ali, mas hoje não era um bom dia. E esse mal dia se resumia ao meu estado físico e mental.
Não me lembrava de ser tão irresponsável como fui ontem.- Acha que consegue me entregar uma planta técnica dentro de dois dias?
Minha cabeça tombou um pouco para o lado quando fui acenar em resposta.
Harry sentava-se à minha frente e eu em uma das duas cadeiras que ficavam diante da mesa dele.
O cabelo dele era cortado rente à cabeça e no rosto bonito um óculos de armação quadrada e gigante se empoleirava em seu nariz.
Eu suspeitava que ele o usava apenas por vaidade, pois o homem já tinha dado provas de sua visão aguçada sem o uso dele. Me arriscaria a dizer até que sua visão era melhor que a minha, que também era bem boa.
Talvez ele achasse que o óculos lhe dava um ar mais inteligente, apesar dele ser mesmo, ou tão somente porque se sentia mais atraente com ele. De fato, o motivo pouco me interessava.- Preciso ir ao local primeiro para tirar as medidas e todo o resto. - Apoiei meu cotovelo na mesa dele e descansei minha bochecha sobre minha mão.
Os diplomas de Harry reluziam atrás da mesa dele, expostos como um troféu.
Ele era formado em Engenharia Civil, Segurança do Trabalho e Design de Mobiliário.
Esse último título eu havia acabado de descobrir enquanto lia as letras impressas e emolduradas.Mesmo que em uma primeira impressão, Harry aparentasse ser arrogante e esnobe, ele não era nada disso. Claro que às vezes era um pouco convencido, mas sua dedicação ao que fazia o permitia ser.
Particularmente não tinha nada contra ele, pelo contrário, nós nos dávamos bem. Ele fora bem receptivo comigo logo de cara, principalmente quando soube que compartilhávamos a mesma pátria de berço. Eu gostava dele.- Tenho um horário livre hoje às quatro da tarde, posso ocupá-lo acompanhando você até lá. - Houve uma pausa em sua declaração de voz serena. - Você está dormindo, Mel?
A voz dele era tão macia que quase me vi pedindo para que ele cantasse alguma musiquinha tranquilizante e irritante, mas que sempre tinham um efeito de sonolência em quem as ouvia.
Pisquei os olhos, sentindo o peso das pálpebras. - Às quatro. Pra mim é ótimo. - Fiz um alongamento ao ficar de pé. - Estou sem o carro, você vai ter que me dar uma carona.
Vi os olhos castanhos dele examinarem o meu rosto por trás da lente fina dos óculos. - Tudo bem - concluiu.
Andei para a porta, sem conseguir evitar que meus saltos provocassem um barulho de arranhar sobre o piso.
- Ei, Mel. - Harry chamou às minhas costas. - Você deveria puxar sua saia um pouco para baixo se não quiser que a empresa toda veja a liga de sua meia.
Olhei para minhas coxas.
A saia estava encolhida em um dos lados, mostrando uma parte da borda da meia e uma das ligas que se prendia a ela.
Deveria ter ajustado antes de levantar.
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Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]
RomanceO ser humano é mutável e subjetivo. Mas até que ponto as transformações são capazes de nos fazer deixar de ser quem nós fomos? Nada mais é igual. O tempo passou e trouxe consigo muitas mudanças. O medo maior, agora não são mais as lembranças, mas si...