Capítulo 44

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Harry enfiou debaixo do meu nariz o iPad e foi passando as imagens para que eu visse. 

Foquei minha atenção na sequência de fotos tiradas por ele.

- A localidade do terreno facilita bastante as coisas. A área é aberta sem construções ao lado, então o barulho será um problema a menos. Não vamos incomodar ninguém. 

Assenti.

A manhã começava a se aproximar das onze, mas parecia que já tinham se passado umas seis horas desde que cheguei.
Não era agradável me sentir indisposta como eu estava. Eu adorava o meu trabalho e adorava a empresa, apesar do pouco tempo que estava ali, mas hoje não era um bom dia. E esse mal dia se resumia ao meu estado físico e mental.
Não me lembrava de ser tão irresponsável como fui ontem.

- Acha que consegue me entregar uma planta técnica dentro de dois dias? 

Minha cabeça tombou um pouco para o lado quando fui acenar em resposta.

Harry sentava-se à minha frente e eu em uma das duas cadeiras que ficavam diante da mesa dele.
O cabelo dele era cortado rente à cabeça e no rosto bonito um óculos de armação quadrada e gigante se empoleirava em seu nariz. 
Eu suspeitava que ele o usava apenas por vaidade, pois o homem já tinha dado provas de sua visão aguçada sem o uso dele. Me arriscaria a dizer até que sua visão era melhor que a minha, que também era bem boa. 
Talvez ele achasse que o óculos lhe dava um ar mais inteligente, apesar dele ser mesmo, ou tão somente porque se sentia mais atraente com ele. De fato, o motivo pouco me interessava.

- Preciso ir ao local primeiro para tirar as medidas e todo o resto. - Apoiei meu cotovelo na mesa dele e descansei minha bochecha sobre minha mão. 

Os diplomas de Harry reluziam atrás da mesa dele, expostos como um troféu. 

Ele era formado em Engenharia Civil, Segurança do Trabalho e Design de Mobiliário.
Esse último título eu havia acabado de descobrir enquanto lia as letras impressas e emolduradas.

Mesmo que em uma primeira impressão, Harry aparentasse ser arrogante e esnobe, ele não era nada disso. Claro que às vezes era um pouco convencido, mas sua dedicação ao que fazia o permitia ser. 
Particularmente não tinha nada contra ele, pelo contrário, nós nos dávamos bem. Ele fora bem receptivo comigo logo de cara, principalmente quando soube que compartilhávamos a mesma pátria de berço. Eu gostava dele.

- Tenho um horário livre hoje às quatro da tarde, posso ocupá-lo acompanhando você até lá. - Houve uma pausa em sua declaração de voz serena. - Você está dormindo, Mel?

A voz dele era tão macia que quase me vi pedindo para que ele cantasse alguma musiquinha tranquilizante e irritante, mas que sempre tinham um efeito de sonolência em quem as ouvia.

Pisquei os olhos, sentindo o peso das pálpebras. - Às quatro. Pra mim é ótimo. - Fiz um alongamento ao ficar de pé. - Estou sem o carro, você vai ter que me dar uma carona.

Vi os olhos castanhos dele examinarem o meu rosto por trás da lente fina dos óculos. - Tudo bem - concluiu.

Andei para a porta, sem conseguir evitar que meus saltos provocassem um barulho de arranhar sobre o piso.

- Ei, Mel. - Harry chamou às minhas costas. - Você deveria puxar sua saia um pouco para baixo se não quiser que a empresa toda veja a liga de sua meia. 

Olhei para minhas coxas. 

A saia estava encolhida em um dos lados, mostrando uma parte da borda da meia e uma das ligas que se prendia a ela.
Deveria ter ajustado antes de levantar. 

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora