Capítulo 49

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Espalmei minhas mãos no vidro frio da porta para estabilizar meu corpo. O peso das palavras dele me atingiram de forma a me deixar desequilibrada.
O encarei até minha visão se tornar embasada e implorar pela lubrificação da pálpebra. Então pisquei, e uma lágrima rolou junto.

Não, não é verdade. Ele só pode está se confundindo. 
Mas pra quê a negação? Claro que ele está dizendo a verdade! 
Isso tudo não passava de uma armação na qual Christopher era o cúmplice ativo. Atropelando minhas decisões sem nenhuma consideração. 
Ele não deveria ter feito isso. É quase como uma traição. 

Fechei os olhos para não ver o homem diante de mim que acabara de se intitular como meu pai. 
Eu não queria conhecê-lo. 

- Sou seu pai - repetiu, agora em um sussurro.

Essas palavras na boca dele soavam como uma ofensa. 

A porra de um grande pai.

- Não me importo. - Ergui a cabeça e o encarei. - Não quero saber nada sobre você. Achei que já tivesse sido avisado disso. 

Eu olhava para aquele homem de frente a mim e não sentia nada. Não o reconhecia como sendo nada além de um estranho, no entanto, eu estava chorando.

- Não vamos nos precipitar, por favor, só quero reparar meu erro, Mel. - Tentou tocar em mim de novo, mas me esquivei.

- Acha que pode consertar alguma coisa depois de tantos anos? Afinal, o que o senhor sabe da minha vida? 

Os olhos deles se entristeceram ainda mais. Agora eu percebia que eram estranhamente parecidos com o meu. - De tudo que há para saber. - Quebrou a distância entre nós. Segurou meus braços e os alisou. - Seria impossível expressar a raiva, a dor e a culpa que eu venho sentindo desde que descobri tudo o que você teve que passar. Estou ciente de que não posso consertar nada do que já foi feito, mas agora que sei que tenho uma filha, eu tenho o direito de tentar ter seu carinho e seu amor. 

Comecei a tremer com aquele contato, então me livrei das mãos dele. - Você não tem nenhum direito! Foi fácil me largar e fingir que eu nunca existi, né? Agora não queira recurar algo que nunca se deu ao trabalho de ter - cada palavra era pronunciada aos berros junto às lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas. - Cadê o Christopher?

- Eu não sabia da sua existência, Mel. Sua mãe escondeu esse fato de mim durante todo o tempo, sequer pois meu nome em seu registro. Como eu poderia ter sido informado quando você ficou aos cuidados da justiça? Eu nunca soube de nada referente a alguma filha que tive, até pouco tempo. Quando voltei para a Rússia há quase um ano para cuidar de um caso específico, tive acesso a todos os registros anteriores de vários anos atrás sobre casos de abandono de crianças, entre eles estava o seu. De início, reconheci o nome da Kênia dentre vários casos. No momento pensei que se tratava de algum filho que ela tinha tido depois que nos separamos, mas analisei o seu nome com o mesmo sobrenome que o meu. A data de nascimento também coincidia com a do tempo que estávamos casados, além de ser a mesma do dia em que ela me informou que havia perdido o bebê. Mas era tudo mentira. Você não tinha morrido ao nascer como ela jurou ter sido - fez uma pausa para avaliar minha reação. 

Procurei algum lugar para sentar. Não estava mais aguentando ficar de pé com as pernas trêmulas daquele jeito.

O que era tudo isso? Um conto para dormir? Uma mera justificativa sem coerência.

Ele puxou uma cadeira e se sentou de frente a mim no sofá. 

Não quis olhar para ele, porque ele tinha no rosto o retrato da dor e arrependimento. Como se para ele fosse mesmo possível sentir mais dor do que eu senti e estava sentindo.
A vítima da história não era ele. 
Não importava o que ele tinha para dizer, eu não o perdoaria. Como poderia? 

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora