Capítulo 61

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Os músculos do meu indicador tensionaram para obedecer os desejos primitivos da minha mente.
Eu tinha em minhas mãos a decisão de acabar com tudo aquilo naquele mesmo instante. 

Visualizei a cena.
Um único movimento e tudo teria um fim. 

Quase tudo...
Se as coisas fossem simples assim...

O que eu estava disposto a conceder, afinal?
Eu sabia que muito. E eu tinha ciência que ele também sabia. Nós dois sabíamos disso... E isso me desfavorecia no jogo.

O ser humano mais perigoso é aquele que não tem nada a perder. Eu tinha bastante, mas não me importava em perder a maioria, e isso era tão audaz quanto.

Com a arma apontada para o rosto dele, tracei no ar o contorno da cicatriz que descia pelo queixo até sua garganta. - Diga aonde ela está.

Iuri Dostoiévski se moveu saindo da minha mira. Aproximou-se de um sofá puído. 

- Isso seria fácil demais.

- Estou apenas lhe dando a escolha mais sensata. Você sabe que não preciso da sua ajuda para descobrir isso.

- Talvez não, mas quanto tempo isso lhe custaria? Será que daqui até lá ela ainda estará em perfeito estado? - Abriu a maleta sobre o sofá. - Já que você tem tanto interesse nisso, vamos negociar algumas coisas.

Dei uma risada fria e pesada, como se tivesse acabado de ouvir uma piada. - Não esteja tão certo disso. Isso apenas me convém indiretamente.

Ele ergueu um papel quadriculado. Uma foto. 
Mesmo de longe minha visão era clara.
Mostrava um rosto jovem e sorridente. Fios longos de cabelos voavam em torno do rosto pálido. Tão claros que chegavam a ser quase brancos. Olhos grandes de um azul impressionante, que naquele momento me encaravam congelados.

- Você não pode ter tudo, Cross. Você a quer encontrar, então faça sua escolha. - Assumiu o tom sério, diferente do anterior. - Meu problema não é com você, mas você vem atrapalhando meus objetivos por muito tempo, acho que já basta. Saia do meu caminho, Cross, esse é um assunto pessoal de muito anos que não interessa a ninguém mais. E isto não é um pedido. - Hesitou e deu alguns passos para o lado. - Façamos uma troca - sugeriu.

Ergui uma sobrancelha, mas me mantive inalterado sem pronunciar qualquer incentivo para que continuasse.

Dostoiévski sacudiu a foto no ar. - Você a está procurando e eu posso fornecer essa informação. Olhe bem pra essa coisinha. - Sorriu. - Não é linda? Garanto que é ainda mais encantadora pessoalmente e também disponível. Você pode ficar com ela. Mas você não pode ter tudo, Cross - repetiu. - Você fica com uma e eu com a outra. Nenhuma mulher vale tanto da parte de um homem, saia do meu caminho e em troca você terá uma ainda mais maravilhosa e não terá problemas comigo. Considere isso como uma gentileza da minha parte.

Deixei a arma escorregar de volta para dentro do meu bolso.
Ele não tinha percebido, mas acabara de cometer um deslize que o expunha.
Me aproximei de uma abertura quadriculada que poderia ser uma janela. Só se via as silhuetas das árvores mescladas à escuridão da noite. 

- Isso é tudo? Esperava mais - pronunciei calmamente.

- Você está no meio de uma guerra que não deveria estar. Isso se trata de um assunto pessoal de muitos anos e não pretendo adiar novamente. - Ele estava sendo repetitivo. Esse era mais um sinal. - Sabe o que aconteceu com o último que se intrometeu? - Não podia ver, mas sabia que ele estava sorrindo. - Ymep. Morreu como um verme. Nas histórias os vilões sempre são derrotados, mas na vida real são os mocinhos que acabam perdendo.

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora