Capítulo 63

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O caminho percorrido até ali foi cego, surdo e barulhento ao mesmo tempo.
O brilho dourado do sol da manhã banhava as pontas dos prédios como um manto quente carregando esperança de um novo dia que nascera. A rua ainda não tinha sido alcançada pelos raios solares. Havia poucos carros transitando. A cidade que nunca dormia começava a despertar. 

O BMW era como uma bala entre os outros veículos que percorriam a avenida sem muita pressa. Talvez nenhum dos outros motoristas e passageiros estivessem a caminho de uma desfortuna como nós. 

O vento frio matinal soprava contra meu rosto através da janela do carro aberta, mesmo assim minhas narinas tinham dificuldades de inspirar o ar. 
Estava me faltando oxigênio e minha cabeça começava a ficar lesada. 

Já tinha esgotado meu estoque de lágrimas. Chorei baixinho encolhida no canto do carro desde o momento em que entrei nele. Agora escorria um líquido transparente pós choro do meu nariz.
Era vergonhoso, mas as pontas agora curtas do meu cabelo estavam grudando nisso. 
Um momento como aquele dispensava qualquer regra de elegância. Passei o braço sobre minha boca limpando com a manga do moletom meu desespero pegajoso. Fechei os olhos e deitei a cabeça latejante contra o encosto do banco.

Christopher segurou minha mão e a apertou. Era um apoio silencioso ao meu lado. Assim era ótimo, não estava a fim de ouvir palavras tranquilizadoras vazias.

Apesar da distância até ali ser considerável, chegamos em um tempo mais curto do que seria o previsto.

Saí flutuando do carro, não senti o chão, mas estava caminhando tão depressa que a possibilidade de tropeçar era alta.
O corredor era longo e largo. Dava pra ter uma boa visão do ambiente em que ele levava. 

Todos pareciam já estar lá. 
Cada um com seu próprio modo de lidar com aquela situação. Movimentos discretos de mãos, batidas no chão frio com as pontas dos pés, olhares fixos ou impacientes, passadas de dedos rápidas no cabelo, entretanto, compartilhávamos o mesmo motivo por estarmos ali.

Eu não estive em todos os hospitais, mas em todos que estive, embora não fossem muitos, tinham o mesmo cheiro. 
Uma mistura desagradável de produtos de limpeza e algo mais suave... Álcool, formol talvez? Não sabia definir com clareza, mas era um cheiro único. 

Contei três rostos desconhecido quando me aproximei do grupo.
Jhon saiu do lado de Lily que estava sentada e veio até nós. 

Agarrei os braços dele coberto com um casaco pesado e o sacudi como se desse jeito as informações que eu precisava fossem sair dele. - Onde ela está? Você precisa me dizer como ela está. Como isso foi acontecer? - Minha voz estava falhada e rouca. - Meu Deus, Jhon, você precisa me dizer o que aconteceu.

Christopher já havia me passado as informações básicas do ocorrido conforme foi dito a ele através do rápido telefonema. Eu sabia o que tinha acontecido, mas precisava ouvir de novo para que meu cérebro se convencesse da verdade.

- Você tem que se acalmar, Mel. Todos estamos muito tristes e incrédulos, mas tem gente aqui que está numa condição pior que a nossa, não vai ajudar mais uma pessoa histérica.

Olhei para o canto da sala e foquei nos rostos angustiados das quatro pessoas sentadas ali. Judy Mitchell, Evans Hayes e Enrico Mitchell eram as três pessoas que eu conhecia, a outra mulher devia ser algum outro parente.

Enrico, padrasto da Evie, abraçava a mãe de Evie enquanto sussurrava no ouvido dela tentando tranquilizar a mulher que chorava de forma escandalosa. Evans, com sua característica personalidade reservada, o oposto da irmã, apoiava-se na parede com a cabeça baixa e as mãos enfiadas nos bolsos. 

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora