Capítulo 12

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Aquela era uma parte dele que eu nunca havia visto. O brilho de ódio injetado em seus olhos e o tom de voz hidrófobo, foram tenebrosos.
Mas me mantive neutra. Não deixaria que sua raiva pela minha presença, me desestabilizasse.

Se eu ainda mantinha alguma esperança de que ele poderia estar diferente, ela não existia mais.
Foi cruciante suas palavras para mim, mas não poderia me dar ao luxo de me sentir mal por elas. Christopher, inegavelmente, me desprezava e perceber isso era algo doloroso como uma adaga cravada no meu peito. 
Se eu me deixasse levar pelas emoções, estaria abrindo uma brecha para tudo aquilo que lutei contra todos esses anos. 

Tentar ignorar seus olhares direcionados a mim durante o decorrer do resto da noite, foi uma forma de me manter passiva e controlada.

Quatro e vinte da manhã, e eu ainda não havia dormido. Rolava na cama de um lado a outro. Os pensamentos não me deixavam sossegar.
Às cinco e dez, desisti de tentar dormi e fui para a cozinha preparar um café forte e amargo. 

Estava irritada comigo mesma, por deixar que ele acabasse, em apenas uma noite, com os anticorpos contra sentimentos, que pensei ter adquirido durante todo aquele tempo.

Evie entrou na cozinha, esfregando os olhos. Ela tinha passado a noite no meu apartamento, já que não podia voltar para San Diego às uma da madrugada.

- O que está fazendo acordada às cinco da madrugada? - Bocejou e se empoleirou em uma das banquetas vermelhas.

Ela vestia uma calça de linho bege e uma blusa de seda azul sem manga. O cabelo meio desalinhado, denunciava que ela havia se arrumado entre a lucidez e o sono.

Dei de ombros. - Já são quase seis da manhã. 

- E você não tem que ir trabalhar. - Ela encheu uma caneca com o café que eu tinha feito, fazendo uma careta ao provar um gole. - Isso tá horrível! Cadê o açúcar?

Apontei para o armário de cima. 

Notei que os sapatos dela estavam em pés invertidos.

- Vocês têm que parar de ir e vir de San Diego a Nova York como se fossem cidades vizinhas. São quase cinco horas de voo.

Ela fez uma careta e voltou a sentar. - Não vejo a hora de voltar definitivamente para cá. Falta apenas essa semana. - Mexeu o café. - O que vocês dois conversaram? Achei que teria que intervir com a polícia, até Jhon aparecer.

O café caiu como uma pedra no meu estômago. Não queria falar sobre aquilo.

Suspirei, demonstrando meu descontentamento. - Acho que ele queria me chutar da cidade. Ou do país. Não tentou ser discreto ao demonstrar seu desagrado com a minha volta.

Era ainda mais pungente externar os fatos.

Evie me olhou suspicaz com os lábios puxados para o lado. - O que houve entre vocês dois?

- Eu acabei de dizer. Nós...

- Não ontem - me interrompeu. - Quero saber o verdadeiro motivo para vocês dois terem terminado anos atrás. 

Ela estava ajudando a deteriorar o meu estado de espírito, tentando reviver assuntos em terrenos que eu mesma evitava sondar.
Remexer em qualquer parte que fosse do meu passado era um tabu estabelecido por mim. Isso contribuía para manter minha mente sã e salva.
  
- Nada. Só o que já contei.

Ela apontou a colher para mim. - Eu não engulo isso. Você pode tentar enfiar essa merda na cabeça de outra pessoa, mas em mim não funciona, Mel. Sou sua amiga desde que tínhamos quinze anos. Isso dá o quê? - Ela pensou um pouco. - Nove anos de convivência. E você acha que consegue mentir pra mim? Vamos, comece a dizer a verdade.

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora