Um choque de realidade e compreensão passou pelo rosto dele. Um músculo se moveu em sua mandíbula.
Sorri por dentro, por dessa vez não ter sido eu a pega de surpresa.
Maneei a cabeça. - Não vai me convidar para sentar?
Ele piscou como se voltasse para a atualidade. Fez um breve gesto com a mão indicando uma das cadeiras em frente à sua mesa. - Sente-se, por favor.
Andei até lá, obrigando as minhas pernas a me obedecerem. Sentei no estofado macio de couro preto da cadeira.
O cheiro dele invadiu minhas narinas. Ainda era o mesmo. Másculo e refrescante. Puxei a bainha da saia para baixo.
Não vá surtar agora, Mel. Por Deus!Christopher sentou em sua cadeira, descansando um braço sobre a mesa. A mão estava fechada. Uma abotoadura de prata cintilava no punho da camisa.
Ele parecia tão desnorteado quanto eu estava.
Era uma situação estranha para nós dois.Ele me olhava com as sobrancelhas um pouco juntas em confusão. - Você é a Arquiteta responsável - absorveu o fato.
- Sou - respondi mesmo sabendo que não foi uma pergunta.
- Você não era Designer?
Eu não iria de modo algum ficar de papo afiado com ele. O quanto antes saísse dali, seria melhor.
Cruzei as pernas. - Me chamou para perguntar sobre a minha formação acadêmica ou sobre algo mais importante?
- Não - suspirou e se recostou contra a cadeira. - Só não imaginei que fosse você.
Meus olhos foram atraídos pelo pedaço de pele exposta do seu pulso por baixo do terno.
- Você pretende ficar na cidade? - As perguntas dele eram feitas em tons de reflexão interna.
Ouvir a voz grave dele tão perto de mim era quase espectral. Não deixara de ser familiar. O meu corpo e meus sentidos a reconheciam mesmo de longe.
Abri um sorriso, sem saber ao certo o motivo. - Isso incomoda você? - Desafiei.
Seus olhos desceram pelo meu pescoço, se detendo no último botão aberto da minha blusa, aquele olhar causando um rastro quente sobre a minha pele.
Olhou para mim novamente com sua habitual seriedade. Um pouco mais do que o normal. - Tão sarcástica, Melyssa. Não lembro de você ser assim. - Ele se inclinou brevemente para a frente. - Mas afinal, será que eu conhecia quem você realmente era?
Sua voz sombria não me intimidou. Era eu quem deveria fazer essa pergunta a ele.- Vou pedir que nos tratemos formalmente e que seja breve com o que tem para falar comigo, Sr. Cross - falei o mais friamente possível.
- Ótimo, Srta. Vyssótski. - Se endireitou e cruzou os braços, fazendo o paletó definir os seus braços por baixo. - Pedi que a chamasse, pois gostaria de saber quanto tempo a obra durará. Os sons podem atrapalhar a rotina da minha empresa em certos horários de reuniões, então, se não for ser muito atrevimento da minha parte, agradeceria que a sua equipe não trabalhasse no forro da área sul na parte das duas às três da tarde.
Olhei para longe. Para um dos edifícios atrás dele, como se estivesse considerando seu pedido. - Farei o possível.
- Qual estimativa da duração da obra? - Batucou com a caneta sobre a mesa.
Dei de ombros. - Dois meses, talvez.
Duraria, aproximadamente, um mês e não dois, mas ele não precisava saber disso.
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Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]
Lãng mạnO ser humano é mutável e subjetivo. Mas até que ponto as transformações são capazes de nos fazer deixar de ser quem nós fomos? Nada mais é igual. O tempo passou e trouxe consigo muitas mudanças. O medo maior, agora não são mais as lembranças, mas si...