Capítulo 80 |Último|

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Christopher me olhou com determinação. - Ele está morto.

Era como eu pensava...
Os últimos acontecimentos que eu presenciei estavam fresco na minha memória, embora, no momento, estivesse quase cega e surda.

- Quem o matou? - Inquiri.

Ele não respondeu.

- Eu ainda estava uns dez por cento consciente no momento, Christopher. Havia mais de uma pessoa. Não conseguia enxergar com clareza, mas contei outras cinco pessoas, além de Iuri. Uma delas eu sei que foi você. Sei também que Jhon e Gregory estavam lá, reconheci a voz deles. Quem eram as outras duas pessoas?

- Presto Maguire e Gavin - disse.

- Quem matou ele? É estranho porque tenho certeza de ter ouvido mais de um tiro. Parecia vários ao mesmo tempo. O que aconteceu exatamente?

Ele suspirou relutante. Soltou a minha mão com cuidado e ficou de pé.
Sua postura era rija.

- De fato houve mais de um tiro - começou. - Seguimos um plano quando chegamos, Mel. Fomos todos prevenidos para vários cenários possíveis. Nós cinco estávamos com armas idênticas, munidas com o mesmo tipo de bala. Também calçamos botas iguais com numeração única. Atiramos todos ao mesmo tempo. Cada um atirou em uma direção diferente, um na árvore, outro no chão... Apenas um de nós deu o tiro de morte. Houve só uma única bala que o acertou. Desse modo, ninguém, além de nós cinco, irá saber quem foi o responsável pela morte de Iuri Dostoiévski.

Processei o que ele disse.
Franzi a testa tentando entender, mas ele explicou antes que eu pudesse questionar novamente:

- Todos nós tínhamos resíduo de pólvora nas mãos. Será impossível para qualquer um dizer quem matou aquele miserável. Não há como determinar a posição de cada um de nós pelas pegadas, pois usávamos o mesmo tipo de calçado. As cinco armas foram usadas ao mesmo tempo, então eles também não vão poder trabalhar em cima disso, pois não dá para determinar de qual arma saiu a bala que o acertou.

- Mas e se vocês se complicarem por isso?... - Perguntei angustiada.

Christopher sorriu com tranquilidade. - A polícia não pode incriminar cinco pessoas por uma morte que foi causada por apenas uma. Como eu falei a você, eles não tem como determinar de quem foi a bala. Fomos chamados para uma audiência há dois dias. As coisas são totalmente favoráveis para nós, além disso temos ótimos advogados, Mel. A promotoria já deu sinal de que o caso será encerrado por falta de provas e interesse processual. Não absolutamente nada para você se preocupar.

Uma onda de alívio invadiu o meu peito. Mas ainda restava uma questão...

- Quem realmente o matou? - Insisti ansiosa.

Ele se aproximou do lado da minha cama. Passou a mão sobre a minha testa. - Você não precisa saber quem foi, meu anjo. Vamos deixar esse detalhe em segredo. É melhor para você assim.

Assenti.
No final, não importava quem tinha sido.
Christopher, Gregory e Jhon eram as pessoas que tinham os principais motivos para fazer isso. Mas eu sabia que poderia também poderia ter sido Presto ou Gavin. Os dois eram leais a Christopher e eram as duas pessoas que menos tinham motivos, o que os tornava um alvo menor e como consequência as melhores escolhas.

Respirei fundo.
Eu nunca iria saber quem tinha sido...

- Acho que está na hora de avisar aos médicos e ao pessoal que você acordou. Estão todos ansiosos querendo vê-la.

Olhei para o rosto de Christopher.
Seu olhos acinzentados brilharam quando eu toquei a sua face.
Meu coração palpitou fortemente quando me dei conta de que tinha quase ficado sem ele. Mas agora ele estava ali. Eu estava ali.
E eu ficaria para sempre ao lado dele.
Senti o amor que eu sentia por ele aquecer a minha alma como um sol de verão. Era um amor tão imenso que chegava a doer.
Tudo parecia estar certo ao seu lado.
Ele fora a cura em vários aspectos da minha vida. Graças ao seu amor, as cicatrizes do meu passado foram fechadas. E permaneceriam assim, pois eu sabia que ao lado dele eu poderia vencer qualquer obstáculo.

Ele colocou a mão sobre a minha. Naquele momento eu tive certeza de que o futuro reservava coisas lindas para nós.
Sim, eu sabia que haveriam dificuldades ao longo do caminho a serem enfrentadas, mas nós conseguiríamos.

- Sonhei com você - sussurrei.

Ele arqueou uma sobrancelha divertido. - E como foi?

Sorri lembrando do sonho. - Nele você me dizia coisas lindas. Depois eu conto tudo a você. - Fechei minha mão em torno do dedo indicador dele e balancei nossas mãos. - Você sabia que tem uma roseira que cobre a parede de uma catedral na Alemanha há ano e anos?

- A catedral da cidade de Hildesheim - confirmou. - A roseira está lá há mais de mil anos, um fato impressionante.

Assenti sorrindo.

Christopher beijou a minha testa. - Vou pedir para seu pai entrar. Volto mais tarde para dar banho em você e passar remédio nas suas feridas.

Ergui as sobrancelhas. - É você quem está cuidando delas?

- É claro. Todos os dias limpo seus cortes, passo remédio, dou banho de gato em você e penteio seus cabelos. Seu desembaraçar seus cabelos muito bem - falou orgulhoso.

Não tinha como amá-lo ainda mais.

- Eu te amo, Christopher - afirmei com todo o amor que sentia.

Ele se curvou. Depositou um beijo doce sobre os meus lábios. - Vou amar você além dessa vida. - Acariciou minha bochecha. - Mais tarde nos vemos, minha futura esposa.

Meus olhos se apertaram para dar espaço ao largo sorriso. - Até mais tarde, meu futuro marido.

Observei ele sair do quarto e fechar a porta.
Já estava contando os minutos, ansiosa para o nosso mais tarde.

Dois minutos depois da saída de Christopher, Gregory entrou.
Seus olhos azuis estavam marejados e seu nariz inflava contendo o tremor em sua respiração.

Minha alma se encheu de luz com uma sensação que eu nunca havia experimentado antes.

Ele se aproximou rapidamente de mim. Segurou minhas mãos de modo desesperado e eufórico. - Mel, você está aqui! - Deu vários beijos nas costas das minhas mãos. - Você voltou para nós, filha. Meu Deus, você está realmente aqui. Você não sabe o quanto eu rezei por isso.

Apertei suas mãos com o coração disparado. - Papa.

Vi seu peito se enchendo de ar. Me olhou com a emoção transbordando de seus olhos. Seus ombros tremeram sem conseguir mais segurar o choro.

- Diga de novo, minha filha - pediu com a voz rouca. - Fale de novo, por favor.

Funguei. Eu também estava chorando. - Papa. Que bom que está aqui comigo.

Alisou meus cabelos, envolvendo meu rosto com as duas mãos. - Eu sempre estarei, filha. Seu papa sempre estará com você.

Movi a cabeça freneticamente em afirmação. - Eu te amo, pai. Me perdoe se eu não disse isso antes - minha voz saia rouca. - Eu o amo. Por favor, não se afaste de mim. Não quero ficar sem o senhor de novo. Por favor, papa... - Solucei.

Ele beijou minha testa, molhando minha pele com suas lágrimas. - Nunca irei deixá-la. Você é meu tesouro, tudo o que eu tenho de mais precioso. Eu amo você, Mel. Amo você mais que tudo, minha menina.

Envolvi meu braço em seu ombro, o abraçando da melhor forma que minha condição permitia.
Chorei soluçando em seus braços.
Era um choro de pura emoção. De verdadeira felicidade.
Eu me sentia em paz.
Estava, finalmente, completa. Preenchida.
Não me faltava mais nada.

Eu não podia reescrever minha história e apagar as coisas ruins que vivi no passado. Mas eu tinha em minhas mãos o poder de escrever páginas novas a cada dia. E seria isso que eu faria.
A empolgação de viver o futuro fez meu estômago alçar voo. Ele era incerto em toda a sua magnitude, mas eu tinha algumas certezas para carregar comigo. E era isso que não me deixava ter medo.
De repente, o amanhã parecia uma esperança. Era entusiasmante.

Fechei os olhos contente, ainda agarrada ao meu pai.
Estava ansiosa para ver todos os outros também. Torcia para que chegassem logo...






Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora