Capítulo 16

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Minha consciência estava submersa em algum buraco fundo e escuro. Havia um enorme nó na minha garganta, e uma angústia caiu como uma pedra fria no meu estômago. Algo não se encaixava em nada daquilo. 

Inspirei profundamente e fechei os olhos com a cabeça apoiada contra o encosto da cadeira.
Repassei mentalmente cada palavra dita entre nós dois. Cada vírgula, cada hesitação. 

Me agarrei à sensação de ter seus lábios macios contra os meus de novo, como foi surreal poder, depois de tanto tempo, ter seu corpo tão junto ao meu, ao alcance das minhas vontades. Tentei prolongar aquela nostalgia, mas a culpa pelas minhas palavras não me deixaram em paz.

- Acabei de esbarrar com ela agora pouco. Vocês estavam conversando, não foi?

Eu quis feri-la. Machucá-la como ela tinha feito comigo. Queria vê-la sem palavras, sem defesas, totalmente vulnerável ao meu ataque. O instinto de vingança falou mais alto que meu bom senso. 

Estava me sentindo um covarde filho da mãe. Não merecia perdão. Nada justificava tal ato, nem mesmo a traição. 

- Sua bochecha direita está vermelha. As duas estão. O que aconteceu, Christopher? Aquela mulher bateu em você? Sempre soube que ela era uma louca desequilibrada. 

Meu orgulho precisava ser deixado de lado. Não dava mais para viver às sombras. Mesmo se não existisse nenhuma luz, eu tinha que procurá-la. Era hora de considerar a aceitar menos que o todo. 

Não havia sentido, era algo irreal e incomum continuar amando alguém depois de anos.  
Poderia ser o desafio que ela representava ou o meu orgulho masculino que não permitia que uma mulher me dissesse não. O fato é que eu nunca fui desses.

Me agarrar a essa conclusão era uma mendacidade e eu tinha ciência.

- Você está me ouvindo?

Não dava mais para ficar de braços cruzados. 

- O quê, Claire?

- Eu disse que as portas do seu escritório estavam trancadas quando tentei entrar. - Sentou no meu colo e beijou meu rosto. - Você precisa de uma mulher que saiba cuidar de você, Christopher. Não pensa em se envolver com ela de novo, não é mesmo? Você merece coisa bem melhor.

- Do que mesmo que você está falando? - Tirei ela da minha frente e abri minha agenda no computador.

- Da Melyssa, é claro. Ela não serve para um homem como você. Eu nem sei o que você havia visto nela, mas ainda bem que percebeu seu erro a tempo.

Ignorei o que ela continuava a dizer. Teria mais três compromissos àquela tarde, que poderiam esperar para outro dia. 

Apertei um botão no telefone. - Lolla, cancele o resto dos meus compromissos de hoje, por favor. Vou sair e não volto mais à tarde. 

- Devo cancelar também a reunião externa com o grupo O'Rilley?

- Sim, diga a eles que será remarcada para o início da próxima semana.

- Certo, Sr. Cross.

- Termine o que tem para fazer e depois está dispensada.

Disquei um número e esperei que atendesse.

A resposta veio no terceiro toque. - Christopher, o que me conta? 

- Teria disponibilidade agora às duas? Estou disposto a ouvir sua opinião.

Distingui o som abafado da sua risada arrogante. - Posso arrumar algum.

- No Per Se?

- Você paga a conta.

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora