Capítulo 78

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Seus olhos gelados me encararam. - Não sou, não. É necessário coragem para fazer tudo o que eu fiz, até eu reconheço isso. E não, não me arrependo.

Meu estômago se revirou como um redemoinho. Franzi a testa tentando deixar minha visão focada. 
Comecei a ter espasmos pelo corpo todo. 
Dobrei as pernas, mas elas deslizaram para baixo. Eu estava perdendo minha coordenação motora. 

- Você não - puxei o ar de forma irregular - pode fazer isso comigo. 

A visão dele diante de mim ficava cada vez mais turva.

- Já está feito. Não há mais salvação para você. Descanse agora, Mel. Logo isso acabará.

- Seu maldito! - Gritei o mais alto que podia. - Seu maldito... - Solucei.

Algo quente escorreu pelo meu nariz. Vi o sangue pingar sobre o meu colo. 

- Parece que seu coração vai ser o primeiro a te matar.

Emiti um grito agonizante. Eu estava queimando por dentro.
Meu peito estava doendo demais. Não estava mais conseguindo engolir minha saliva. Parecia que minha garganta fechava aos poucos. 
Respirar, agora, era a tarefa mais difícil que já enfrentara. 

- Adoraria ficar para ver sua morte, mas tenho que ir. Não fique com medo por ficar sozinha. Não tenha medo de morrer.

Eu não conseguia mais ouvir com clareza.  
Minha cabeça tombou para trás. Meu corpo tremia. Sentia o veneno ardendo nas minhas veias. 
A dor era insuportável. 
Meu corpo se debateu contra as cordas de forma involuntária. 
Gritei sentindo meus pulmões arderem.

Sons altos chegaram até meus ouvidos em forma de zumbido. Eram altos demais. Machucavam.
Vários pontos desfocados se mexiam no meu campo de visão débil. 
Reconheci o barulho de vozes. Era mais de uma voz.
Lutei para conseguir apurar meus sentidos.
Fechei os olhos fortemente e os estreitei. 

Seis pontos se moviam. 
Eu não conseguia reconhecer o que eram. Se mexiam muito rápido. 
Me concentrei em ouvir, já que minha visão não era mais útil.
Entrei em alerta quando processei uma delas. Parecia ser a de Gregory... 
Meu coração acelerou ainda mais. 
Ouvi, em seguida, a voz de Jhon. Sim, só podia ser a dele. 
Depois que os meus ouvidos conseguiram se adaptar, foi mais fácil filtrar os sons.

- Não deixe o seu DNA, Christopher! Solte ele antes que você o mate! - Consegui entender uma voz estranha gritar.

Senti um toque leve pairar sobre o meu braço. 
Meu corpo se retesou pela dor em meu peito. 

- Ela está começando a ter convulsão! Em instante vai entrar em parada cardíaca! - Gritaram ao meu lado. - Vamos acabar com isso logo! Ela não vai resistir mais de um minuto. - A pessoa se afastou.

Se seguiu um alvoroço desfocado e, logo em seguida, ouvi um barulho ensurdecedor de vários tiros ao mesmo tempo. 
O som agudo foi o fim para mim. 
Não consegui mais ouvir.

Antes de fechar os olhos por completo, senti o calor familiar de um toque no meu rosto. Soube na hora de quem era. Então, algo pontiagudo furou o meu braço, queimando minhas veias como chamas. 
Depois disso não senti mais nada. 

.

Algo quente esquentava a minha pele. Era reconfortante e sereno. 
Abri os olhos e dei de cara com o sol cobrindo o meu rosto. Sorri. 
O céu estava tão límpido quanto uma tela pintada unicamente de azul celeste. 
Ergui ainda mais o rosto, sentindo a brisa soprar contra minha pele morna.

Eu era capaz de ouvir ar as batidas do meu coração. Ele palpitava em um ritmo musical. 
Respirei profundamente enchendo meus pulmões de ar puro.
Sorri novamente porque era algo incontrolável. 
Eu estava feliz. Em paz.

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora