- Vim dar minha avaliação. - Indiquei com o copo algumas mesas. - Vejo que contratou serviços novos.
Parker Lovisetti cruzou os braços tatuados. - São lindas, não é? Além dos negócios, isso ajuda os homens solitários da noite. Assim como você. O que me admira. Não trouxe nenhuma mulher?
- Acho que estou solitário, segundo as suas definições.
- Mas isso pode ser resolvido. - ele sentou ao meu lado e pediu uma bebida. - Nenhuma das minhas garotas o agradaram? A Mandy e a Joy estão de olho em você. - Apontou uma loira. - A Joy tem um papo agradável, você iria gostar da companhia dela.
Virei o copo e voltei a encher. - Não tenho dúvidas. Mas vou me manter assim por enquanto.
Parker esticou as pernas coberta por uma calça jeans propositalmente rasgada. - Em um bar as notícias correm logo. - Virou-se com seu sorriso de predador. - Você está dando o que falar ao pouco tempo que chegou. Não é sempre que aparece por aqui um cara vestido com um terno de marca e ostentando poder. Não demorei para ser avisado da sua presença.
- A porra da minha roupa me condena.
Ele entornou um copo da minha bebida. - Puta que pariu! - Ergueu o copo. - Quem diabos você está tentando esquecer?
Fiz um gesto pedindo outra garrafa. - A maldita reunião que tenho às oito da manhã.
O meu plano inicial não era acabar bêbado, todavia foi o que aconteceu.
Ainda mantinha minha consciência, mas em contrapartida uma parcela dos meus sentidos estavam conturbados.- Maldição!
Mesmo com a mente desnorteada, meu bom senso de não dirigir bêbado, me impediram de entrar no carro.
De qualquer forma possível eu teria que estar perfeitamente sóbrio amanhã bem cedo.- Você é filho da puta idiota. - Sentei em uma calçada.
Minha cabeça girava um pouco. Esperaria até uma hora para estabilizar meu senso de direção e iria embora.
As ruas eram pouco iluminadas, com pouca circulação de pedestres.- O senhor está bem?
- Não - resmunguei sem olhar o intrometido.
- Precisa de ajuda? - Insistiu.
Me inclinei ligeiramente para frente e apoiei os antebraços na coxa. - Não será você que irá me ajudar, não é?
Tinha consciência de que estava sendo um cretino, mas minha irritação era maior do que ela.
Olhei para cima. Ao meu lado estava uma mulher de estatura baixa, pele bronzeada e um sorriso simpático no rosto.
Ela abaixou-se ao meu lado. - O senhor não parece estar ferido. - Seus grandes olhos castanhos claros me avaliaram. - Está bêbado? Bem - continuou ao não obter respostas -, não imagino o que um homem como o senhor poderia está fazendo nesse bairro.
Ela, definitivamente, era insistente.
- Não precisa me chamar de senhor a cada frase pontuada.
- É assim que se dirige a um empresário, não é mesmo? - Os cabelos castanhos dela caíram como uma cortina ao lado do rosto, quando sentou-se ao meu lado. - Aquele carro é seu, né? Olhe, eu moro a uma quadra daqui, se quiser pode esperar o efeito da bebida passar lá, antes de dirigir - voz dela era mansa e tímida.
Olhei o meu pulso. Não me pareceu ser uma má ideia. Estava tarde e a noite esfriava a cada hora.
- E é do seu hábito natural levar homens bêbados desconhecidos para sua casa?
Não dava pra distinguir, por causa da pouca luz e de seu tom de pele, mas tinha certeza que ela corou.
- Estou apenas prestando solidariedade. E além disso, não acredito que você seja um ladrão.
- Mas posso ser outra coisa. Você não me conhece.
Ela me olhou nos olhos. De uma forma tão meiga, que me fez sorrir.
- Não acredito que seja nada disso.
- Está certa. Agora é a minha vez de perguntar o que uma mulher indefesa como você faz sozinha pelas ruas a essa hora da noite.
Estudei seus movimentos suaves ao tirar o cabelo do rosto. - Eu não sou indefesa.
- Não estou vendo nenhuma arma cortante ou coisa parecida em suas mãos.
Ela deu de ombros. - Sei alguns golpes de caratê.
- Não duvido.
Minha cabeça girou um pouco quando levantei.
- Você consegue andar? Precisa que eu ajude? - A mão dela segurou o meu braço, mas soltou rapidamente. - Desculpe.
- Correria o risco de esmagar você. Seria mais fácil eu carregá-la em minhas condições do que você a mim. Mas agradeço a sua ajuda... Qual o seu nome?
Ela indicou a direção a qual seguir. - Me chame de Lolla.
O maldito uísque já começara a trazer seu resultado. Passei a mão pelos cabelos, sentindo uma pontada de dor na cabeça. - E você tem um sobrenome, Lolla?
- Soto. E qual o seu?
O vento soprava o perfume dela até mim. Algo floral e suave. Combinava com ela.
- Christopher.
- E você tem um sobrenome, Christopher? - Sorriu docemente.
- Não.
- Prefere manter em sigilo. - Lolla abriu a porta de uma casa, que constituía uma fileira de outras ao lado. - Deve ser algo natural de vocês.
A segui para dentro de um pequeno corredor. Ela apontou o sofá. Meus joelhos ficaram apontados para o alto em decorrência do estofado baixo. A casa era simples, mas acolhedora e bem organizada. - De nós?
Com uma luz mais forte, os traços do rosto dela ficaram mais visíveis. Era mais bonita do que eu havia percebido. Talvez não se encaixasse em todos os padrões de beleza, mas sem dúvidas era atraente. Tinha um corpo com curvas, acentuado por uma pele dourada.
Ela pôs as chaves em uma mesinha. - Sim, de vocês de classe alta - falou como se fosse o óbvio.
- Por que você põe as classes em patamares longínquos? - Indiquei o paletó. - Incomoda-se?
Ela negou com um aceno. - E não é assim?
Tirei o paletó. - Não acho que seja.
- Quer um pouco de água ou um café?
Cruzei as mãos na frente do corpo. - Vou ficar com a água, obrigado.
Ela voltou em segundos com um copo de água, me entregou e sentou no sofá oposto ao que eu estava.
- Lolla - pronunciei o nome por sílabas. - Seu nome não é americano. Você é de onde? Espanha, Argentina, México?
- México. Estou só a um ano aqui.
- Você fala o inglês muito bem - observei.
Ela juntou as mãos sobre o colo. Parecia tão frágil. - Sempre gostei de aprender outras línguas. As que mais tenho dificuldades são o mandarim e o russo. Nunca consegui aprender.
Assenti. - São um pouco difíceis. O que você faz?
- No que trabalho?
Concordei.
- Ainda não consegui nenhum. Não é tão fácil achar emprego em Nova York como a gente acha.
Fiz uma breve conexão mental. Seria muita coincidência. Tinham que ser a mesma pessoa.
Eram quase duas da madrugada quando saí da casa de Lolla. Minha visão já estava clara o suficiente para dirigir.
Me surpreendeu a hospitalidade e atenção dela para com um homem desconhecido.
Não lembrava de ter conhecido nenhuma outra pessoa com a generosidade de Lolla.
Encantadora.
Uma mulher adorável.
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Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]
RomanceO ser humano é mutável e subjetivo. Mas até que ponto as transformações são capazes de nos fazer deixar de ser quem nós fomos? Nada mais é igual. O tempo passou e trouxe consigo muitas mudanças. O medo maior, agora não são mais as lembranças, mas si...