Senti minha mão tremer, como se tivesse ganhado vida própria. Antes de sentir isso, me senti em movimento, mas eu não estava me movimentando, não por vontade própria. Era meu corpo que parecia está tendo espasmos, mas eu não tinha muita certeza disso.
Não havia muita certeza na minha mente. Ela parecia um vácuo em branco. Não era como se eu não lembrasse de nada, o problema estava no fato de eu não saber de nada.
Não sabia o que eu deveria fazer.
Eu não sabia se o que eu sentia era real.
Não sabia se eu era real.
Eu nem sabia se esses meus pensamentos eram reais.Abri os olhos porque era a coisa mais sensata a se fazer...
Ok, aquilo não era mais sensato. Simplesmente não vi nada.Enumerei duas opções:
Talvez eu estivesse em um ambiente totalmente escuro; ou era eu que não conseguia enxergar nada.Algo quente tocou a minha mão. Também ouvi algumas coisas.
Que estranho...
O toque passou para o meu rosto. Sobre a minha testa.
A voz chegou mais perto do meu ouvido.Porque eu não conseguia enxergar?
Será que eu estava mesmo com os olhos abertos?...
Tentei abri-los novamente. Dessa vez consegui ver um fundo branco com algo no meio, ambos desfocados.
Pressionei minhas pálpebras fechadas e as reabri. A visão ficou mais clara.
Repeti o gesto até conseguir distinguir tudo a minha volta com clareza.
Eu estava em um quarto de hospital.Algo quente escorreu pela minha bochecha.
Me impressionei por estar chorando, nem com vontade eu estava, mas logo eu percebi que a lágrima não era minha.Movi a cabeça com cuidado e olhei para a pessoa que estava com o rosto inclinado sobre o meu.
- ... Você pode me ouvir? Me responda por favor.
Descolei a língua do céu da minha boca. Ela parecia grossa e pesada. Minha boca estava seca também.
- E... Eu... Consigo.
Aquela era mesmo a minha voz?
- Graças a Deus, Mel. Já era hora. - Christopher colou o rosto no meu. Senti seus lábios contra a pele da minha bochecha e depois sobre a minha boca em uma leve carícia. - Tem noção de como você me assustou? Eu estive em um inferno esses dias. - Tateou o meu rosto e os meus braços. - Fale comigo de novo. Quero saber se você é mesmo real. Fale comigo, meu anjo - pediu, desesperado.
Apertei a mão dele que segurava a minha. Ou achei ter apertado. - Christopher... - Puxei o ar, agora sentindo vontade chorar também.
- Estou aqui, meu amor. - Beijou minha testa, meus olhos, minha bochecha e minha mão. - Sou eu. Estou aqui com você.
Fiz um esforço para erguer meu braço. Eu me sentia fraca. Encostei minha mão no seu rosto e enxuguei suas lágrimas. - Eu estou... Bem? - Perguntei com hesitação.
Não havia muitos aparelhos presos a mim, o que deveria ser algo bom. Apenas alguns fios se prendiam ao meu braço que deveria ser de soro e algo mais.
Ele cobriu minha mão com a dele. Beijou a palma. - Você está um pouco debilitada. Pegou um resfriado. Consegue lembrar do aconteceu?
Assenti.
Eu lembrava exatamente de tudo o que acontecera comigo. Minha mente não estava mais turvada e confusa. As memórias não vieram como um raio, simplesmente estavam lá, de volta acessíveis no meu cérebro. Só não tinha noção de tempo. Parecia que tudo tinha ocorrido ontem, mas Christopher havia falado em dias.
- Tiveram que realizar uma lavagem gástrica. Você passou por uma sessão de hemodiálise também.
Franzi a testa. - O que aconteceu exatamente? Quero dizer, eu lembro do aconteceu, mas eu estava morrendo, Christopher. Eu sei que estava porque eu senti. Como eu estou aqui?...
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Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]
RomansaO ser humano é mutável e subjetivo. Mas até que ponto as transformações são capazes de nos fazer deixar de ser quem nós fomos? Nada mais é igual. O tempo passou e trouxe consigo muitas mudanças. O medo maior, agora não são mais as lembranças, mas si...