Christopher fechou os olhos e deixou a cabeça pender para trás.
Era como se ele estivesse fazendo um esforço desgastante ao prosseguir com aquela conversa.
Aguardei pacientemente até que ele decidisse dar prosseguimento, o que tardou seis minutos.
- É impossível responder sua pergunta sem trazer à superfície seus primórdios. - Ele se inclinou para frente como se a ponto de me contar um segredo. - Mel, sei que você lutou para enterrar tudo o que passou. É perceptível a mulher forte que se ergueu sobre suas batalhas de superação... - Abandonou as palavras e voltou a pressionar os olhos fechados.
Suas feições se contorceram em uma máscara de dor profunda.
A angústia dele era tão latente que evaporava-se como naftalina e atingia a mim, me fazendo partilhar com ele suas próprias aflições.- O que o meu passado tem a ver com isso? - Murmurei cautelosamente.
- Muita coisa. Está diretamente ligado às respostas que você quer. - Estendeu a mão, pedindo a minha.
Deslizei minha mão insegura sobre a dele.
Ele a apertou com delicadeza e ergueu-a até sua boca. Fez uma carícia com os lábios e deixou nossas mãos unidas sobre a minha coxa. - Quero que faça um esforço mental e recorde algumas coisas. Será que consegue regressar e remexer nas suas lembranças iniciais? Só faça isso se puder, Mel.
Baixei meus olhos. Fechei minha mão entorno de seu de seus dedos. - Não estou entendendo.
- Você tinha pouca idade, mas é capaz de relacionar um rosto ao nome Iuri Dostoiévski?
O nome levou minha mente para o abismo do passado. Embora não ouvisse aquele nome muitas vezes, não foi difícil lembrá-lo. As lembranças entorno dele, no entanto, eram vagas, mas haviam algumas imagens dele em minha mente que ainda eram nítidas.
- Mel?
Olhei para ele. - Qual a relação dele com o que você tem para me dizer?
Christopher apertou minha mão. - Ele é o homem que você viu no estacionamento.
- Isso é impossível. - Puxei minha mão e fiquei de pé, mas minhas pernas estavam bambas demais para me sustentarem. Caí de bunda no sofá novamente.
O que ele estava me dizendo só podia ser um tremendo equívoco. Christopher estava enganado.
A grande estreiteza perturbadora ligada àqueles olhos. O modo como me olhou.
Não pode ser verdade. Não seria possível.
Cobri o rosto com as mãos e joguei a cabeça contra o sofá. - Isso deve ser um desvio de sua parte.
- Infelizmente não é nenhum desacerto - falou categórico.
- Ele mora na Rússia. Deve ser um erro. - Arranhei com as unhas a pele do meu pescoço que pinicava. - Você deve ter se confundido.
- Não há erro, Mel. Isso...
- Como você poderia saber que se trata do Iuri? Ele nem deve lembrar que eu existo. Seria impossível ele está aqui em Nova York, não é? É uma conclusão sem fundamentos. Não é tão humilhante admitir que está errado, você pode fazer isso. - Busquei os olhos dele.
Christopher me olhava complacente com dois dedos sobre a boca e o cotovelo apoiado na poltrona. Sua expressão transpassava compaixão.
- Não me olhe como se eu tivesse perdido a razão.
Seus olhos me estudaram mais um pouco antes dele deixar o braço cair. - Você está em negação e é compreensível, meu anjo, mas aquele homem que você viu, tratava-se, sem lapso, do filho do seu ex-padrasto.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]
RomanceO ser humano é mutável e subjetivo. Mas até que ponto as transformações são capazes de nos fazer deixar de ser quem nós fomos? Nada mais é igual. O tempo passou e trouxe consigo muitas mudanças. O medo maior, agora não são mais as lembranças, mas si...