Capítulo 38

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Christopher fechou os olhos e deixou a cabeça pender para trás.

Era como se ele estivesse fazendo um esforço desgastante ao prosseguir com aquela conversa. 

Aguardei pacientemente até que ele decidisse dar prosseguimento, o que tardou seis minutos.

- É impossível responder sua pergunta sem trazer à superfície seus primórdios. - Ele se inclinou para frente como se a ponto de me contar um segredo. - Mel, sei que você lutou para enterrar tudo o que passou. É perceptível a mulher forte que se ergueu sobre suas batalhas de superação... - Abandonou as palavras e voltou a pressionar os olhos fechados.

Suas feições se contorceram em uma máscara de dor profunda.
A angústia dele era tão latente que evaporava-se como naftalina e atingia a mim, me fazendo partilhar com ele suas próprias aflições. 

- O que o meu passado tem a ver com isso? - Murmurei cautelosamente.

- Muita coisa. Está diretamente ligado às respostas que você quer. - Estendeu a mão, pedindo a minha. 

Deslizei minha mão insegura sobre a dele. 

Ele a apertou com delicadeza e ergueu-a até sua boca. Fez uma carícia com os lábios e deixou nossas mãos unidas sobre a minha coxa. - Quero que faça um esforço mental e recorde algumas coisas. Será que consegue regressar e remexer nas suas lembranças iniciais? Só faça isso se puder, Mel. 

Baixei meus olhos. Fechei minha mão entorno de seu de seus dedos. - Não estou entendendo.

- Você tinha pouca idade, mas é capaz de relacionar um rosto ao nome Iuri Dostoiévski?

O nome levou minha mente para o abismo do passado. Embora não ouvisse aquele nome muitas vezes, não foi difícil lembrá-lo. As lembranças entorno dele, no entanto, eram vagas, mas haviam algumas imagens dele em minha mente que ainda eram nítidas. 

- Mel?

Olhei para ele. - Qual a relação dele com o que você tem para me dizer?

Christopher apertou minha mão. - Ele é o homem que você viu no estacionamento.

- Isso é impossível. - Puxei minha mão e fiquei de pé, mas minhas pernas estavam bambas demais para me sustentarem. Caí de bunda no sofá novamente. 

O que ele estava me dizendo só podia ser um tremendo equívoco. Christopher estava enganado. 

A grande estreiteza perturbadora ligada àqueles olhos. O modo como me olhou. 

Não pode ser verdade. Não seria possível.

Cobri o rosto com as mãos e joguei a cabeça contra o sofá. - Isso deve ser um desvio de sua parte. 

- Infelizmente não é nenhum desacerto - falou categórico. 

- Ele mora na Rússia. Deve ser um erro. - Arranhei com as unhas a pele do meu pescoço que pinicava. - Você deve ter se confundido. 

- Não há erro, Mel. Isso...

- Como você poderia saber que se trata do Iuri? Ele nem deve lembrar que eu existo. Seria impossível ele está aqui em Nova York, não é? É uma conclusão sem fundamentos. Não é tão humilhante admitir que está errado, você pode fazer isso. - Busquei os olhos dele.

Christopher me olhava complacente com dois dedos sobre a boca e o cotovelo apoiado na poltrona. Sua expressão transpassava compaixão.

- Não me olhe como se eu tivesse perdido a razão. 

Seus olhos me estudaram mais um pouco antes dele deixar o braço cair. - Você está em negação e é compreensível, meu anjo, mas aquele homem que você viu, tratava-se, sem lapso, do filho do seu ex-padrasto.

Rosas Partidas |Livro 2| [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora