- Foi uma morte trágica.
Dona Roseta se lamentou novamente. Me segurei para não reagir de forma que viesse a me arrepender depois.
- Morreu lutando por nossa alcatéia.
Continuo mais uma vez, incansavelmente. Quanto tempo uma pessoa poderia levar até finalmente esquecer uma tragédia boa o suficiente para render muitos fuxicos? Por favor, ela nem se quer o conhecia pessoalmente! Ele foi só mais um idiota que morreu lutando contra outro alfa. Nem se quer pensou em nós; só estava guerreando o território do Alfa "vizinho". E não passou disso. Nosso antigo líder morreu pela própria ambição. Eu não consegui me atingir com seu falecimento.
- Ah, sim. Realmente lamentável.
Senhora Griselda, parceira fiel de Dona Roseta, a acompanhou em suas lamúrias. Me obriguei a continuar comportada e quieta, apenas como uma mera observadora do grupo.
Não me sentia mal com a morte de Richard; nem se quer lamentava.
Não que eu fosse muito isensivel. Tanto Dona Roseta quanto Senhora Griselda realmente não o conheciam, mas eu tive esse desprazer. Nosso encontro rendeu motivos mais que suficientes para eu nutrir desafeto pelo o que um dia ele foi"Está se achando muito importante para tomar atitudes ousadas como esta, não?"
Suas palavras ainda estavam tão frescas em minha cabeça. Eu me lembrava perfeitamente do motivos de sua reação: havia recusado sua ajuda para carregar minhas sacolas da feira, enquanto ele pagava de bom moço para toda a alcatéia. Ajudar Damas Indefesas e Frágeis deveria ser seu objetivo do dia.
"Quando um macho cometer a bondade de lhe oferecer qualquer coisa: aceite! Quando um macho lhe mandar: obedeça! Você é a fêmea, deve a seu superior o máximo de submissão."
Ele havia ficado indignado ao perceber que recusei sua ajuda, me humilhando em plena feira e me rotulando inferior, somente por ter nascido mulher. Um preconceito terrível ao meu ver. Uma coisa ridícula e patética. Ele poderia ter realmente o poder de me diminuir por meu sexo? Pela forma de meu corpo ou por aquilo que ele era capaz? Não. Não podia ser apenas isso. A vida de uma mulher não poderia ser diminuída tão drástica-mente somente por ser o que era e não poderia deixar de ser: mulher.
- Foi um bom homem.
Eu senti vontade de vomitar. Será que elas haviam conseguido percebe o quanto o assunto estava conseguindo me deixar incomodada?
- Sim, mas já ficaram sabendo do novo Alfa? Dizem que é bastante forte e dominante... E gostoso.
Rebecca, uma das do time das Sem Companheiro, na qual me atrevi a estipular 45 anos de idade, se pronunciou, mudando radicalmente o rumo do assunto.
- Ah, sim. Isso é - Griselda concordou, com um sorrisinho nada digno de uma "moça pura e do lar" - Dizem que ele tem um corpo que... Ó céus. Parece que ele também ainda não tem uma companheira.
Girei os olhos ao perceber Dona Griselda trocar um olhar cúmplice com todas as outras lobas iguais a ela: desesperadas por um macho.
Para as lobas, achar o "prometido" era a verdadeira meta de vida. A razão e o objetivo. O pote de ouro no fim do arco-íris. O que não conseguia ser surpreendente, já que no final de tudo, nossas vidas sempre seriam obrigadas a girar em torno deles. Até que déssemos nosso último suspiro; até que déssemos luz ao último filho que nosso corpo pudesse aguentar, servir a eles era nosso dever. Nossa obrigação. Eu não podia concorda com isso.
Qual seria o nível da hipocrisia usada por eles ao dizer que deveríamos nos sentir honradas em continuar a linhagem de nossa raça? Absurda, em falta de melhor palavra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
id
WerewolfNão se há muitas escolhas quando se é condenada a nascer mulher em uma alcatéia onde o machismo não é regra, mas é seguido como tal. Jeneci nunca quis um companheiro e ainda menos as consequências indesejaveis que ter um traria Tinha um plano de evi...