· Capítulo 9 ·

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Pisquei repetidas vezes quando entendi a verdade, tentando não chorar. Não na frente do Alfa, pelo menos. Ele me tomaria como hipersensível; faria piadinhas em deboche. Não que não fosse completamente normal chorar por alguém querido que se foi, digamos assim ( o que era tudo o que eu estava querendo fazer ), mas me senti na obrigação de mostrar a ele somente meu lado mais duro e frio.
Eu não me sentia confortável em sua presença. Nem um pouco. Ficar perto de Gustaf era como andar em uma corda bamba, cujo eu deveria tomar sempre muitíssimo cuidado, tomada pelo o medo de cair.

Gustaf continuou sentado encima de sua mesa, sem educação, provavelmente esperando uma reação minha - O que lutei para não lhe dar o gostinho de ter.
Ele havia limpado as mãos e o comprimento dos braços com um pano seco, se limpando do sangue fresco em seu corpo. Mesmo assim, ainda havia lugares manchados do vermelho vibrante. O odor também não desapareceu com a "limpeza", jogando em minha cara que minha amiga havia morrido sem nenhuma explicação coerente.

Será que Ele não percebia o quanto seu novo cheiro e coloração avermelhada me deixavam incomodada? Me deixava fraca, vulnerável, submersa em uma vontade descontrolada de cair no choro? Eu nem me importaria mais de conversa com ele, contanto que o mesmo saísse e se livrasse daquele cheiro insuportável.

Há  muito todos já haviam dado o fora, logo depois de eu já ter me recuperado do meu ataque histérico em tentativas de avançar contra o Alfa - O Lobo acabou me agarrando e levando a força até uma sala que sugeri ser um escritório, onde estamos agora, fazendo sua caminhada humilhante comigo em seus ombros na frente de todos. - Como eu poderia adivinhar que ele estava, mesmo, dizendo a verdade? Não poderia. Caramba, ele nem sabia do nosso grau de amizade.

Um sentimento de vingança começou a aflorar dentro de mim quando percebi que suas palavras eram verdadeiras. O mesmo sentimento que tive quando meus pais morreram, despertou do seu sono em meu interior. Agora, mais forte.

Kátia foi assassinada. Como meu pai.

O único problema, era que eu não tinha total certeza se esse assassinato correspondia aos mesmos de alguns anos. Pouco me importava, eu já os julgava como o mesmo.

Minha amiga nunca fez mal a alguém. Quem poderia querer mata-la?!

- Como se sente?

A pergunta não pode evitar sair em um tom ensaiado. A tão clichê e dispensável pergunta. Uma obrigação que o mínimo da boa educação poderia exigir. Se fosse para perguntar algo tão óbvio, seria mais útil que ele se mante-se com a boca calada.

- Como acha que me sinto?

Lutei contra um fungado. Minha voz não saiu tão firme quanto quis.
O Lobo se ajeitou em cima da mesa.

- Me diga você.

Franzi o nariz, irritada, porém incapaz de formular uma resposta boa o bastante para rebater. Me deixei escorregar na cadeira acolchoada, e quase me senti tentada a girar nela, como fazia antes, com a Kátia, sempre que estávamos entediadas, o que acontecia com frequência. Fechei brevemente os olhos. Kátia foi embora. Aceite.
Kátia se foi.

Kátia morreu.

Kátia morreu, tornei a repetir a frase, como um mantra, me sentido cada vez mais tentada a girar em círculos na cadeira giratória.

Se cotucarmos aquilo que nos faz mal, se apertamos com força a ferida aberta, se nos acostumarmos, simplesmente para de nos afetar. Essa era minha teoria.

- Alguma pista de quem e o porquê de terem a matado?

Ele abandonou seu lugar encima da mesa e deslizou sobre a cadeira em sua frente, onde antes apoiava um dos pés.

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