· Capítulo 10 ·

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Calcei as botas de couro escuro com uma motivação assombrosa, puxando seus cadarços e deixando-os bem apertados. Me olhei novamente no espelho, ainda não muito satisfeita com o resultado.

O vestido que eu usava era azul escuro, quase preto - ainda bem - e alcançava meus tornozelos. Era longo, muito longo. Eu não estava acostumada. Na verdade, nem lembrava se quer quando fora a última vez que me permiti usar uma peça do tipo. Uma roupa tão bem detalhada. Trabalhada em uma renda fina, delicada e azul por cima do tecido liso - havia até luvinhas. Luvinhas! Como se eu fosse verdadeiramente utiliza-las.

Confesso, sempre que eu me pegava com o pensamento de acabar com algum desses vestidos, sentia uma pontada de culpa antes de destruí-los. Mas como eu podia ser irritantemente ingrata e egoísta.

Rasguei o vestido, mas ele acabou ficando mais curto do que o imaginado, agora alcançando meus joelhos. Vestidos assim ainda não eram muito aceitos para serem vestidos por mulheres que dessem a si o devido respeito. Mas o corpo era meu, a vontade de ter uma dinâmica mais eficiente nos movimentos também, então o vestiria como bem entender. Nem se quer pretendia ser vista, mesmo. Ainda dei sorte de conseguir o quarto apenas para mim, já que o Lobo havia sumido após o jantar, sem deixar qualquer rastro a minha vista ou olfato. Sumiu. Foi levado pelo o vento. E seu paradeiro? Desconhecido. Era tão estranho. Nossa relação era tão estranha. Eu nunca entendia "nossos" momentos. Ou como fazíamos coisas que deveríamos discutir sobre mas depois... Bem, sempre acabamos agindo como se nunca nada tivesse acontecido. Isso era irritante. E também era irritante pensar nisso.

Rasguei, animada, também minha roupa de baixo, a transformando num short. Eu já havia feito o favor de livrar-me do espartilho. Da porcaria do espartilho!

Dei mais uma boa olhada no espelho pendurado a porta do guarda roupa. Bem melhor.
Chutei os restos de tecido para debaixo da cama, os escondendo.
Uma arma seria eficiente agora, mas a coisa mais perigosa dentro do quarto, que pelo menos consegui encontrar, foram as escovas de cabelo. Minha mochila seria mais do que útil nessa situação. Ela e minha pistola com balas de prata. Para minha sorte, não tinha certeza se ainda não encontram minha arma, e se encontram, ainda não vieram atrás de satisfações.

Corri até a janela, já que não podia mais ir pelas escadas. Não com o vestido assim. Passei para fora, me equilibrando no parapeito, torcendo para que ninguém me visse. Por burrice, ainda me arrisquei a olhar para baixo, me arrependendo logo em seguida. Caramba, é alto. Eu diria estar no terceiro andar. Prendi o ar, me abaixando até tocar com os dedos o estreito parapeito que sustentava meus pés.

Uma olhade-la para o lado foi o suficiente para me deixar indignada. Tantos quarto com sacada, e dei a mal sorte de pegar justo um sem?! À minha direita, à alguns metros de distância, se encontrava um quarto com uma bela varanda, grande e útil. Tinha até cadeiras combinando ao redor de uma mesinha todas entrelaçada em cipós, com vasinhos recheados em flores para decorar.

Suspirei, enraivecida, então me joguei para baixo em um só golpe, tomando cuidado para que meus dedos continuassem me sustentando. Ainda estava com raiva pela varanda perdida, e isso acabou servindo como uma espécie de motivação.

Quase caí ao chegar no segundo andar, me agarrando a parede antes mesmo de estar fixar ao para-peito. Desejei que ninguém estivesse assistindo minha atual situação. Principalmente porque meu vestido acabou subindo para cima, e eu nem se quer pude larga os dedos para dar um jeito de prende-lo.

Felizmente, a distância diminuiu e no segundo andar tudo ficou mais fácil. Meu genes lupino me ajudaria na queda. Me soltei, em queda livre, sentido somente o ar me sustenta por alguns segundos.

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