· Capítulo 2 ·

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Ouvi uma vez que a raiva é um algo contagioso, capaz de ser transmitida apenas por um leve contato, deixando qualquer um que chegue perto demais no mesmo estado do portador: agressivo, raivoso, impaciente.

Se a felicidade for comparada a uma doença igualmente contagiosa, acabo de descobrir que sou uma pessoa completamente  imune a ela.

- Estou tão animada

Kátia diz mais uma vez, enquanto se abraça sobre  minha cama. Sua feições estão tão alegres que quase temo que seu sorriso posssa rasgar a pele do seu rosto branquelo

- Você tem que ficar - diz sem me olhar, apenas por força de expressão, óbvio. Aposto que ainda está mergulhada em mil pensamentos com o tão Grande e Maravilhoso Alfa. - Ele é encantador

Suspira, me fazendo girar os olhos. Se eu pudesse me dar ao luxo de evita-la até parar de ser tão boba...

- Aposto que nem se quer ele a olhou, aposto que nem se quer você conseguiu ouvir a voz dele.

Observo sua expressão ofendida me servir de resposta, até um novo sorriso invadir sua face e ela cair de costas em minha cama, voltando a tagarelar o quão perfeito o novo, belo e encantador Alfa é.
Que perfeito.

O babaca nem chegou direito e já começa a me causar problemas, sem nem nos conhecermos.  O que não aconteceria se eu chegasse a falar com ele, Kátia como uma tola apaioxada só esperando por uma migalha da atenção dele?

Subo encima da cama, deitando ao seu lado.

- Eu vou embora amanhã e pensei que fossemos aproveitar esse tempo nos despedindo, não com você me fazendo escutar baboseiras sobre um estranho de suposta beleza mediana

— Não pode julgar se ainda não o viu — responde, pisca, então me encara imediatamente — O que disse? Repita, repita o que disse primeiro!

- Ah, não - me viro para o outro lado, percebendo tarde de mais o quão carentes  minha palavras soaram. Pareciam bem melhores quando só em minha cabeça, como a maior parte das coisas que digo - Você escutou, não repetirei

Escuto-a rir, o outro lado da cama ficando mais leve, mas não me viro para vê-la.

- Se quiser, podemos ir correr. Já está de noite e, bom... Tem o quê? Duas ou três  semanas que não se transforma?

- Quatro semanas - me sento, encarando a noite pela janela aberta, sua animação ameaçando me fazer efeito. Será que sou mesmo imune? — Vamos, Kátia

Digo, e ela não precisa de tempo  para entender.

O fato de ela não ser incrivelmente lenta e conformoda igual boa parte das lobas da alcatéia é realmente algo que gosto em sua otimista até demais personalidade, apesar de seu incorrigível romantismo

Eu não saio de casa para evitar encontra uma corrente disfarçada de Parceiro, Kátia, por outro lado, andaria por aí com um cartaz para atrai-lo

Corro para fora e pulo, sentindo meus ossos se contorcendo e quebrando até que minha mãos finalmente toquem o chão, só que agora como patas peludas e enormes  de um cinza escuro. A cor de minha pelagem.

Olho para trás e Kátia me observa com um sorriso, fechando a porta atrás de si. Meneio a cabeça, indicando a ela que vou entrar na floresta, me lançando em disparada  antes de esperar uma resposta.

Corro entre as árvores, me misturando com a noite e me camuflando entre a vegetação. Estico tudo que posso de minha pernas, pegando impulso a cada salto, correndo como se minha vida depende-se disso, sentindo nos meus ossos como gostaria que dependesse

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