• Capítulo 31 •

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Posso dizer que encontrei um padrão; um ainda mais claro do que apenas garotas estarem morrendo.

Apenas para informação: aqui, no Norte, elas não morrem perto de casa, seus corpos podem ser encontrados em qualquer lugar: floresta, rua, praça, o próprio quarto. E mais: ninguém estima esses acontecimentos tanto quanto no Sul — tem conflitos próprios para maquinar

O que realmente descobri, não verdade, conclui, é que elas nunca tem companheiro. Nenhuma delas. Nem uma das tem alguém que sofra por elas além da própria família, e parecem morrer por nenhum motivo especial.

Está serenando, meu cabelo ainda não está ensopado. Agora mais curto, pouco acima dos ombros, ele tem cachos grandes que invadem meu rosto como um arbusto. Está mais volumoso que o de costume, mas estou me acostumando

Subo o capuz, seguindo-a pela rua. As mulheres tem um horário de recolher, mas, por algum motivo, está garota está desobedecendo o seu, o que apenas soma meus motivos para acreditar que talvez não sobreviva a está noite. Estre os fatores  estão sua idade, falta de Corrente e imprudência; esse andar ansioso  no vestido que  lhe esconde os tornozelos

Eu a descobri tem dois dias, e não pude parar de pensar nela. Não acredito em destino, mas não desmereço intuição, então, quando ela entrou na Subdivisão explicando sua história e porque precisava de um emprego, não pude desmerecer a ideia de um alvo específico

As vezes canso de andar pelas ruas esperando topar com um assassino qualquer; ou ser apanhada por ele.

Ela não pode sentir meu cheiro — cuidei para arranjar o máximo de poções que prendam meu outro lado, e não sinto mais a Fera, como se ela fosse agora apenas uma roupa que decido vestir quando necessário. E é melhor assim, melhor de muitas formas

Mantenho uma distância segura e não me aproximo quando ela entra em um beco. Sei que  não tem saída, então me mantenho em uma parede, mãos nos bolsos, esperando. Encaro tudo ao redor, piscando mais vezes do que o necessário: as lentes verde escuro ainda me incomodam

A humana, seja lá qual seu nome, fez um trabalho muito bom. Estive inconsciente na maior do tempo, porém, quando acordei, não pude reconhecer a mim mesma no espelho, como a eu que sempre vi não existisse mais. Incrível como apenas uma aparência fez com o quê, por apenas alguns segundos, toda a eu que conheci parecesse uma lenda, ilusória e alucinante

Meus cabelos castanhos agora são extremamente negros, e meu próprio rosto parece estar com um formato diferente, ao meu ver. Tudo isso significa que, não importa o que vivemos no passado, estou em alta dívida com Charles e seus esforços. Espero poder pagá-lo com uma moeda melhor do que a  ingratidão

Uma segunda silhueta se aproxima e me enfio em um espaço qualquer. Um homem, entrando no mesmo beco.

Um encontro? É isso? Dois dias seguindo-a para descobrir que ela sai da casa da mamãe para ter um caso qualquer. Patético, poderia bater em meu próprio rosto agora, mas apenas suspiro pesado

Espero que saiam. Talvez não seja um encontro, hun? Nunca se sabe, a esperança dos que insistem. Conto com a ideia de que, seja lá o que for que forem fazer, não pode ser alí

Eles não saem, e conto segundos que viram minutos. Sete. Ele sai, mas só ele.

Estreito os olhos enquanto vejo sua silhueta se afastar, calma e vagarosa. Não posso ver seu rosto. Sinto um tic, uma vontade de persegui-lo, farejo, mas não sinto seu cheiro, e o fato de sentir o  dela deixa claro que não é a poção o problema

Passo em frente ao beco somente para ter certeza de que está lá, mas tal qual é minha surpresa em encontrá-la jogada no chão que demoro alguns segundos até correr até ela, tomando o cuidado de puxar as mangas da blusa para não toca-la com a pele

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