A boa e velha piada Toc Toc.
Eu passo pelo meu jardim e subo as escadas da minha casa, bato em minha porta duas vezes e uma pessoa que não sou eu responde "Quem é?"
As respostas são muitas. Mas quem é? Uma garota revoltada? Uma Companheira em um compromisso arranjado com emoções que fogem o próprio controle? Uma filha? Uma pessoa perdida? Alguém que sente que se perdeu no meio do caminho em meio toda essa bagunça? Alguém que acha que está se esquecendo?
Toc Toc
Quem é?
Eu não sei
Juro que não faço ideia
Arrumo o vestido e bato na porta duas vezes, finalmente me dando conta do quão ridículo o bolo em minhas mãos pode ser. A imagem representativa de um dos meus muitos desprezos.
— Olá?
Ela é alta, magra, loura, linda e por algum estúpido motivo penso em Gustaf com ela no jardim, e o que seria de nós com a presença dela se o próprio nós não fosse fruto de uma obrigação involuntária.
— Sei quem você é.
— E quem seria eu?
Olho para ela, olho para o bolo, pisco como se isso retirasse toda a subita névoa que nubla o que me fez querer vim aqui.
— A nova vizinha. Bolo?
Ela olha para ele pela primeira vez.
— Obrigada, mas não é algo que costume gostar.
Claro que um pedaço sangrento de carne seria considerado mais apetitoso, afinal, ela veio do Norte, onde os costumes são muito estimados.
Eles são tradicionais, não é mesmo?Olho novamente para o bolo antes de deixá-lo no chão. Ela me encara como Gustaf, como se eu fosse uma piada, e talvez seja.
— Eu sei quem você é, e sei que também sabe quem eu sou.
Ela balança a cabeça.
— Sim, eu sei. E a que devo?
— Posso entrar?
A porta é aberta em convite.
— Não tenho nada para oferecer além de água.
Nós entramos e pela primeira vez vejo este lugar realmente arrumado. O piso parece novo e as cortinas são brancas e limpas, além de um sofá.
— Sei o que está fazendo — digo.
— Então também deve saber que é confidencial.
Concordo.
— Você é mulher, no comando de um grande investigação.
Ela ri sem dentes.
— Pesquisei sobre você, Jeneci, sei que, apesar de muito entusiasmo, não é ordenada.
— Devo agradecer?
— Bem — ela fica mais séria. — Se estamos falando de certezas e saberes, posso supor o que está fazendo aqui e também não posso ajudar.
Anuo.
— Aprecio sua conversa sincera.
— Não tem nenhuma chance. Está em busca de um assassino experiente mas tem quase tanto conhecimento quanto um civil.
Concordo, porque é verdade.
— Anda em círculos. Sabia que é chacota? — admito, mas não é mais tão humilhante quanto supus. — E pretende continuar?
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WerewolfNão se há muitas escolhas quando se é condenada a nascer mulher em uma alcatéia onde o machismo não é regra, mas é seguido como tal. Jeneci nunca quis um companheiro e ainda menos as consequências indesejaveis que ter um traria Tinha um plano de evi...