Raiva. Ódio. Desespero.
Particularmente desespero.
Senti vontade de ofende-lo com os comentários mais ofensivos que pudesse. Xinga-lo com as ofensas mais pejorativas. Mas não podia, e também estava sem reação.
— Boa noite — ele disse, entrando como um mal-educado, fingindo uma educação inexistente. — Devem ser os amigos de Jeneci.
Pisquei, totalmente encurralada. Iasmim estava sorrindo, olhando encantada para ele. Gustaf me olhou, sugestivo. Estava com braços cruzados e vestido numa blusa folgada, sem mangas e um pouco grudada a pele em alguns pontos.
O tecido era branco. Seria esse um bom sinal? E, pior, como raios meu nome havia ido parar em sua boca?
— Comece, minha querida. Seus amigos estão esperando — apressou, sem nem dar a eles tempo para uma reação.
Limpei a garganta, a margem da mais completa humilhação. O chão estava se abrindo embaixo dos meus pés sem nem uma beirada de esperança.
— Então — pausei, forçando a garganta mais uma vez. — Ele é um… … ahn… eu o conheç…
— Sou o parceiro dela — anunciou, alto a claro. Confessou o que não podia nunca ser dito em voz alta; o que nem tinha o direito de falar. — Minha companheira deve ter se esquecido de me avisar que iria sair. Não é? Nos desculpe a falta de cordialidade, mas acontece que estava preocupado.
— Parceiro…? — Foi Ashton quem disse, revezando o olhar entre mim e o Alfa. — Mas eu não senti.. Eu…
— Jeneci — Iasmim também interrogou. — Mas você tinha me dito que ele... Minha nossa.
Estava envergonhada, e Ashton, curiosamente, parecia estar igual. O garoto olhou para mim e depois abaixou a cabeça, desviando atenção para outro ponto. Ashley foi a única que permaneceu sorrindo.
Me senti uma verdadeira traidora.
— Vim buscá-la — ele me puxou, prendendo seus braços ao meu redor. Tentei me soltar. Ele apertou. — Desculpem, mais uma vez, a visita inesperada.
Ashley balançou a cabeça para nós.
— Não. Não precisa! É simplesmente uma honra tê-lo aqui. Jeneci iria dormir conosco, mas agora acho que não iram querer permanecer em nosso humilde chalézinho.
Tão inocente. Desejei desaparecer.
Gustaf me apertou o suficiente para que pudesse sentir seus músculos embaixo do tecido.
— Então ela dormiria aqui? Sinto que atrapalhei alguma coisa.
— Não não não não — Ashley apressou — não atrapalha absolutamente nada. Estamos jantando, se quiser…
Deixou a frase a vagar.
— Acho que eles já querem ir embora, mãe — Ashton disse, de um jeito que fazia parecer que eu não era mais bem vinda.
Tentei mais uma voz sorrateiramente me afastar. Ele apenas apertou mais seu corpo no meu. Uma proximidade desconcertante, de fato.
— O garoto tem razão — o maldito concordou. — Já estamos de saída. Irá querer se despedir de seus amigos?
Iasmim foi a primeira a abrir os braços, mesmo com um olhar ainda estranho. Nos despedimos formalmente. Abraçar a garota foi incômodo, o garoto desconcertante, e Ashley… Ela me deu um forte abraço.
— Não precisava ter feito tudo isso — eu disse assim que pomos nossos pés na trilha. Ele já havia me soltado.
Não tive resposta, e isso me irritou. Depois de tudo o que causou, o mínimo que poderia fazer agora seria me dar uma resposta!
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WerewolfNão se há muitas escolhas quando se é condenada a nascer mulher em uma alcatéia onde o machismo não é regra, mas é seguido como tal. Jeneci nunca quis um companheiro e ainda menos as consequências indesejaveis que ter um traria Tinha um plano de evi...