• Capítulo 44 - parte 2/2•

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Corro mais rápido do que sei que poderia fazer, em grandes saltos,  minhas roupas na boca

As pernas se esticam ao máximo antes de tocarem o chão, me lançando em grandes impulsos

Eu sinto os outros lobos ao redor, mas esses estão distantes. Escuto cada mínimo movimento de cada animal, do pequeno ao grande

Estou em extase, ansiosa, cheia de energia. Uma expectativa tão inexplicável que poderia me matar. Parece bom. Parece honesto

A prensença que estive sentido em meu encalço me ultrapassa, um vulto negro e rápido, quase imperceptível entre as árvores, uma sombra. Um fantasma.

Eu o sigo, ainda mais veloz, apertando meus dentes em volta do tecido que quer sair voando

Corro por centenas de metros que sucedem metros em curto tempo, na companhia confortável de minha sombra, me ultrapassando, sendo ultrapassada

Quando percebo que o lobo negro é apenas uma sensação rastejante, paro, sobre minhas  quatro patas

Olho para baixo, para o pelo cinza e para as garras. É estranho e bom. Sou eu. Isso também sou eu, deixando rastros na terra

Olho ao redor, tentando encontrar o que não posso ver, mas  sentir, o que me lembra quão desagradável é a sensação de ser vigiada, mas não só isso... marcada.

A presa

Tento gritar as palavras que tenho em mente, mas são rosnados agora

Ando ao redor de mim mesma, rosnando para a escuridão, insatisfeita com essa brincadeira tola, com essa sensação  de presa.

Ele está aí, em algum lugar, me deixando saber, me fazendo pensar que posso ser atacada, caçada

Não

Não mesmo

É  com pesar que deixo essa forma para voltar a ser algo mais frágil, limitado

Isso dói, em toda parte, juntas e ossos, cada junção.  Meus ossos doem e não me importo

Visto minhas roupas, com calma, ainda encarando o nada. A blusa agora tem um furo no estômago e a calça, no joelho

— Saia dai — digo, em tom normal. Ele não precisa de nada mais alto para me escutar — Saia, Gustaf, onde estiver

Estreito os olhos, respondida pelo o som do vento, o farfalhar das folhas

Tenho um calafrio. Sei que é ridiculo, mas alcanço um galho, grande e grosso, e apenas tê-lo na mão me faz sentir melhor

Ouço um farfalhar que me faz virar de imediato, onde Gustaf surge, sorrindo abertamente, com as roupas na mão

— Acha mesmo que, se precisase, esse galho iria lhe proteger?

É um galho forte e capaz de causar dor, que eu aponto para ele

— Vista suas roupas

Um ruído de deboche é feito por ele, chegando até mim

— Essas aqui? — levanta-as no alto — Como quiser

Ele realmente começa a se vestir, devagar, como se estivisse se exibindo enquanto assisto, sem pudor, sem satisfazer sua fracassada tentativa de me constranger

— Aqui é seguro o bastante?

— Mais do que a Mansão — ele responde — Estou pronto. Está bom para você?

O encaro com renovada atenção, esta com as calças e blusa, mas sem o colete. Ambos não tem nem um furo. O cabelo está bagunçado, espalhado no rosto, o que o faz parecer jovem e despreocupado

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