Corro mais rápido do que sei que poderia fazer, em grandes saltos, minhas roupas na boca
As pernas se esticam ao máximo antes de tocarem o chão, me lançando em grandes impulsos
Eu sinto os outros lobos ao redor, mas esses estão distantes. Escuto cada mínimo movimento de cada animal, do pequeno ao grande
Estou em extase, ansiosa, cheia de energia. Uma expectativa tão inexplicável que poderia me matar. Parece bom. Parece honesto
A prensença que estive sentido em meu encalço me ultrapassa, um vulto negro e rápido, quase imperceptível entre as árvores, uma sombra. Um fantasma.
Eu o sigo, ainda mais veloz, apertando meus dentes em volta do tecido que quer sair voando
Corro por centenas de metros que sucedem metros em curto tempo, na companhia confortável de minha sombra, me ultrapassando, sendo ultrapassada
Quando percebo que o lobo negro é apenas uma sensação rastejante, paro, sobre minhas quatro patas
Olho para baixo, para o pelo cinza e para as garras. É estranho e bom. Sou eu. Isso também sou eu, deixando rastros na terra
Olho ao redor, tentando encontrar o que não posso ver, mas sentir, o que me lembra quão desagradável é a sensação de ser vigiada, mas não só isso... marcada.
A presa
Tento gritar as palavras que tenho em mente, mas são rosnados agora
Ando ao redor de mim mesma, rosnando para a escuridão, insatisfeita com essa brincadeira tola, com essa sensação de presa.
Ele está aí, em algum lugar, me deixando saber, me fazendo pensar que posso ser atacada, caçada
Não
Não mesmo
É com pesar que deixo essa forma para voltar a ser algo mais frágil, limitado
Isso dói, em toda parte, juntas e ossos, cada junção. Meus ossos doem e não me importo
Visto minhas roupas, com calma, ainda encarando o nada. A blusa agora tem um furo no estômago e a calça, no joelho
— Saia dai — digo, em tom normal. Ele não precisa de nada mais alto para me escutar — Saia, Gustaf, onde estiver
Estreito os olhos, respondida pelo o som do vento, o farfalhar das folhas
Tenho um calafrio. Sei que é ridiculo, mas alcanço um galho, grande e grosso, e apenas tê-lo na mão me faz sentir melhor
Ouço um farfalhar que me faz virar de imediato, onde Gustaf surge, sorrindo abertamente, com as roupas na mão
— Acha mesmo que, se precisase, esse galho iria lhe proteger?
É um galho forte e capaz de causar dor, que eu aponto para ele
— Vista suas roupas
Um ruído de deboche é feito por ele, chegando até mim
— Essas aqui? — levanta-as no alto — Como quiser
Ele realmente começa a se vestir, devagar, como se estivisse se exibindo enquanto assisto, sem pudor, sem satisfazer sua fracassada tentativa de me constranger
— Aqui é seguro o bastante?
— Mais do que a Mansão — ele responde — Estou pronto. Está bom para você?
O encaro com renovada atenção, esta com as calças e blusa, mas sem o colete. Ambos não tem nem um furo. O cabelo está bagunçado, espalhado no rosto, o que o faz parecer jovem e despreocupado
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WerewolfNão se há muitas escolhas quando se é condenada a nascer mulher em uma alcatéia onde o machismo não é regra, mas é seguido como tal. Jeneci nunca quis um companheiro e ainda menos as consequências indesejaveis que ter um traria Tinha um plano de evi...