• Capítulo 22 •

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É um rapaz quem me guia. Nós andamos rápidos. O vestido que uso é branco e leve, como deve sugerir a justiça. Estou fantasiada para a execução.

Chegamos a praça rápido, indo direto a concentração de gente. Todos estão cercando um lobo alto e musculoso que grita xingamentos como se fossem flores com uma boa plateia de concordantes, que o ajudam a gritar, mesmo que não acorrentados ao chão.

Confesso nunca ter visto uma execução na vida.

Sinto Herobrine e procuro-o imediatamente. Está vestido de cinza com um outro lobo, com quem conversa e rir. Ele não olha para mim nem uma única vez e, com um pouco mais de atenção, percebo que todos os lobos que vejo pelo castelo estão espalhados em duplas.

Meu guia abre caminho entre a multidão e logo tenho uma das melhores visões.

Olho para ele, que parece muito mais robusto e forte que Herobrine. Ele não vai embora e, percebendo meu olhar mais intenso explica que essas situações sempre podem perder o controle, então preciso de proteção, porque parentes e simpatizantes do executado sempre podem tentar um revide. Pinto meu rosto de desprezo, para que saiba.

A frente, o futuro executado está transformado, rosnando e pulando, tentando se soltar do grosso ferro enfeitiçado. Especulo seu crime, no qual não fui informada.

Pouco demora até que escute muitos gritos e aquele cheiro familiar se expanda por todos os lados.

Estou em uma pequena elevação de madeira com visão privilegiada, logo atrás o  executado, mas Gustaf surge pelo outro lado, feito para matar. Ele é nosso carrasco, isso é óbvio.

Ansiosamente espero a proclamação do crime cometido, sem saber se eles costumam fazer isso. Mas não me decepciono, pois um dos lobos do castelo se aproxima do julgado, mas não muito. Ele diz:

— Acusado por se envolver e engravidar uma humana indisponível, este lobisomen, não mais integrante de nossa respeitável Alcatéia Sul, é condenada a morte.

Pela primeira vez vejo a humana, mais atrás da altiva figura do Alfa. Ela parece tão frágil e sua barriga inchada. Ela segura sua barriga aos prantos, chorando e berrando. Todos sabem o que vai acontecer. Conhecemos a Lei. Ela também deve saber. Também deve ter conhecimento que mal pode sobreviver a gestação. O bebê vai rasgar seu útero.

A multidão grita e xinga, chamam-na de puta e vadia, Dorian, o julgado, é inocente, um lobisomem não pode morrer por uma humana inválida. Muitos e ainda mais gritam coisas como essas, exeto os com medo demais para concordar e até, quem sabe, alguém que pense diferente. Alguém que também compreenda a injustiça do que ainda virá, mas também a falta do que possa ser feito a respeito.

O ritual começa. Gustaf se transforma em um enorme lobo negro e posso sentir o estalar dos seus ossos como se fossem os meus. Me contorço e no mesmo instante encontro seus olhos, pesados sobre os meus, involuntariamente asinto.

A corrente é tirada do outro lobo para uma batalha justa, então a briga começa. Uma muito curta briga. Apesar da defesa o Alfa apertar seus dentes ao redor do pescoço de Dorian, que momentos depois está morto. Direto e rápido.

Essa é a parte fácil. Minha dificuldade começa agora.

— Quantos meses?

— Cinco — o guarda responde.

— Como podem ter descoberto apenas agora?

— Apesar das evidências prematuras, a humana apenas confessou quando precisou de nosso auxílio.

O guardas a trazem. Ela grita e esperneia, magra como se a pele estive sendo sugada para dentro. Seus gritos são agudos e sonoros, terríveis. Algumas mulheres viram-se, outras urram em icentivam. A indignação passou e agora os pais apontam para que suas crianças possam ver, erguendo-as nos ombros, exeto as meninas.

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