As coisas estavam começando a ficar mais complicadas.
No meio da noite, Gustaf bateu na porta sem parar, mas eu não abri. De manhã, ele repetiu o gesto, e quando o guarda-roupas começou a tremer na minha parte da porta, quase achei que ele iria arrombar.
“Abra isso aqui, Jeneci, ou será pior depois” ele disse, e depois que mandei sua alma queimar no inferno, ele foi embora, enquanto eu continuei encolhida na cama, tremendo de raiva.
Não era visível que eu queria ficar sozinha? Quem era ele para impedir isso? Dentro do maldito lugar, um quarto com porta ainda era tudo o que eu tinha.
De tarde, Herobrine apareceu, falando baixo para eu abrir, quase humilhado. Quando anoiteceu e o silêncio passou a se preocupador, fiquei paranoica com a ideia de que a qualquer momento uma cabeça poderia surgi na janela/porta, o que me fez tranca-la.
O que eu estava fazendo? Não sabia, mas tudo parecia melhor do que sair. Estava com raiva demais para olhar na cara de qualquer um. E o pior: eu precisava mesmo sair.
Precisava falar com Ashton ou Iasmim para explicar as coisas. Nem sabia direito o quê explicar, mas enquanto não o fizesse, a agonia iria continuar me consumindo.
E também, Iasmim havia deixado escapar em algum momento da tarde que agora existia um toque de recolher, para criar segurança, e eu estava disposta a tomar medidas drásticas.
Não tinha nada a perder.
O guarda-roupas tremeu até quase cair. Era Herobrine, e estava pegando leve.
— Está se comportando como uma criança! — sussurrou como se estivesse gritando. — Pode, ao menos, explicar o porquê disso?
— Morra, Herobrine, morra.
— Quem irá acabar morrendo é você, e de fome.
— Sou resistente.
— Sua amiga está aqui.
— Não tenho amigas.
Ele suspirou do outro lado. Minha audição estava realmente muito boa. Eu quase podia ouvir os murmúrios nos corredores de baixo.
Está me reprimindo, e não poderá continuar assim sem sofrer as consequências.
Ela falou. Eu ignorei. Seus gritos em minha cabeça estavam começando a ficar mais altos, frequentes. As vezes, a noite, me provocavam dor. No entanto, eu me recusava. Me recusava. Não viraria uma fera enquanto Gustaf se mante-se por perto.
Seria uma catástrofe.
— Eu vou comer sua comida, e falo sério.
Me levantei com cuidado, tentando ao máximo não tocar os pés no chão. Me sentei no chão, ao lado do guarda-roupas.
— Me ajude a sair daqui, Sentinela — sussurrei, bem baixo.
— Para onde você quer ir?
— Vai mesmo me ajudar?
Sua resposta veio me baixinha:— se você sair daí e deixar seu cheiro nos corredores.
Sabia que não podia acreditar nele, mas mesmo assim, arrastei o guarda-roupas para o lado, com a cabeça latejando, como as vezes ela costumava deixar.
— Não toma banho desde ontem, certo?
— Cortaram a água — entortei o nariz, sabendo que ela aquela era uma tentativa de me por para fora.
Ele levantou o prato em sua mão, vazio, com alguns ratros de sangue do que já foi uma carne.
— Eu comi antes mesmo de avisar. Desculpe.
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WerewolfNão se há muitas escolhas quando se é condenada a nascer mulher em uma alcatéia onde o machismo não é regra, mas é seguido como tal. Jeneci nunca quis um companheiro e ainda menos as consequências indesejaveis que ter um traria Tinha um plano de evi...