- Por favor, não toque em mim.
Pedi, vendo que ele subiu encima da cama justamente para tentar me consolar. Me consolar enquanto fazia contato físico. Já estava difícil o suficiente manter presa e segura a vontade estranha de estar encaixada em seus braços marciais por debaixo do tecido preto da blusa. Eu não precisava que ele me tentasse ainda mais. Seria até um soco no rosto do que sobra da minha dignidade.
Gustaf suspirou alto, quase frustrado. Eu me senti um pouco culpada. Eu o deixava frustrado. Era eu a não querer um parceiro a quem ficar obrigatoriamente presa para o resto da vida, e não ele. O Lobo nada tinha a ver com toda a minha crise de independência, e mesmo assim sofria com a consequência que a mesma causava em nós dois. Talvez ele até quisesse uma corrente. Talvez até gostasse e fizesse parte dos que sonhavam em ter uma. Talvez... Nunca se sabe. Ele estava tentando se esforçar, e esse era uma fato que eu não podia simplesmente deixar passar como se não tivesse significado algum algum. As vezes eu me sentia tão egoísta.
Seria ótimo dizer Eu Não Me Importo. Seria ótimo dizer que eu não dou a mínima para tudo que as minhas ações poderiam causar nele. Contudo, de repente, isso ficou tão difícil. Eu queria simples e realmente não me importar mais mas, mas eu me importava, sim. E não percebi em que momento exatamente isso começou a acontecer.
-Tudo bem. Me diga, o que a deixou tão triste que a fez chorar dessa forma?
- Não estou triste - argumentei, pateticamente. Não estava óbvio o motivo? Ou apenas uma pequena parte dele?
- Por favor! Eu estou sentido a sua tristeza. Me diga logo o que houve.
Deixei uma pequena risada sem humor escapar. Então, eu estava sem saída, certo? No final, até minha capacidade de sentir emoções havia sido violada.
Sempre dramatizando tudo, não?
Um pouco chocada, me ajeitei encima da cama. Ela falou comigo. Minha loba.
Melhor ignorar. Ela nunca responde.
Esfreguei meu nariz que ainda ardia, pensando se deveria ou não responde-la. Não.- Tudo bem - quase pareceu saber no que eu estava pensando. - Se não quiser dizer, também não irei força-la a isso.
Sim, ele realmente foi gentil. E isso foi péssimo. Eu queria tanto me encontrar com seu lado arrogante. Tanto estar me comunicando com seu lado duro e hostil. Mas não. Sua voz macia estava cuidadosa e carregada de gentileza. Um ataque fatal a minha vontade de manter de pé todo o meu ódio nutrido por ele.
Por favor, ele não podia ser ao menos um pouquinho ignorante? Tão ridículo. Mesmo com toda a situação, eu só fiquei aguardando o momento em que ele me faria sentir raiva dele de novo, somente para eu poder me sentir melhor comigo mesma.
- Como você se sente em relação a tudo... Isso? - tive que perguntar. Dessa vez não era ele a retroceder para o tão indesejável assunto. Contudo, o isso estava me incomodando tanto, que tive que perguntar. Já estava mais do que na hora de por todas as cartas na mesa e começar a procurar uma solução sensata para os problemas. E, olhem só: era eu a estar tomando a iniciativa.
- Surpreso e perdido - sua voz saiu com tanta firmeza, que a resposta parecia pronta antes mesmo de eu já ter formulado a pergunta. Ele pareceu sincero. - E você, como se sente em relação a isso?
Não consegui conter um pequeno sorriso de se formar. Enfim, estávamos tendo A Conversa.
- Desolada.
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WerewolfNão se há muitas escolhas quando se é condenada a nascer mulher em uma alcatéia onde o machismo não é regra, mas é seguido como tal. Jeneci nunca quis um companheiro e ainda menos as consequências indesejaveis que ter um traria Tinha um plano de evi...