• Capítulo 37 •

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Gabriel puxa a cadeira para que eu possa sentar, e estou decepcionada por ter escolhido um lugar público. Pensei que ele tivesse planos diferentes para mim, planos que definiriam os meus, mas, ao contrário disso, estamos em um lugar amplo cheio de mesas afastadas demais onde alguns casais estão sentados, conversando e comendo

Tudo tem um cheiro muito bom, as janelas são grandes e fazem do ambiente ventilado, além dos canteiros de flores trepadeiras

— Espero que não tenha nada contra uma boa carne preparada — se senta — gosto de tempero

— Também prefiro

— Se não se incomoda, já fiz o pedido para nós dois — sorri — Você é parente de Charles?

Me ajeito na cadeira, com os pés fixos no chão

— Uma amiga da família. Ele foi amigo do meu pai

— Foi? Não são mais?

Me repreendo mentalmente, mas não vejo porque mentir sobre isso. Não vejo que diferença possa fazer

— Ele morreu quando eu era criança

E se inclina um pouco na cadeira, antes estava apoiado nos braços sobre a mesa

— Sinto muito

— Já faz muito tempo — respondo — não há muito o que sentir

Ele não responde, e não quero mais conversar. Na verdade, quero me levantar e ir embora. Mas qual seria o sentido disso se só ele fizesse as perguntas?

— E o seus pais, são daqui?

— Não. Meu pai morreu em um conflito, minha mãe foi logo depois. Mas também faz décadas — sorri — eu já era grande o bastante

Não respondo, de repente me perguntando que idade ele tem por trás desse rosto jovem. Tento não me sentir infantil com a minha idade abaixo de trinta, sem toda a experiência do tempo

— Você me decepciona

Ele estreita os olhos

— Eu? Porquê?

— Pensei que sujaria as barras do vestido

Isso o faz erguer os lábios

— De fato, mas pensei melhor, e é preferível que eu não me afaste muito da Subdivisão agora

— É mesmo? Por quê?

Ele não parece nem um pouco hesitante antes de responder

— O Alfa vai receber um convidado que chegou há pouco, e quer que eu esteja presente. Conveniências do dever — me encara, e deve esta mesmo interessado em mim para ter respondido — Soube que também trabalha  na Subdivisão?

— Camareira. Um pouco de tudo, na verdade

A comida chega, sendo servida diante de nós em pratos grandes. Encaro o grande e suculento pedaço de carne, cheio de molho, e penso em como come-lo sem terminar com a boca lambuzada. Isso seria além de desconfortável, incoveniente

— Sim, mas acho que já a vi com a Luna antes

Me esforço para não encara-lo, para não ter nenhuma expressão incomum. Apenas uma garota ainda olhando para o prato, uma garota ciente. Isso não me soa como algo que meu bom amigo político poderia ter dito, e não me agrada nem um pouco saber que ele andou me espiando entres os corredores sem que eu se quer percebesse

— Como disse — respondo, puxando o talher devagar o suficiente para lhe dar tempo de começar primeiro — um pouco de tudo. Trabalho nunca é demais, certo? Todos precisamos ganhar a vida

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