• capítulo 33 •

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Abro a porta e desato pelo corredor, sem nem pensar em passar pela salinha da chamada. Quanta presunção! Esfrego o queixo na parte em que ele tocou com o empenho de uma lavadeira.

Tudo isso porque esbarramos uma vez no corredor, sem se quer nos vermos. O Alfa deve está mesmo cercado de perigos para se dar o trabalho de me abordar e ameaçar. Pessoalmente

Pego minha bolsa com roupas e saio pelas ruas, rápida e direta. A culpa foi minha, também, e tudo por meio terço de palavras que mal importam

Estreito os olhos quando chego a rua de minha casa, tentando enxergar através do sol. A primeira coisa que vejo são o meu casal de vizinhos, amantes, brigando outra vez. A forma como mantém isso sugere que realmente devem querer que der certo, contudo, ainda assim, alguém deveria tê-los alertado que o amor é uma pintura: fica melhor emoldurado

A segunda coisa que vejo é uma mulher em minha porta, que reconheço de imediato. Subo os degraus com a chave entre os dedos, encarando

— Tão cedo?

Ela sorri, me empurrando uma trouxa com potes tilintantes

— Me chamo Ágatha — informa, e destranco a porta com a satisfação de não ter mais que lhe chamar do hostil "a humana" — são poções inodoras, para você não precisar mais se arriscar de pegá-las, seja lá com quem pegue

— Não precisar mais? — a porta precisa de um empurrão para abrir — Iria buscar mais logo depois daqui

Agatha entra atrás de mim

— Charles quem me pediu para oferecer, recuse, se quiser

Coloco-os sobre a bancada, não serei ingrata de recusar; e isso é um adeus para as visitas àquela velha feiticeira

— Também precisa experimentar um vestido, Charles me alertou que você não simpatiza muito com eles, mas concordemos que, se quer mesmo abandonar a atenção, terá que se despedir das calças por um tempo — escuto o zíper de sua bolsa abrindo, e logo depois uma confusão de azul e branco é jogada sobre mim. Levanto-o, sem questionar. Ela tem razão, infelizmente e por um tempo

— Agora?

— Agora

Suspiro, gostaria de tomar um banho, mas que seja. Sem me dar o trabalho de andar até o quarto tiro minhas roupas e o coloco, não conseguindo fugir do pungente espartilho

O vestido é longo e de corte reto, quadrado, azul escuro, com mangas curtas e brancas que surgem por trás da primeira camada de tecido

— De uma volta, Jéneci, quero ver como ficou — faço o que me pede, girando ao redor de mim mesma. Gosto de como fala, sem o segregante Humana e Loba, mas igualitário pessoa e pessoa — nada mal

— Um pouco apertado encima, não?

— nada de atípico — garante, se aproximando e puxando o decote, ajeitando os seios — valoriza essas coisas que tem na frente. Sabe o que são, não sabe?

Sorri, um sorriso cínico e lento

— Por acaso eu sei, mas não acho que vou ter muita oportunidade de usá-lo

— Vai, sim —  abre sua bolsa, ainda não finalizamos seu trabalho, embora eu ache que não há mais nada a ser feito — explico isso quando acabarmos aqui

— Precisarei estar inconciente de novo?

— Não — ela sorri — apenas deite sua cabeça em meu colo e deixei que eu trabalhe

Ela se senta no chão com as pernas cruzadas. Afasto a mesinha do centro, troco a roupa faço o que pediu. Fecho os olhos, sentido ela mexer em meu rosto, como um agulha deslizando na pele e descendo pelo pescoço, o que pode doer, embora não espie o que está fazendo.

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