• Capítulo 26 •

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Minhas mãos estão se recuperando rápido dos cortes, assim como braços e pernas, mas minha barriga está mutilada com um único corte profundo que manda choques por toda a carne. Eles ficaram agressivos depois da primeira morte, selvagens após a segunda, desesperados quando a terceira não tardou.

Estou me esforçando para não cair, pois a última queda regou os ferimentos de areia, e a mata já está há muito para que as folhas possam me amortecer. Meu teto é um céu estrelado como jamais vi, sendo a Lua a única luz, me pedindo para atender à minha natureza, a usar o presente que me deu,  mas que agora é meu maior perigo.

Atrairia ele tão rápido quanto tudo aconteceu

Caio, minha respiração é cada vez mais um gemido sufocado e, apesar de toda a dor que se estende por todas as extensões desse corpo, ainda posso ter a leve conciencia do apreço que é não está em uma alcatéia, ainda posso sorrir, porque se for bem sucedida está será a melhor e mais gratificante dor de toda uma vida

Eu levanto, corro e tropeço e volto a tentar,  meus olhos sendo inundados por Herobrine no auge de toda a sua traição, ele fugindo, um dos dois últimos, prontos para chamar reforços. Eu vejo suas mãos me agarrando, não só sua determinada expressão como também seu rosto sangrento, repito seus movimentos e o flash de garras

Mas não são só as suas

Há uma carroça caída numa floresta deserta

Além de um caminho inaceitável

Momentos de compreensão,  fúria, até que, portanto, iniciativa

E então há Gustaf, erguendo-se em pé e altivo, dominante, me olhando como a uma piada, até que me oferece a mão, e então sei que estou alucinando

Ele já saberá que consegui? Já foi avisado que atrapalhei suas maquinações?

Caio sobre um joelho, abrindo a ferida novamente. O chão é um rastro de sangue

Gustaf já sabe que trabalharei para que jamais nos vejamos novamente? O que puder fazer para aniquila-lo de mim será feito, porque cheguei longe demais para retroceder

As folhas voltam a encaixar o cenário, e isso é sempre perigoso.  Uma nova floresta, um novo risco. As alcatéias estão onde podem se abastecer

Alcanço as árvores e as uso de muleta, e não distante vejo um raso lago, que se mostra mais um córrego. Respiro o ar frio, então me esforço para terminar de rasgar o tecido da calça até que fiquem curtas. Calças curtas. Eu inventei isso? O retalhos amarrarei nas feridas

Me jogo na pequena poça de água. Está limpa, fazendo o mesmo pelos machucados. Fecho os olhos, sentido a leve ardência, e são esses únicos momentos de descanso suficientes para que tudo fique distante

A inconsciência se apresenta, dou a ela boas vindas

Já é noite novamente e alcancei a primeira aldeia humana, logo após uma alcatéia que não pude indentificar. Peguei uma carroça qualquer com um homem por volta dos 34, que aceitou me levar em troca de alguns momentos a sós no escuro, o que não vai acontecer. Ele não sabe com que facilidade posso quebrar seu pescoço. Ainda não assimelei meus atos bem, mas também não vinha tentando pensar neles; não foi a primeira vez que matei, provavelmente não será a última

A madrugada se impõe triste e fria, chuvosa, implacável, e sinto as primeiras dores da Corrente, a Loba grita em minha cabeça para que volte para o castelo, para que volte para Ele, e imagens que não controlo estão em toda parte, o Lobo em toda parte. Vejo Gustaf na grande mesa de jantar, sorrindo para mim, vejo ele no vão do quarto, onde arrancou a porta, dizendo que precisa de mim para fazer uma boa refeição, eu sinto suas mãos e o vejo pelos corredores, quando eu passava, sempre parando o que fazia para me ver, estreitando os olhos com irritante divertimento; nos vejo dançar; de vejo aquela vez em que perguntou se eu estava bem, ainda não entendendo que o ignorava, preocupado. Preocupado?

Visualizo tudo que crio para me sabotar

E tudo parece especial, e nada parece ruim, como se tudo pudesse ser perfeito caso eu desse meia volta. É com está reflexão que percebo o quanto estou divagando, pego minha nova adaga e faço um profundo corte na palma da mão. Irá me distrair desses pensamentos

Manhã, quase almoço, nunca estive tão longe de onde nasci em toda minha vida. Tenho roupas novas, roubadas de lojas humano. Sei para onde estou indo; um lugar distante, no longe, então continuo o caminho, pois ainda falta muito.

Noite, não consigo dormir, apesar de ter achado uma raiz confortável e minhas roupas não serem más, o que está dentro da cabeça é o que há de mais perturbador

As imagens se repetem, Herobrine me mandando fazer as malas, ordens do Lobo, me mandando para longe até ser conveniente, como uma boneca; sua boneca

O Alfa Jouger estaria me esperando, meu novo anfitrião, e  então o caminho, todo o nojo de mim mesma, e depois não sabia mais o que estava fazendo.... Mas, na verdade, sabia, mas tudo tão nublado, quase inconsciente, como se estivesse assistindo a mim mesma.

São os pensamentos fortuitos da noite, pois a madrugada me esperava com pesadelos e dores no peito, imagens de Gustaf, como sua ausência fosse me fazer morrer. A corrente. Ele também estaria assim? Mais um corte. Mãos mutiladas. Ele estaria me procurando? O suficiente para me levantar e andar.

Mais promessas a serem feitas. Sim, eu vou te esperar no escuro, onde ficaremos a sós, vou abri-las pra você. Mais promessas a serem quebradas

Uma semana, duas, três e depois quatro dessa forma. Alguns lobos, agressivos, nem sempre da para sair ilesa. Cortes de derrapagem.

Minha última carona me deixou em um lugar movimentado, cheio de construções, nunca vi maior. Passeie pelas ruas, olhando para os lados, sentido uma leve intuição. Eram todos alheios a tudo, sempre olhando para frente. Vestido e calças, homens e mulheres, lobos e humanos, muitos estabelecimentos e lojas de doces onde a maioria parecia ir apenas para conversar

Em uma delas parei alguém na porta, fingido confusão, mas não desnorteamento

— Com licença, mas onde estamos?

E ela só olhou para mim porque toquei em seu ombro

— Rua das Rosas de Inverno

— Sim, mas de qual lugar? Sou nova aqui, vim para visitar alguns amigos

Ela estreitou os olhos

— Alcatéia do Norte

Agradeci, ela se foi

Ainda caminhei muito até encontrar algum bom lugar nos arredores. Estava cada vez melhor em acampar.

O mais estava feito, de resto tudo seria concentrado em encontrar a pessoa certa, e lhe cobrar o favor.

idOnde histórias criam vida. Descubra agora