· Capítulo 15 ·

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Gustaf estava sentado em sua cadeira, já vestido, me olhando com atenção. As sombrancelhas estavam apertadas no que eu prefiri não pensar que era preocupação.

Ele pigarreou, propositalmente, e voltei a olhar para os meus dedos tremelicantes apertados em punhos na coxa.

Estavamos, pela segunda vez, no escritório. Era muito mal iluminado, por sinal. As velas e candelabros estavam muito bem espalhados, mas poucos acesos. Ele não devia estar planejando vir para cá esta noite.

— Pode me explicar o que aconteceu?

— Eu também não sei direito — a mentira não soou tão falsa, para o meu alívio.

Céus, eu era tão fraca. Não conseguia nem defender a mim mesma… E Gustaf. Minha nossa, ele havia matado. Ele e sua bocarra enorme no pescoço do meu agressor. Não que eu estivesse com medo. Não conseguia sentir temor a ele, mesmo que meu subconsciente estivesse alertando que ele era perigoso, e que eu deveria levar isso em consideração.

— Vou ter que invadir sua mente para isso? Nós dois sabemos que as consequências não são agradáveis.

— Você só pode estar brincando — minha voz saiu afetada por estar falando entre os dentes.

— Desculpe. Eu estava brincando. Isso é errado — seus lábios se ergueram levemente no canto, e eu pude ver, mesmo com algumas sombras que as velas não conseguiam clarear. — Vai me dizer o que aconteceu?

Dei de ombros. Explicar implicava em contar o porquê  de estar no outro lado do castelo. Eu sabia que podia inventar uma mentira boa o suficiente, mas não agora. Não enquanto estivesse sozinha com ele depois… Daquilo.

Ficar a sós com ele estava me deixando irritantemente nervosa, e não era só por mim; ela, a fera, estava agitada. Sua ansiedade era tão grande que chegava a me atingir. E eu odiei isso.

Seria errado pensar nesse tipo de coisa, quando na verdade deveria estar anestesiada pela culpa? Me pareceu tão  egoísta... Porém, talvez, o peso de uma segunda morte, e ainda mais sendo tão indireta a mim quanto foi, não conseguisse me afetar.

— Não tenho um motivo bom o suficiente que não pareça idiota. — respondi, tardiamente.

— Não vou achar idiota. Pode me dizer.

— Não quero dizer. — tentei ser mais dura, para que ele entendesse e me mandasse ir embora.

Esse era um dos maiores problemas. Ela não queria ir embora em uma intensidade tão forte, que chegava a me afetar. Eu não conseguiria pedir para ir, mas iria lutar para que ele fizesse isso por mim.

Gustaf se levantou de sua cadeira, ultrapassando o limite que a mesa impunha a nós.

Volte, desejei em minha cabeça. Por favor, volte! Observei nervosa ele se sentar ao meu lado. Me senti estupidamente estúpida. Era só a ligação! A porcaria do elo que não nos deixava se afastar sem um castigo. A maldição que quase todo lyncan é obrigado a carregar!

— O que aconteceu lá fora pode ser considerado atentado. Tem ideia disso? E não é só por isso. Eu preciso entender o que aconteceu. Preciso saber se a um risco maior por trás disso.

Ele estava sentado na cadeira ao meu lado agora, virado para mim. Como eu desejei nunca ter tido a idéia estúpida da vela! Poderia evitar tanta coisa. Poderia evitar uma morte. Poderia evitar está aqui.

— Não a nem um risco por trás.

— E como eu posso saber?

Me virei em sua direção, apenas pelo impulso de confronta-lo. Nossos joelhos bateram no movimento e logo vi que estava mais perto do que o necessário. Me senti ainda mais estúpida; uma burra impulsiva.

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