Capítulo 21 - Dúvida

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2 semanas depois

ANASTACIA RILEY



Sexta-feira...

- Já se sentiu dividida? Como se... gostasse de algo mas soubesse que àquilo não é pra você? É assim que eu me sinto ultimamente. Estou ficando com uma pessoa e... ela é uma garota. Mas eu não sou lésbica, já ela sim; e é uma lésbica assumida. Os pais são contra, mas respeitam. Já o irmão mais velho aceita, numa boa. Ela é linda e uma pessoa incrível! O problema é que eu não saio na rua com ela justamente porque não quero ser julgada pelos outros. Já basta eu ser motivo de piada para muitos só porque sou gorda. E assim, eu ainda gosto de uma outra pessoa, um cara, mesmo que ele seja um lixo. É como eu disse no começo, estou dividida porque gosto de ficar com ela mas... sinto que a mesma me ama, e eu me acho um monstro pelo sentimento, da minha parte, não ser recíproco. Foi uma aventura, uma experiência. Por um segundo eu senti que não daria certo com homem nenhum e quis ver como seria com uma garota. Agora que já sei qual é a sensação... não quero mais. Tipo, eu estou aqui, tentando contornar o fato de que não a estou usando, mas não tem como. Eu a iludi, a enchi de esperanças. A senhora compreende, doutora Prince?

Perguntei a psicóloga. Eram umas duas da tarde e eu estava no meu horário de almoço. Tinha pelo menos duas horas antes de retornar a agência. Eu ainda não estava falando com o Marcos e nem com a Beck, portanto tive que recorrer a uma especialista. Não podia fazer que nem da última vez e ir correndo falar com a Jasmine, porque o assunto era sobre ela mesma.

- Totalmente. É como uma criança brincando com um brinquedo. O objeto se sente único enquanto a criança está ali, brincando apenas com ele. Mas com o tempo, ela vai perdendo a vontade de brincar com aquele brinquedo porque começa a se interessar por novas coisas. Até chegar o momento em que ela se esquece do objeto e o abandona.

- Em relação a garota que eu fico, eu não vou abandoná-la. Ela tem sido muito importante pra mim. Mudou vários pontos da minha vida pra melhor.

- Você pode citar algum exemplo?

Cruzou as pernas e posicionou a caneta entre os dedos, com o seu bloco de notas por baixo.

- Não fiz faculdade porque achava que eu tinha encontrado minha vocação; que não importava quanto tempo se passasse, eu nunca me cansaria de fazer àquilo. Ela me incentivou bastante a pelo menos começar a estudar algumas matérias, fazer algum cursinho, aprender em casa com um professor particular ou até mesmo ter aulas online. Ela queria porque queria que eu tivesse formação em alguma coisa e eu fui contra, dizendo que não conseguiria acompanhar, que eu já tinha passado da idade... Ela persistiu até me convencer a aceitar. O seu ultimato foi uma coisa que eu também queria que ela fizesse. Foi o seguinte "se você voltar a estudar, eu também volto." É porque ela tinha trancado a faculdade por causa de alguns problemas; não quis entrar em muitos detalhes. O que é engraçado porque... logo no primeiro dia em que nos conhecemos, eu já fui logo contando a minha vida inteira.

Não que ela não confie em mim, acho que deve ser por conta de alguns terem mais facilidade que outros em se abrir. Enfim, ela me ajudou a recuperar minha auto-estima. Eu estava comendo muito e agora estou numa vida mais fitness, indo a academia, comendo coisas saudáveis.

- Você já tem algo em mente sobre o que pretende fazer em relação a isso tudo?

- Acho que devo ser sincera com a garota. Ela não merece ser feita de capacho. Eu já fui e não quero causar a mesma sensação em outra pessoa. Agora, referente ao rapaz, eu vou ser direta e dizer que não quero mais nada com ele. Chega de ser trouxa. Preciso ficar um tempo solteira.

- Você parece estar convicta, achando que isso pode ser a solução para todos os seus problemas. Eu te apoio e também sinto que pode vir a dar certo. Com conversa, tudo se ajeita.

Ela olhou as horas no relógio de pulso.

- Deu a nossa hora.

Me curvei a sua frente e lhe dei um aperto de mão.

- Muito obrigado, doutora. Até a próxima sessão.

Levantei-me do sofá e deixei sua sala.

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