Capítulo 3 - Perdas

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Cheguei lá fora e subi encima da moto, colocando o capacete. Virei a chave para o lado e estranhei por não estar pegando. Tentei uma, duas, três outras vezes. Nada. Isso que da não fazer manutenção. Sabe que coisa velha estraga toda hora.

- Que ótimo!

Respirei fundo, frustrada. Nenhum reboque ou mecânico estaria aberto uma hora dessas. Os taxistas tem hora pra parar e no radar não tinha nenhum uber próximo.

Olhei para os dois lados da rua, tentando achar uma saída. "Ir de a pé pra casa?"

De repente vi, do outro lado, a Becca saindo da festa junto com o seu "amigo" e os dois entrando no carro dele. Quebraria o clima se eu pedisse que eles me deixassem em casa primeiro antes de irem para um motel?

- Quer que eu te dê uma carona?

O mesmo cara que tinha se sentado na cadeira da Becca perguntou, aparecendo do meu lado.

- Está me seguindo por acaso?

- Eu diria salvando sua noite. Tá na cara que você não tem pra onde ir.

- Salvando a minha noite? Depois de tê-la estragado?!

- Tão antipática...

- Não sou de aceitar caronas de estranhos. Então não esquenta, eu dou o meu jeito. Valeu.

- Certamente você não deve saber quem sou eu. Maravilha! A gente resolve isso. Prazer, Zeus.

Estendeu a mão.

- Anastasia

Deixei ele no vácuo.

Aquele homem parecia muito insistente pro meu gosto, o que me deixava desconfiada. O que ele queria? Não que ele não fosse bonito, muito pelo contrário, é que eu já vivi decepções incontáveis do mesmo tipo : um cara gato me chama pra sair, eu aceito e quando é tarde demais, descubro que tudo não passou de uma brincadeira idiota. Isso fez com que eu me tornasse uma pessoa fria, confiasse em poucos e desacreditasse no amor na maioria das vezes.

O rapaz pegou uma chave dentro do bolso e apertou um botão. Do nada apareceu um carro na nossa frente, preto e sem capota.

- Primeiro as damas.

- Alguém já disse que você é muito persistente?

Virei-me para ele e cruzei os braços.

- Foi mal, é que... quando quero uma coisa, eu não desisto até consegui-la.

Me olhou de cima a baixo e molhou os lábios.

Sem pensar duas vezes, tomei-lhe a chave de suas mãos e subi no carro, colocando-a na ignição e dando partida, acenando com a mão. Tá na cara que o bonitão era rico, então acho que ele não vai se importar em perder um carro de... R$ 600.000(?) dólares.

É claro que eu não estava pensando em ficar com o veículo, até porque ele podia me denunciar por roubo e a minha praia era motos. Só fiz àquilo para chegar bem em casa. Qualquer coisa eu deixava em algum lugar, pedia pra ele ir buscar e ainda ensinava uma lição pro galã, de que não se deve pressionar uma garota.

Guardei o carro na garagem do prédio e peguei o elevador até o meu andar. Parei de frente pra porta, ouvindo os gemidos daqueles dois animais ferozes.

- Um motel não era uma opção, gente? Pelo amor!

Disse pra mim mesma, revirando os olhos.

Entrei com a minha chave e vi que o telefone, encima da cômoda do lado da porta, tinha a luzinha vermelha piscando, indicando que havia um recado. Apertei o botão e comecei a ouvir.

"Senhorita Riley, aqui é a enfermeira Abigail, do asilo para idosos. Sinto muito em informar, mas... o seu pai faleceu está tarde. O enterro será cedo, as nove do dia de amanhã. Espero que possa comparecer."

Ao ouvir a mensagem, não acreditei logo de cara. Simplesmente tapei a boca e comecei a chorar, deslizando até cair no chão.

Minha mãe era depressiva. Apesar de ter tomado remédios contra isso durante toda sua vida, nunca se recuperou. Nesse meio tempo, meu pai me deixava sozinha e aproveitava para traí-la.

Ela acabou descobrindo, seu estado piorou e... na primeira oportunidade que teve, suicidou-se . Overdose de comprimentos. Eu tinha 12 anos na época.

Meu pai quem cuidou de mim depois disso. Sabe, do jeito dele. Ele saía pra beber, conhecer mulheres e deixava dinheiro pra pizza. Eu o culpava tanto pela morte da minha mãe quanto por me deixar ainda mais gorda. Tive uma infância bastante conturbada, e várias vezes me peguei pensando em seguir o mesmo rumo que a minha mãe, mas aguentei firme e não me deixei levar.

Aos 18, 19 anos eu comecei com a carreira de modelo. Sai de casa, comprei meu apartamento, conheci a Becca, a chamei para vir morar comigo, meu pai envelheceu, o coloquei em uma casa de repouso -já que eu não tinha tempo de cuidar dele, mas sempre enviava boas quantias e ia visitá-lo quando podia, geralmente uma vez por mês-.

É como dizem, só depois que perdermos algo que a gente da valor. Agora estou arrependida por não ter ido visitá-lo mais vezes, culpa-lo de me engordar e do suicídio da mamãe. Minha mãe era doente e eu tinha escolha, poderia muito bem ter gasto o dinheiro em uma outra coisa mais saudável.

Me levantei do chão e enxuguei as lágrimas, saindo de casa. Desci até a garagem e vasculhei o carro a procura da habilitação do dono. Quando a encontrei, disquei o número do Zeus e esperei até a chamada se completar.

- Alô?

- Zeus, oi. Sou eu, a Anastasia

Funguei o nariz, tentando não transparecer minha tristeza.

- Senhorita Grosseria! Eai, como vai?

- Você ficou com a minha moto ou...?

- Era o mínimo, né? Você pegou meu carro.

- Ah, perfeito! Eu preciso dela.

- E eu preciso do meu carro.

- Vamos fazer uma troca.

- Uma ladra que se redimiu? Tá aí uma coisa que não se vê todo dia.

- Vou fazer uma viagem amanhã e não posso rodar com um carro que não é meu.

- Está bem, eu vou até você.

- Não!

Me lembrei da Becca e do coleguinha dela.

- Eu vou até você.

Precisava pegar essa moto ainda hoje. Se eu deixasse pra amanhã, ficaria muito encima da hora e eu iria acabar me atrasando pro enterro.

- Estarei te esperando.

Ele disse antes de começarmos a trocar informações de endereço.

- Até daqui a pouco.

Encerrei a chamada e entrei dentro do carro, dando ré.

-

******

Oieeee

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O CHEFE - ZEUS ]Onde histórias criam vida. Descubra agora