6 de abril de 2017
9:15hrsDaisy
__Por que me ignora?
Pergunta o senhor Hilme O'Malley, um dos homens mais influentes da cidade. Esse que deve já está careca de saber que eu não irei fazer o que ele quer.
__Senhor, vá procura sua esposa, tenho certeza de que a senhora O' Malley ficará lisonjeada.
Digo enquanto passo suas caras camisas de linho e suas gravatas de seda escutando-o bufar.
É sempre assim, ele fica até mais tarde em casa quando chego as sete da manhã para tentar me convencer a termos um "caso inocente".Não entendo esses homem poderosos que não gostam de suas esposas. Me pergunto o porquê de se casarem com elas então? Status e dinheiro são as respostas que me vem a mente.
O senhor Hilme se aproxima mais com todo o seu corpanzil trabalhado em músculos e massa. É, de fato, um homem distinto e bem apessoado, porém seu caráter o define como cretino boçal.
__Aquela mulher é mais frígida que uma saca de cimento.
Seus termos sempre se baseiam na sua profissão: Engenharia civil.
Saca de cimento e corpo de Kal são os preferidos para se referir a esposa._Vamos, minha bela, eu sei que me deseja só está em estado de negação porque sou casado. Está pondo argumentos desnecessário para não aceitar.
Sempre a mesma ladainha. Quantas vezes terei que recusá-lo? Entenda, eu não o quero.
_Quer sim. Sinto isso.
Diz todo aprumado como um pavão.
Ah é, eu e minha incrível incapacidade de guardar meus pensamentos para mim mesma, eles saem sem que os perceba. É um martírio. Bufo irritada olhando pra ele.__Não me toque, senhor. Posso sem querer escostar esse ferro em sua mão e fazer um pequeno estrago. Isso é abuso e importunação sexual.
Aviso quando ele tenta tocar meu ombro. Nojento. Suspirando vai até a porta do pequeno quarto de empregada da casa e me olha com soberba.
__Um dia você vai precisar de mim e vai me implorar para que eu a tome como merece e simplesmente direi: Agora quem não te quer sou eu, minha bela.
Dito sua proclamação ridícula sai e eu gargalho com vontade. Como pode ser tão asqueroso?
_Não sou de ninguém, e prefiro comer merda a me entregar a esse homem canalha. Help God!
Me recomponho e continuo passando as roupas com paciência adquirida em todos esses anos de trabalho doméstico. Suspiro ao lembrar da minha vida no orfanato " Criança contente". O nome por si só já é uma ironia sem tamanho, mas depois da senhora Medeleny assumiu como diretora as coisas melhoraram bastante.
Mady tentou ser a mãe que eu não tive, cuidou de mim, me ensinou muitas coisas sobre a vida e escolhas, me ajudou quanto a minha vida espiritual. Sirvo ao poder superior e a ele só. O amo e sigo seus mandamentos, não vou muito a igreja mas visito uma igrejinha evangélica protestante que tem perto do meu bloquinho todo o mês para levar meu dízimo e ofertas.
Embora minha vida seja trabalhar 7 dias por semana para pagar meu aluguel, comer e vestir me sinto grata por ao menos ter onde conseguir meu proprio sustento sem mendigar.
Gosto da minha liberdade, gosto do meu bloquinho de alvenaria, gosto das minhas comidas industrializadas e congeladas, gosto de pegar três vezes por semana o mesmo ônibus para vir para a casa do senhor O'Malley, gosto de pegar na terça, na quinta e no sábado o mesmo ônibus para ir a casa dos Albuquerque e gosto de pegar o ônibus para outra cidade no domingo para ir a senhora Marília só para ajudá-la com as roupas e ela sempre me paga certinho. É muito gentil e bondosa.
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Dante : A história de um assassino (CONCLUÍDO)
RomanceEla só queria chegar em seu bloquinho de alvenaria do outro lado da cidade e descansar ouvindo um bom jazz, e teria feito se não fosse presenciar a morte de três pessoas no ponto de ônibus que ela senta toda semana para poder ir pra casa... se torna...