Situação inusitada

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15 de julho de 2017--- 17:21hrs

Dante

_Quem ela pensa que é? A dona de tudo? Argh! Ordinária!

Chuto o sofá descontando um terço da raiva. Daisy vai me pagar! Ela me expulsou do meu próprio quarto! Meu quarto! Essa petulante. Puxo os cabelos quase os arrancando.

_Ela é tão...tão...argh, ela é tudo que pode me perturbar em uma única pessoa. É tão irritante. E mandona.

Digo a Febi que me olha pacientemente. Ao menos me ouve quando preciso. Ranjo os dentes e tesiono a mandíbula tentando me acalmar. Me sento no maldito sofá, a irritação já minguando. Preciso me acalmar...inferno! O que me acalma também me irrita e está lá no meu quarto com seu nariz empinado pronto pra me desafiar.

_Ela vai ver só uma coisa...Não, Febi. Não vou matá-la, não conseguiria...mas vou me vingar.--Fixo o olhar num ponto inexistente e minha mente gira em torno do meu plano que antes era só para mantê-la perto mas agora é para puni-la também.--Ela vai aprender a não me afrontar assim...ela vai. E eu vou sair ganhando, afinal.

Febi lati me tirando do transe em que minha mente estava presa. Olho pra ele e retomo meu autocontrole.

_Nada vai me parar. Não sou um homem benevolente ou altruísta, apenas...apenas tenho desejos e quero realizá-los em breve. Muito breve.

Mudo meus planos, os adianto para essa semana. Não passará dessa semana. Aliso o pelo macio do meu cachorro pensando em onde eu a levarei amanhã. Me levanto e alinho o sofá no lugar. Sigo para meu quarto, entro e a vejo enrrolada nos lençóis, coberta até o queixo. Sento do seu lado na cama, ligo o abajur e olho para seu rosto. Continua inchado e pálido. Toco sua testa e me sinto aliviado ao constatar que a febre diminuiu.

_Por que você é assim? Poderia ser um pouquinho submissa...dócil. No entanto, eu gosto. É ridículo, sabia? Gostar do que te irrita. Querer o barulho quando se aprecia o silêncio...É uma situação inusitada, devo admitir.--Passo os nós dos dedos pelo seu rosto, sentindo a sedosidade de sua pele, os feixes de luz refletindo em seus cabelos castanhos fazendo-os adquirir mechas douradas. Por que ela me atrai?

Afasto um pouco o lençol para tocar a pele de seu pescoço. É tão convidativo aqui. Quente e macia, cheirosa. Mas como fui expulso do quarto não posso me deitar aqui com ela agora, porém isso não se repetirá.

_Está ouvindo, bonitinha? Você não repetirá isso. Você não manda nessa casa e nem em mim, só eu mando nas coisas por aqui.

Sussurro pra ela que dorme a sono solto sem se preocupar com nada. Admiro a confiança que Daisy depositou em mim, traí-la seria abominável mas é exatamente isso que farei. Trairei sua confiança por uma assinatura. E não me sinto mal com isso, o que é normal pra mim.

Fico velando seu sono por um tempo até que decido que estou sendo idiota e vou para meu escritório dar início ao meu plano. Ligo para um dos meus advogados( Não tão honesto) especialista em contratos e sucessões. Exponho minhas cláusulas contratuais e minhas exigências, declaro que não é consentimento da futura cônjuge o assunto relevante do contrato e que quero tudo pronto em espaço mínimo de tempo. Ávila é um bom advogado, uso ele quando o assunto é aparentemente ilegal.

Acesso no meu login da darkweb para adquirir um anel especial. Faço todo o necessário para que tudo saia como quero. Ávila vai agilizar o processo no cartório com a certidão de matrimônio.

Pelo que vi, minha baby já tem assinatura registrada, isso é bom...vou fazê-la assinar na frente do juiz de paz e ela nem vai perceber, estará eufórica tenho certeza.

A noite decorre comigo fazendo telefonemas e recebendo emails. No final estou mais do que satisfeito com os resultados. Vou para a cozinha fazer uma sopa para minha futura esposa. Pobrezinha.

Cozinho sem pressa, ponho tudo na bandeja e sigo para o quarto. Entro, deixo tudo em cima do criado-mudo e tento acordar minha noivinha.

_Daisy? Daisy, baby, acorde. Fiz algo pra você comer. Ei, aqui.--A chamo sentando ao seu lado. Ela se move e olha em minha direção estreitando os olhos por conta da luz. Abre a boca para dizer algo mas, acho que lembrou que não está falando comigo, logo a fecha e evita olhar para mim. Me irrito um pouco com seu descaso no entanto me controlo.--Certo...toma. Come tudo. Volto em quinze minutos para ver se terminou, e sugiro que tenha terminado. Já me irritou de mais para um só dia.--A puxo com cuidado para cima ajudando-a a se sentar. Ponho a bandeja em suas pernas vendo seu olhar confuso e desconfiado em minha direção. Ignoro saindo do quarto sem lhe dar um olhar direto sequer. Sorrio ao fechar a porta e me encostar nela para ouvi-la dizer algo que eu sei que ela vai dizer.

_Hum...aí tem. Se ele pensa que pode me comprar assim está muito enganado.

Prendo o riso ao ouvir sua reclamação. Ouço o tilintar dos talheres.

_Ao menos é bom cozinheiro...e atencioso para um maníaco zangado. Como se eu precisasse disso para perdoá-lo...puf! Sou apaixonada por esse idiota e ele nem sequer faz ideia. Esquece, ele não precisa saber disso mesmo...Não entenderia.

Parei de respirar na sua vigésima primeira palavra. Apaixonada? Meus olhos estão quase saltando das órbitas, o coração, o inútil coração, está batendo rápido, eu o sinto ganhar vida como se uma corrente elétrica passasse por ele e o revivesse. Apaixonada? Sinto um arrepio bom perpassar pelo meu corpo e se concentrar em minha barriga. O que está acontecendo? Parece que vou morrer...

Me afasto da porta porque de repente ela está me fazendo formigar por fora. Engulo meu espanto e ando o mais rápido possível até a área da piscina. Febi me segue como se perguntasse 'o que aconteceu?'. Solto o ar de uma só vez. Apaixonada? O quer dizer?

_Eu...eu sei que as pessoas dizem isso quando mais que gostam das outras...mas o que significa realmente? A-amor...? Ou apenas paixão?

Entro em dilema complicado e agonizante. Amor ou paixão? Dicionário! Corro até meu escritório, vou na terceira prateleira da segunda estante, zona E3 letra D. Pego o grande Aurélio e o ponho afoitamente em cima mesa. A...Ab...Af...Am...Ap!

_Achei! Aqui diz: "Apaixonado. adj. e s.m. Dominado por paixão; namorado; amante; exaltado; entusiasta."--Leio e me sinto frustrado de certa forma. Pensei que era mais que isso. Largo o livro e me viro para Febi.--É só paixão! Pessoas se apaixonam por tudo, isso não é amor. Não é o que eu queria...--Ele sobe no sofá.--Talvez eu tenha esperado mais do que ela está disposta a me dar...Além do que seria um dádiva ter alguém como Daisy me...você sabe,...me amando. Me sinto idiota por ainda esperar algo assim de alguém. Me sinto mais idiota ainda por acreditar nessa baboseira.

Rio sem graça alguma, me sento no sofá do lado do meu cão; Apaixonada...isso não é nada comparado com que quero que ela sinta por mim. Paixão é algo fugaz, passageiro...breve, embora muito fervorosa. Eu quero mais, no entanto o mais não é real, minha teoria sobre a falsidade do amor incondicional está mais consciente em minha mente.

_Acreditarei piamente nisto até que alguém me prove o contrário. Eu pago para ver...

É uma bobagem, é isso que é. Ouço um barulho no lado de fora da sala.

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Dante : A história de um assassino (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora