23 de outubro de 2017
12:18hrsDante
Não solto sua mão desde que a peguei na sorveteria, me sinto aliviado por Daisy estar bem e viva. Mas também estou muito chateado com ela. Porra. Quase tive um excesso quando a mensagem dela chegou no meu novo celular.
Está trabalhando em um novo projeto, calmo e relaxado, crente que minha esposa estava organizando nosso casamento. Despreocupado das coisas, apenas a lembrança da ultrasom onde vi e ouvi meu filho me vinha a cabeça extasiando meu corpo, me enchendo de felicidade e orgulho. Mas essa calmaria se esvaiu em um nano segundo quando li a mensagem que acabara de chegar ao mesmo tempo que Shem chega a minha sala e o telefone da minha mesa toca, tudo isso junto. Já nervoso li a mensagem.
" Oi querido, estou avisando que saí. Não fique bravo comigo, eu sou livre lembra? Não quis lhe incomodar indo até seu escritório, mas ficar em casa relativamente sozinha e sem fazer nada útil estava me agoniado a alma, preciso mesmo desse tempo só pra mim. Vou comprar algumas coisas para nosso casamento e quem sabe umas coisinhas para Drew. Volto daqui à umas duas horas. Até, te amo."
Fiquei completamente sem reação, demorei pra entender o que estava acontecendo. Então o mundo girou e minha raiva subiu um nível alto e perigoso. Rosnei, gritei, xinguei, quebrei, bati...enfim. Virei um inferno, quase matei Juan e Felipe e outros idiotas. Liguei inúmeras vezes para ela mas está com o celular desligado.
Não pude culpar Shem pois ele havia ido resolver um assusto importam pra mim, portanto não pode impedir minha mulher terrorista de sair de casa completamente sozinha. Como ela ousa me pedir para não ficar bravo? Como?
Shem e eu entramos no primeiro carro que vi e viemos atrás dela. A procurei pela cidade inteira, principalmente em feitas, mercados e lojas. Após quase quatro horas procurando a encontrei.
Estava sentada a uma mesa na calçada de uma sorveteria. Tranquila e despreocupadamente, com três tipos de sorvete na mesa e várias sacolas aos seus pés. O alívio quase me fez bater o carro. Estacionei de qualquer jeito e fui ao seu encontro sem me importar com nada nem ninguém, tudo que me importava estava alheia a isso.
Eu queria gritar com ela, sacudi-la e perguntar por que ela faz isso mas tudo que fiz foi abraçá-la com cuidado, talvez estivesse miito cansada ou não quisesse me ter por perto. Acho que nunca perderei o medo de Daisy sair da minha vida novamente, estou sempre com um pé atrás quando se trata de aborrecê-la ou fadiga-la com minha personalidade sufocante. Sei que a qualquer momento ela pode decidir que não me quer mais, como fez a dois meses. E esse é maior e pior medo. De perdê-la, mas se acontecer agora a dor será tão intensa que talvez eu não sobreviva, afinal é ela e nosso filho. Eles são tudo que eu tenho, as únicas coisas boas da minha fodida vida.
Suspiro encarando o banco a minha frente. Não posso perdê-los. Nunca. Me surpreendo quando sinto seus dedos se entrelaçarem aos meus carinhosamente, sua mão direita subindo pelo os meu braço. Me arrepio com o toque.
Eu definitivamente casei com uma terrorista.
_Dante, você está bravo?
Bravo? Ah, não. Agoniado, assustado e chateado talvez, mas bravo? Não, querida. Talvez só um pouquinho. Não respondo e nem a olho. Não estou em condições de conversar agora. A tensão está me matando, se eu tocá-la mais do que devo acabarei de uma vez com essa porra de repouso.
_Certo, já vi que está. Então vai ficar sem falar comigo? Por quanto tempo? Espero que só até a meia noite...
Sua mão pequena, macia e quente aperta meu braço. Me esforço para parecer o menos afetado possível. Vejo, através do retrovisor, Shem tentar esconder o sorriso. Faço o mesmo.
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Dante : A história de um assassino (CONCLUÍDO)
RomanceEla só queria chegar em seu bloquinho de alvenaria do outro lado da cidade e descansar ouvindo um bom jazz, e teria feito se não fosse presenciar a morte de três pessoas no ponto de ônibus que ela senta toda semana para poder ir pra casa... se torna...