Bônus

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22 de outubro de 2017
11:16hrs

Corini

Respiro fundo quando ela desliga. Deus, estava tão perdida! A primeira pessoa em quem pensei ao sentar neste banco foi nela, fazia tanto tempo que não nos falávamos...sinto tanta falta.

Por vezes Daisy foi minha tábua de salvação, minha única amiga, colega de trabalho...As vezes ela era tão distante, nunca fala sobre ela mesma, só me ouvia e não julgava.

Nossa amizade não se aprofundou porque ela não deixou, sutilmente me bloqueava e se isolava. Sabia que era medo, pois eu também tinha o mesmo sentimento. É difícil ter pessoas em sua vida, mais chances de se decepcionar.

Tínhamos muito em comum, garotas sem pai nem mãe, ou parente próximo que nos quisesse. Eu aprendi a lidar com isso e Daisy também. Mas ela tinha medo demais, e eu, cansada de impedir vínculos com pessoas, me permitir tê-la como amiga.

Ajeito minha franja para trás da orelha, guardo o celular nada moderno e fico observando o movimento da rua. Está sem trânsito, carros sobem e descem as avenidas de mão dupla, alguns ciclistas aproveitam o bom tempo para pedalar um pouco ao redor da praça...

Tenho que ir em casa pegar umas roupas e um dinheiro, preciso ver minha amiga Daisy. No caminho, que faço a pé, relembro do ataque do senhor Patife Albuquerque. Desprezível. Cretino. Sinto ranço só de pensar em suas mãos grotescas me tocando os ombros. Fiquei tão grata quando executei um dos golpes das aulas de autodefesa que fiz à um tempo atrás, sabia que as usaria um dia. Espero que aquele nojento esteja gritando de dor ainda.

Abro a porta do meu quarto e kit net alugado, nada além de dois cômodos e um banheiro. Perfeito para alguém sozinho. Tomo um banho demorado, me passo todos meus produtos de limpeza corporal. Tenho que tirar o cheiro dele de mim. Ao terminar ponho um jeans 42 apertado em meu corpo, uma blusa de alcinhas fina de seda vermelha, sutiã nem pensar, e uma sapatilha transparente. De cabelos molhados e soltos começo a arrumar em uma mala de mão roupas e acessórios e produtos de higiene pessoal, uns pares de sapatilhas e uma chinela. Não sei onde Daisy mora certamente mas deve ser em um quarto alugado também, não há necessidade de muitas coisas.

Com tudo pronto pego minhas economias de anos e saio para pegar um táxi até a rodoviária.
Faço sinal para uns três mas nenhum para, não sou atraente o bastante pra conseguir esta proeza. Tento o quarto, que por sorte, para pra mim.

_Bom dia.

_Boa tarde, moça. São meio dia.-- O homem loiro me corrige. Me sinto um pouco envergonhada mas refaço o cumprimento.

_Ah, certo. Boa tarde.

Ele revira os olhos, posso ver pelo retrovisor, castanho-claros e me sinto ultrajada. Estreito os meus para também revirá-los. Idiota.

_Para onde?

_Para onde o quê?

_Santa paciência! Para onde devo te levar?--Mas que ignorante.

_Nárnia.--Pingo de sarcasmo. Ele se Irrita e respira fundo.

_Ok. Deixa só eu trocar o carro por um guarda-roupas...engaçadinha.--Que petulante! Decido me acalmar para não fazer besteira.

_Para a rodoviária, por favor.

Tento ser no mínimo educada. Bufa no ele dirige, liga o rádio e aumenta o volume no máximo em uma música cheia de batidas de rap. Ah, não. Que idiota!

_Abaixa isso!

_O que?

_Abaixa isso imediatamente!--Grito já me sentindo alterada. Ele faz pouco de mim e finge não ouvir, balança a cabeça para frente e para trás feito louco. Minha raiva aumenta. Soco seu ombro.--Abaixa essa porcaria agora!!

Dante : A história de um assassino (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora