Dante : A história de um assassino (CONCLUÍDO)

Conversas

17 de julho de 2017
20:56hrs

Daisy

Estou deitada no chão frio da cozinha tentando controlar minha respiração ofegante, ele está ao meu lado mexendo em meu cabelo, que com certeza deve estar um ninho.

_Você vai precisar de um bom banho, baby.

Rimos quando ele me mostra uma mecha de cabelo toda grudenta de calda. Faço uma careta passando a mão pelo os dele.

_Você também. Está mais sujo que eu.

E realmente ele está.

_A culpa é sua.-- Me acusa fingindo estar bravo. Ergo as sobrancelhas com falsa indignação.

_Minha? Foi você quem teve a ideia insana de passar o chocolate em mim.

_Mas foi você quem começou.

Bufo ainda sorrindo e me levanto.

_Ok, fui eu. Não me arrependo de nada, mas agora vou tomar banho.--Cato meu roupão do chão e Dante se senta.

_Vou com você.

_Só se me pegar antes de eu chegar ao quarto.

_Ei!

Corro da cozinha rindo feito louca com Dante em meu encalço. Chegando no corredor ele quase me pega. Grito.

_Vou te pegar.

Rio mais alto e continuo correndo, o pega-pega é excitante e divertido. A casa é grande então demora um pouco para chegar no quarto mas quando estou quase alcançando a porta ele me pega, me ergue do chão.

_Peguei.

Rio com o coração batendo acelerado no peito. Entramos, o banho foi cheio de mãos bobas. Após nos vestimos sentamos juntos em uma poltrona, já faz um frio considerável.

_Queria perguntar algo.

Começo a conversa que quero ter com ele desde ontem. Dante fita meu rosto esperando. Suspeito que ele já saiba o que é.

_Fale.

_Eu queria saber como vai ser agora que você me deu liberdade.-- Crio coragem.--Eu vou poder sair quando eu quiser? Quero muito ver minha amiga Corini e a Medeleny. Mas também não quero ir embora. Como vou fazer?--Por mais que eu esteja livre me sinto presa a ele de uma forma extraordinária.

_Bem, eu peço que fique aqui comigo pelos próximos três meses, não pense que estou te mantendo presa porque não é isso.--Ele beija minha mão e continua.--Entenda que é por motivos de segurança. Você já parou pra pensar que estão te procurando? Acha mesmo que ninguém chamou a polícia?--Abro a boca para argumentar mas desisto. Dante está certo.--Se você aparecer, assim de repente, farão muitas perguntas. E como você dará respostas evasivas os investigadores iram seguir seus passos. Ficaram desconfiados, e por consequência, você os trará diretamente pra mim, baby. Mesmo que essa não seja sua intenção. Entende?

Deus, ele está certíssimo. Eu o poria em risco mesmo sem querer. Faço que sim.

_És o que faremos. Você fica aqui comigo enquanto eu resolvo este problema. E antes que me pergunte como eu vou lhe dizer.--Sorrio um pouco tímida, ele me conhece tão bem.-- Te darei um celular com um chip cadastrado em seu nome. Você vai fazer ligações para essa tal Medeleny e para sua amiga. Quando elas começarem o questionamento você vai dizer que decidiu viajar deixando tudo para trás. Que não ligou antes porque estava se restabelecendo no novo lugar. Não diga onde, apenas as faça acreditar que você está muito bem e trabalhando como diarista em alguns casas de famílias abastadas. Não conte sobre a gente nem dê pistas de que está com alguém, depois peça para que retirem as queixas de desaparecimento. A polícia vai investigar, rastrearam o número, o histórico de ligações e sua conta bancária novamente. Eu mesmo movimentei seu dinheiro no banco esses meses já sabendo que eles estavam de olho em saques e depósitos feitos por você.

Fico abismada com tudo o que ele diz. Nossa, como é inteligente. Sorrio orgulhosa. Beijo sua bochecha com carinho. Dante sorri com ternura.

_Durante esses três meses você vai manter contato com elas, vai dizer que em outubro vai visitá-las. Então tudo será resolvido. A polícia dará o caso por resolvido e você vai poder vê-las pessoalmente.

Ele termina sua orientação e eu fico mais que satisfeita.

_Tudo bem. Mas e enquanto eu fico aqui com você? Eu vou poder sair?--Outra pergunta que estava na ponta da língua. Dante sobe e desce a mãos pela as minhas costas e braços.

_Aí já um pouco mais complicado. Deixa eu explicar. Eu tenho muitos inimigos, sou bem conhecido no submundo. Há pessoas lá fora que dariam tudo para ter uma oportunidade de me matar. --Me arrepio. --Até a polícia me caça, mas nunca vão me achar. Tenho tripla identidade, todas legitimadas pela lei. Posso ser três pessoas sem problemas. No entanto ninguém sabe disso, só você agora

Me impressiono com a confissão e também me comovo por ele depositar tanta confiança em mim.

--Eu estou, há vinte anos, em um secreto programa de proteção a testemunha. Sou testemunha de um crime assustador e o estado tem a obrigação de me proteger das pessoas que querem me matar. Tenho um sósia vivendo no Canadá como se fosse eu. O próprio estado não faz a remota ideia de que estão protegendo a pessoa errada pensando que sou realmente eu, meu padrinho fez tudo muito bem.--Dante sorri sombriamente.

_Em qualquer situação de perigo iminente eu posso voltar para o Canadá e viver tranquilamente por lá e ninguém teria como me achar. É tão irônico que eles protejam um criminoso. Mas eu tenho um negócio antigo para gerenciar por aqui. Você sabe o que eu faço, eu não posso parar nunca.

Fico muito curiosa.

_Nunca? Mas por quê?

_Porque sou o herdeiro do meu padrinho, e se tinha uma coisa que aquele desgraçado era era ser ardiloso demais. Ele deixou ordens a alguns dos seus melhores mercenários para me matar caso eu um dia abandone o Império.

Sinto um frio terrível no estômago. Apenas a hipótese dele morrer me dói.

_Não se preocupe, eu tenho uma estratégia perfeita para quando eu estivesse farto dessa vida eu pudesse me livrar sem morrer no processo. Não posso te contar por motivos óbvios, bebê. Então, entendendo o contexto, você percebe que sair daqui sozinha é muito, muito perigoso? Ninguém, além dos seguranças sabe de você mas ariscar é idiotice.--Recebo seus carinhos e me agarro nele.

_Eu entendo. Vou ficar aqui, prometo não sair sozinha.--Selo minha promessa com o gesto de sempre.

_Isso não quer dizer que você não vá sair, vou levar você a alguns lugares. Não será confinada de novo. Pode circular pelos arredores da casa sem problemas, só tome cuidado para não ter acidentes, por favor.--Coro. Sou tão desastrada.

_Sabe o que sinto por você, me mataria se alguma te tirasse de mim. Mas primeiro mataria o que tirou você de mim.

Engulo em seco. Essa revelação é assustadora. Ele me beija e o sentimento que transmite através do beijo destoa completamente da verdade ferina de suas palavras. E quando termina me encara dominado pela paixão.

_Eu te amo, Daisy. E eu não sei como amar direito, posso machucar você.

Sua confissão é tão crua e sincera que faz meu coração se aquecer embora eu tenha um certo medo do que eles quis dizer com 'machucar'. Seguro seu rosto entre as mãos e digo carinhosamente.

_Eu não me importo se você me machucar, pois eu sempre vou perdoar você. Não é algo que eu possa controlar. Vou te perdoar sempre porque te amo. Sem condições, Dante. Eu só te amo.

Falo a verdade que está cravada em meu peito. O perdoaria sim, mas isso não é garantia para uma vida juntos. Ficamos ali abraçados pensando no quanto o futuro é incerto.

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