Amor de verdade

7.4K 663 61
                                    

22 de outubro de 2017
8:43hrs

Daisy

Suspiro pela milésima vez dentro desses cinco minutos. Estou com tanto tédio, nem mesmo a redecoração da casa é capaz de me animar.

_Estamos sozinhos, querido.

Acaricio minha barriga soltando mais um suspiro, até Febi está fora de casa, foi ao Pet Shop. Olho ao redor. Os raios do sol se escondem por trás das nuvens densas mas branquinhas, as árvores em volta do jardim sussurram baixinho em resposta aos ventos vindos do oeste que também jogam meus cabelos em meu rosto. Embora esteja de manhã parece tarde, isso não me impediu de vir aqui para fora respirar um ar puro enquanto Dante e Hil saíram.

Ainda não acredito que ele a levou para se matricular em uma faculdade. Foi algo totalmente inédito e antinatural que nós pegou, Hil e eu, de surpresa. Depois que descemos para o café da manhã Dante, após ter terminado o seu, se levantou e disse:

_Vamos Cassandra, vou te levar para conhecer a faculdade na qual você vai estudar. Saímos em cinco minutos.

Quase me afoguei com meu suco e Hil engasgou com um pedaço de pão francês. Dito isso ele me beijou avisando que estava indo ao seu escritório rapidamente para pegar uns papéis. Atônita só pude acenar em concordância.

Quando ele saiu nos entreolhamos aturdidas e confusas. Porém, um minuto depois, sorri. Entendi o que Dante estava fazendo, cumprindo sua promessa de cuidar da Hil comigo. Me enchi de amor e orgulho dele.
Suspiro só de lembrar. Ele a tratava como se fosse uma criança na maioria das vezes, no entanto parecia que ela era uma filha para nós dois. Entendi isso e incentivei Hil a ir mesmo que ela estivesse apreensiva. A apressei em se ajeitar para sair, e como um relógio, depois de exatos cinco minutos Dante apareceu. O agradeci silenciosamente com um beijo que ele retribuiu ternamente. É nessas horas que vejo nele o que me fez apaixonar. Seu lado bom. Humano. Filantrópico.

Levanto do banquinho de madeira de lei muito charmoso, tiro os chinelos e deixo os pés tocarem a grama verde e vistosa, macia e úmida da chuva da madrugada. Sinto vontade de deitar nela mas não o faço. Tenho perdido um pouco da minha mobilidade e coordenação por causa da gravidez, meu corpo está mais pesado, meus movimentos um pouco lentos também...enfim.

Mas me sinto incrível, saber e sentir que há uma vida se desenvolvendo em meu ventre me faz tão bem comigo mesma, me trás paz e segurança. Perspectivas boas de um futuro promissor. Alegria e felicidade plenas. Amor infinito e coragem, essa última que eu nunca tive em abundância em minha vida, sempre fui meia covarde.

Me limitava em quase tudo, tinha medo de encarar coisas novas e me cercava de barreiras autopreservativas. Fui sozinha desde que me lembro, em minha memória não há sequer a efêmera lembrança de ter tido pais um dia, nem alguém que me amasse verdadeiramente como filha. Tinha Medeleny, mas sabia que ela só teve compaixão da pobre garota órfã, embora nutrisse uma boa quantidade de afeto por mim.

Também tive Corini, uma amiga não tão íntima mas que eu apreciava muito a companhia e a opinião sempre decidida e firme sobre diversos assuntos, porém também sei que ela não me amava de verdade. Éramos amigas de trabalho.

Paro e abraço o grande e comprido tronco da imponente castanheira. Percebo que tudo que eu secretamente almejava era ter alguém que me amasse verdadeira e sinceramente. Como Dante. Que prova esse amor todos os dias. Quando acorda e sorri pra mim, quando venera meu corpo com incomensurável paixão me deixando crer que sou a mulher mais linda que já viu, quando me mima, faz minhas vontades por mais bestas que sejam, quando me faz sorrir tão largamente só com um olhar ou gesto... São infinitas as provas dele quanto a isso. Sorrio apertando mais a árvore em meus braços, a solto quando minha pele começa a coçar. Ouço passos atrás de mim e sei de quem são.

Dante : A história de um assassino (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora