Péssimo sequestrador

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6 de maio de 2017
18:32hrs
Dante


Observo ela dormir agarrada a minha mão. Seu sono é inquieto, como se a cama estivesse coberta de formigas ou espinhos.

__Daisy...Daisy...Daisy...

Lembro-me das minhas últimas pesquisas. Ela é órfã, mora sozinha, tem 23 anos, solteira, trabalha todos os dias, sua casa é minúscula e bem arrumada...enfim, uma jovem mulher solitária.

Eu tinha esquecido dela essa manhã, tinha tanta coisa para resolver nos assentamentos que esqueci que mantenho uma testemunha em cativeiro...uma bela testemunha.

__Você deveria ser uma mulher menos bonita, sabe? Com bigode ou deformada, sei lá...mas não assim, com uma carinha de ninfa.

Falo com a bela adormecida que se apossou da minha mão sem permissão. A retiro devagar para não acordá-la e me ergo sentindo um negócio estranho. Que merda é essa agora?

__Essa garota é problema, Dante...e dos grandes.

Mas droga, eu adoro um problema! Ela deveria estar a sete palmos abaixo da terra e não aqui no meu quarto de hóspedes...E eu ainda a esqueço aqui e nem água ela bebeu.

__Sou um péssimo sequestrador mesmo...

Pego as cordas do chão e ajeito a cadeira. Ela tem que ficar comigo, já que não consigo dar um fim nisso vou ter que mantê-la sob escrutínio. Vai ficar aqui.

__E aquela tendinha onde ela morava não era nenhum pouco segura...

É, ela fica. Shem está curioso pra saber quem é e por que está aqui, mas ele não precisa saber nada além do que eu lhe conto. Vou esperar ela acordar para conversarmos.

Olho-a uma vez mais e saio do quarto rumo a cozinha. Febi está na porta e me encara afetadamente.

__O que é? Perdeu alguma coisa?

Passo direto por ele, mas como é um debochado Febi me segue. Abro a geladeira e procuro algo para minha nova hóspede.

__Ela só come porcarias, congelados, industrializados, aditivados...

Foi isso que achei em sua geladeirinha pobre, comida de supermercado e congelados...refrigerantes e sucos artificiais. Tudo que faz mal ela come, mas eu irei corrigir esse seu mal hábito.

__Naturalize essa pequena, Dante.

Faço um risotto de soja e lentilha, suco de laranja com hortelã e assim vou fazendo um jantar decente. Sou vegetariano flexível, vez ou outra como carne vermelha ou branca. Foi escolha minha logo que estabilizei minha vida, as onze anos. As horas vão passando e eu ouço som de passos, ela acordou. Meu coração dispara não sei nem porquê.

Finjo que não percebi que ela está tentando fugir e o que me espanta é que Febi não latiu pra ela e nem fez alarde. Sinto seu olhar, isso é estranho, e decido me manifestar.

__É impossível sair dessa casa sem minha autorização, baby.

Me viro a tempo de ver sua expressão chocada. Ela está toda descabelada, descalça e amedrontada. Seus olhos cor de jujuba se arregalam e ela fica paradinha de frente para mim. Desligo o fogo e dou a volta no balcão. Puxo uma cadeira.

__Senta.

Mando mas ela é tão ou mais desobediente que meu cachorro. Respiro fundo reunindo paciência e vou até ela, pego seu braço sem nenhuma delicadeza e a faço sentar na cadeira. Sua reação é tentar fugir mas felizmente sou muito mais forte que ela.

Dante : A história de um assassino (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora