Capítulo 58: Confidências

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Um caminho de roupas se espalhava pelo chão da cozinha em direção ao sofá no qual o Professor e Raquel trocavam carícias enrolados em um cobertor. Era uma cena tão comum e caseira que por um momento eles até se esqueciam de onde estavam e em que situação. Deitada nos braços dele dividiam um pote de sorvete de chocolate tentando não derrubar aonde não deviam.

- É melhor que você segure o pote. Coordenação não é meu forte. – disse ele com um sorriso.

- Tem medo de sujar o sofá e levar bronca dos companheiros de quarto? – ironizou ela.

- Na verdade, me preocupo com a opinião do proprietário mesmo. – explicou logo em seguida abrindo a boca pois ela lhe oferecia uma colher cheia de sorvete.

- Tem razão. Precisamos arrumar essa bagunça antes que eles cheguem.

- É a primeira vez que eles saem em quatro meses. Acho que temos tempo de sobra ainda. – garantiu, acariciando o cabelo dela.

- Ótimo porque tem uma coisa que ainda não fizemos aqui. – fez ar de mistério.

- O que? – quis saber curioso afinal eles já haviam batizado praticamente todos os cantos daquele lugar e agora estavam dando um descansada para repor as energias.

- Estrear aquela banheira. – ergueu uma sobrancelha com um olhar lascivo.

- Raquel... – suspirou dando uma leve risada. – Mas antes precisamos conversar sobre uma coisa... – começou fazendo uma pausa para olhar para ela.

- O que? – ela não o encarou, completamente compenetrada no pote de sorvete.

- Me desculpe por não lembrar da camisinha antes, você quer que eu compre uma pílula do dia seguinte ou... – antes que ele terminasse, ela tapou os lábios dele.

- Pode ficar sossegado, Sérgio. – interrompeu, rindo do nervosismo dele. – Eu tomo injeção anticoncepcional todos os meses. – garantiu.

- Hum, desde quando? – perguntou surpreso.

- Desde a primeira noite que estivemos juntos. Eu deduzi que uma hora ou outra íamos acabar esquecendo da camisinha. Prefiro ter eu mesma o controle da minha fertilidade. – explicou em um tom calmo. – Sem ofensa.

- Não estou ofendido. Eu entendo. Mas... – engasgou-se. – Você já pensou se quer ter mais filhos? – as mãos dele tremiam por antecipação, pois qualquer resposta que ela desse o deixava igualmente nervoso.

- Não sei, você quer? – jogou de volta pois também nunca tinha parado para pensar no assunto, já que seu casamento fracassado não fazia com que ela tivesse a intenção de ter mais filhos.

- Para falar a verdade nunca pensei sobre isso. – confidenciou com sinceridade. – Nunca tive relacionamentos longos o bastante para chegar nesse assunto. – afirmou timidamente.

- Eu nem sei se ainda tenho idade para isso. – suspirou ela, acariciando o peito dela.

- Não existe apenas uma maneira de ter filhos. Você poderia adotar. – fez uma pausa e logo acrescentou: - Se quisesse é claro. – pigarreou de forma nervosa.

Raquel sentiu que o assunto o deixava inseguro e desconfortável e deu um sorriso, beijando-o logo em seguida. Como podia um homem que a fazia tão bem ser ao mesmo tempo um criminoso procurado. Ela que viu sempre o mundo em preto e branco agora estava presa nos tons de cinza. Sérgio era um homem bom, mas esse mesmo homem planejou um crime. Ao mesmo tempo, seu ex-marido não era um homem bom, porém nunca cometeu crimes. Pela primeira vez ela se via percebendo como os conceitos de certo e errado podem mudar facilmente.

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