CAPÍTULO: 28

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CAPÍTULO: 28

 

Normani tornou a descer, vestida com calça jeans e blusa branca de algodão de mangas compridas. Helen nunca a vira naquele tipo de traje. Só a via no escritório em “tailleurs”, maquiada. Agora a via em trajes que realçam sua verdadeira personalidade. Era muito mais atraente assim. Ela a olhou com aqueles olhos magnéticos e Helen sentiu um arrepio.

-- Já tomou o desjejum ?

-- Não, estava esperando-a.

Normani olhou para a bandeja sobre a mesinha. Sentou numa poltrona e serviu-se de um copo de suco de laranja.

-- Coma o mingau primeiro – aconselhou Helen – o suco é ácido e seu estômago está vazio.

Normani sorriu, bebendo o suco de uma só vez. Colocou o copo na bandeja e pegou sua tijela de mingau.

-- Estava com sede – justificou-se – E você? Não vai comer nada?

Helen serviu-se de um copo de suco e de uma torrada, passando manteiga  de amendoim e olhando para Normani, que comia o mingau sem muita vontade, de cabeça baixa.

-- Normani, não acha que seria bom ir-se daqui? Esse foi o local do crime. Isso é muito deprimente. Phil Scott disse-me que você está liberada, já prestou depoimento e não é uma suspeita. Somente deve informá-lo para onde for.

Normani a fitou com olhar sombrio.

-- Não sou suspeita?! Todos que rodeavam Anahi são suspeitos, Helen! Precisava ver as perguntas que me fizeram! Perguntas de ordem pessoal, que nunca me tinham feito em toda minha vida. Mas tiveram que me liberar porque sou inocente. Sabem que quem matou Dinah Jane Hansen foi a mesma pessoa que a raptou, descontente com a posse dela na presidência da Portilla Corporation. E eu não tinha motivos para isso. Pelo contrário, só tive a perder.

-- Entendo... mas, insisto na pergunta: não gostaria de sair daqui?

-- Tenho casa na Filadelfia. Mas não quero voltar para lá. Eu dividia a casa com uma pessoa que não quero ver mais. O apartamento de Dinah deve estar nas mãos da família, mas nem que eu pudesse, não voltaria para lá. Não tenho estrutura para ficar naquele lugar sem Dinah

Helen a fitou com ar ansioso.

-- Moro em um apartamento confortável na rua 59, com esquina para o Central Park. Você pode ficar lá comigo, até resolver o que vai fazer de sua vida. Moro só e  o apartamento tem espaço para mais uma pessoa.

Normani a olhou indecisa.

-- Você mal  me conhece , Helen. Como pode me oferecer isso?

-- Conheço-a o suficiente. Talvez mais do que você pensa.

Normani sorriu com amargor.

-- Sei, conhece minha vida privada pelos jornais. Sei que eles expuseram a minha vida. Só não podem afirmar que eu era amante de Dinah porque meu depoimento foi sigiloso e a família dela poderia processar os jornais por calúnia à memória dela.

-- A polícia concorda com a imprensa?

Normani a fitou nos olhos, um olhar firme e direto.

-- Helen, sei que já sabe que Dinah e eu éramos amantes. Não precisa disfarçar. E a polícia sabe também. Eu contei toda a verdade. Eles não podem revelar meu depoimento porque eu não sou culpada e meu advogado pediu sigilo para proteger-me. Mas a imprensa já fez seu trabalho. Sei que todos sabem e comentam minha ligação com Dinah. É, você deve saber tudo de mim. Não sei como não tem medo de estar comigo.

Helen estendeu a mão e a pousou sobre a de Normani, olhando-a nos olhos. A mulata ficou surpresa em ver neles um calor inimaginável, em uma quase estranha.

-- Eu a entendo, Normani. E respeito seus sentimentos. Quero, se possível, que confie em mim e pense que só desejo ajudá-la.

Os olhos de Normani se encheram de lágrimas. Ela se sentia tão perdida e só!

-- Não, você não pode entender o que sinto, Helen. Esse vazio, essa sensação de que nada mais importa, essa dor!

Normani começou a tremer. Levou as mãos ao rosto, curvando-se para a frente. Helen aproximou-se e pousou as mãos sobre as dela, tentando retirar suas mãos do rosto.

-- Não chore, Normani... não adianta. Você tem que ser forte e esquecer. A vida continua.

Normani retirou as mãos do rosto. Não estava chorando, mas o seu olhar era desesperado.

-- Ah, se eu pudesse chorar! Mas não consigo mais! – Gemeu – A dor agora é grande demais, para ser extravasada em lágrimas! Eu só queria morrer! Isso que queria!

Helen resolveu ser dura:

-- Normani, pensei que fosse forte, mas vejo que é muito fraca e não sabe enfrentar uma tragédia! Reaja! Sua vida continua! Não adianta ficar aí se lamentando pelos cantos, enchendo a cara de bebida! Não seja masoquista e volte a viver! Quantas pessoas passaram por perdas semelhantes e tocaram suas vidas para frente! Não seja covarde e reaja!

Normani a esbofeteou, revoltada por suas palavras. Helen foi lançada para trás e caiu de costas no chão, olhando-a surpresa e magoada.

Normani ficou imóvel, olhando-a . Helen passou a mão pelo rosto. Olhava-a com tanta mágoa nos olhos, que Normani baixou os olhos, arrependida e envergonhada por sua agressão.

-- Sentiu-se melhor fazendo isso? – Perguntou Helen, com voz trêmula.

Normani sacudiu a cabeça, negativamente. Ergueu-se do sofá e estendeu as mãos para ela. Helen aceitou suas mãos para levantar-se. A mulata não as soltou. Levou-as aos lábios, beijando-as e a fitando nos olhos.

-- Perdoe-me, Helen. Você não merece isso. Está sendo tão amiga, e eu a agredi. Mas, entenda que não foi à você que agredi. Foi à mim mesma. Você tem toda razão. Eu precisava ouvir essas coisas que me disse.

Helen sorriu. Disfarçou à custo a emoção de ter as mãos beijadas por ela. E o toque das mãos de Normani a deixava de um jeito que teve de reagir com uma brincadeira:

-- Que direita forte você tem! E eu pensando que estava fraca! Podia desafiar até o Tysson!

Normani sorriu, achando graça no modo dela falar e na comparação com o boxeador. Helen sorriu também. Normani subitamente ficou séria. Olhou-a surpresa. Helen a fitou curiosa.

-- O que foi?

-- Não notou? Eu sorri! Você conseguiu fazer-me sorrir! Não pensei que pudesse mais fazer isso! Quer saber de uma coisa? Vou com você para sua casa. Isso, se ainda você aceitar dividir seu espaço com uma pessoa como eu.

Helen sorriu de pura felicidade.

-- Oh, Normani! É claro que aceito! E estou muito feliz em ver que já está voltando a ser aquela Normani que conheço!

•N̸o̸r̸m̸i̸n̸a̸h̸• ✓ F̶A̶T̶A̶L̶  I̶N̶H̶E̶R̶I̶T̶A̶N̶C̶E̶Onde histórias criam vida. Descubra agora