CAPÍTULO: 31

236 12 0
                                    

CAPÍTULO: 31

 

Sei que vocês ficaram decepcionadas com a morte da Dinah. Mas lembrem-se que sempre existe uma segunda chace!!!!

Quinze dias se passaram. Helen voltara a trabalhar, mas ligava para Normani várias vezes por dia, perguntando se estava bem, e precisava de alguma coisa. Vinha do trabalho direto para casa, ansiosa para estar com a mulata, sempre trazendo um agrado para ela: bombons finos, biscoitos, frutas. Estava feliz em ter ela ali em sua casa e demonstrava isso , sem poder conter-se.

Normani sentia a dedicação de Helen e se comovia com isso. Mas passava os dias andando pelo Central Park, onde se refugiava em um banco à beira de um lago, olhando para a  água plácida, pensando em Dinah. Ou então, tentava escrever, mas sua inspiração se fôra. Via filmes na tv, mas não conseguia prestar atenção à estória. Em suma, continuava sofrendo a perda de seu grande amor, mas agora a dor era mesclada com a conformação que o tempo traz, mas ainda sentia desesperadamente a falta dela, e a certeza que nunca mais a teria nos braços a fazia sentir um vazio e tristeza infindas.

Evitava demonstrar sua dor à Helen. Não queria mostrar-se uma companhia chata, que só ficava deprimida. Ela estava tão alegre em tê-la em casa! Devia ser muito carente, era uma pessoa muito só.

No fim de semana, foram fazer compras, por insistência de Helen, que disse que ela precisava ocupar sua mente. Compraram mantimentos para mais duas semanas, lancharam em uma lanchonete e chegaram em casa cheia de pacotes, Helen rindo de Normani, que fizera  questão de carregar a maior parte e deixara um pacote espalhar-se no chão.

-- Viu, eu sabia que você estava  exagerando! – Comentou Helen, vendo Normani depositar sobre a mesa da cozinha os pacotes com ar afobado, esforçando-se para não os deixar cair – Mas você é impossível, Normani! Quer mostrar-se mais forte do que é na realidade!

Normani a fitou com ar vitorioso.

-- Mas eu consegui trazer! Vamos, admita que sou mais forte que você!

Helen riu, fitando-a.

-- Quem disse que você é forte? Quem a convenceu disso?

Normani a  fitou subitamente séria.

-- Dinah. Ela dizia que eu transmitia força e vitalidade.

O sorriso de Helen morreu. Olhou-a com ar sombrio.

-- Ah! Bem, vou guardar esses mantimentos.

Normani notou a mudança dela. E ficou olhando-a curiosa. Já havia notado que Helen não gostava que tocasse no nome de Dinah. Antes, pensava que ela temia que tivesse uma crise, lembrando de Dinah. Mas agora começava a desconfiar que o motivo era outro. Naqueles dias juntas, muitas vezes flagrava Helen fitando-a embevecida, na mesa do jantar, na sala, quando viam tv e no quarto. Será que Helen estava apaixonada por ela? Se isso estava acontecendo, lamentava. Porque seu coração estava tomado pelo amor à mulher que mais amara na vida, e não poderia corresponder à paixão de Helen.

-- Vou ajudar você a guardar as compras – Disse, pegando algumas latas de alimentos.

Ela sorriu, parecendo recuperar o bom humor.

-- Está bem. E hoje vou fazer um jantar caprichado para você. Vamos comemorar sua vinda para cá. Já faz quinze dias que veio.

-- Comemorar minha vinda?! Helen, não sou tão importante assim, para merecer uma comemoração!

Ela a fitou nos olhos.

-- Para mim é.

Normani a encarou, séria.

-- Por que sou importante para você?

Helen desviou o olhar, começando a guardar as compras no armário sobre a pia.

-- Porque gosto de você.

-- Não sei por que é tão boa comigo. Sou uma pessoa insuportável – Disse, olhando-a atenta.

-- Não, não é. Você, quando quer, é uma pessoa muito  legal.

Normani a fitou, vendo naqueles olhos um brilho estranho. Helen parecia querer dizer mais do que dizia.

A campainha da porta tocou. Normani olhou para Helen, que se imobilizara e olhava para a porta de cenho franzido.

-- Está esperando alguém?

-- Não... espere aqui, vou ver quem é.

Helen dirigiu-se para a porta e olhou pelo visor. Teve uma contração no rosto de aborrecimento. Era a sua antiga colega de trabalho, Susan. Uma devoradora de homens, que só aparecia em sua casa de ano em ano, para saber de sua vida e comentar com os outros.

Abriu a porta com um sorriso contrafeito.

-- Olá, Susan.

Ela sorriu largamente, abraçando-a como se fosse sua melhor amiga. Afastou-se em seguida e a olhou apreciativamente, com sua falsidade habitual.

-- Como você está bem! Os anos passam e você continua a  mesma garotinha, Helen!

-- Obrigada, Susan.

Ela foi entrando, rebolando os quadris marcados pela calça justíssima. Os cabelos ruivos estavam longos e bem cuidados como sempre.

Susan era uma mulher bastante atraente e sabia disso. Os homens viviam em sua volta como zangões em época de reprodução caçando a abelha-rainha. Os olhos verdes eram atrevidos e convidativos, diziam eles.

-- Querida, mudou os móveis da sala? – Perguntou Susan, olhando em volta – Quando vim aqui a última vez, não eram esses!

-- Mudei Susan. . . – Respondeu Helen, fechando a porta – Estou ocupada, guardando as compras que fiz. Fique à vontade.

Ela seguiu Helen e entrou na cozinha. Normani a olhou, com algumas latas nas mãos. Seu olhar estava indiferente, como se a chegada de  Susan não a afetasse, o que tranqüilizou Helen, que temia que Normani se sentisse atraída por ela.

Já Susan arregalou os olhos, surpresa.

-- Oh, está com visita!

-- Não é visita, Susan. Apresento-lhe Normani kordei. Está hospedada aqui.
 

Ela olhou para Dulce intrigada.

-- Normani kordei. . . esse nome não me é estranho.

Normani depositou as latas na mesa e estendeu a mão, séria.

-- Muito prazer, Susan. Não creio que me conheça.

Ela apertou a mão de Normani e deu um gritinho.

-- Ah! Já sei! Vi você na tv com Dinah Hansen! É isso! Quando ela foi libertada do rapto! E depois que ela morreu, sua foto e a dela apareceram  nos jornais, mais uma vez! Você era a . . . amiga dela!

Normani percebeu a ênfase maliciosa com que ela pronunciou a palavra “AMIGA”. Sabia o que ela estava pensando. Que era amante de Dinah, como os jornais haviam insinuado. Soltou a mão dela, voltando a colocar as latas no armário.

•N̸o̸r̸m̸i̸n̸a̸h̸• ✓ F̶A̶T̶A̶L̶  I̶N̶H̶E̶R̶I̶T̶A̶N̶C̶E̶Onde histórias criam vida. Descubra agora