CAPÍTULO: 39

235 15 0
                                    

CAPÍTULO: 39


Wilfred tirou um envelope lacrado da pasta e começou a abri-lo, assistido pelo seu assistente.

Normani olhou para os Hansen, dando uma tragada em seu cigarro. Seu olhar se fixou em allyson. O seu novo modo cínico e revoltado de encarar a vida a fez olhar a mulher como um brinquedo para divertir-se. A outra Normani sincera e desinteressada estava afogada numa onda de revolta.

Que mulherão, allyson Hansen! – Pensou. Desde que conhecera Dinah, não se impressionava tanto com a beleza de uma mulher. Ela tinha uma beleza invulgar.

Allyson, como que atraía pelo seu olhar, voltou a cabeça lentamente e a olhou. Normani a fitou também, imperturbável, sem demonstrar nenhuma reação àquele olhar furtivo que a percorreu. Ela voltou a cabeça, deixando de olhá-la. Normani teve vontade de rir, ao pensamento que lhe veio: e se allyson Hansen se interessasse por ela? Seria engraçado, no mínimo. Sua adversária. Ela devia saber de seu caso com Dinah Jane, evidentemente. Só o fato dela estar ali, sem fazer parte da família, já comprovava isso.

Wilfred pigarreou e disse, erguendo a voz:

-- Vamos dar início à leitura do testamento que Dinah Jane Hansen ditou-me em seu gabinete na Hansen Corporation, no dia dois de junho de dois mil e quatro.

Todos olharam para o tabelião. Ele tomou fôlego e começou, com voz sem entonação.

____________________

“-- Eu, Dinah Jane Hansen, com vinte e nove anos de idade, solteira, em total uso de minhas faculdades mentais e físicas, perante o tabelião Wilfred Thompson, decido de livre e espontânea vontade fazer de minha herdeira Normani kordei, solteira, trinta anos, escritora, de  60% das  minhas ações da Hansen Corporation.“

Uma exclamação de surpresa interrompeu a leitura. Normani olhou. A mãe de Dinah se pusera
De pé, junto com o filho. Ambos olharam para o tabelião, furiosos.

-- Isso é uma brincadeira ! – Gritou Taylor Hansen – Minha filha estava louca!

Antony Hansen olhou para Normani, apontando-a . Ela o fitou imperturbável. Mas por dentro, tremia.

-- Essa vagabunda seduziu a minha irmã! E agora vemos o que queria!

O tabelião fitou-os, imperturbável. Ele devia estar acostumado com essas cenas em leituras de testamento.

-- Posso prosseguir a leitura? – Perguntou, calmamente.

Antony hesitou, mas tornou a sentar-se, puxando a mãe pelo braço. Ela sentou-se com uma expressão de ódio.

____________________

O tabelião  pigarreou novamente e prosseguiu:

“ – Reservo que os dez por cento das ações restantes do total de setenta por cento, faço doação de cinco por cento à minha mãe, Taylor Hansen, e os outros cinco por cento ao meu irmão, Antony Hansen. Quanto aos meus bens imóveis, tais como: um apartamento na Quinta Avenida, uma casa na praia de Malibu, faço deles herdeira Normani kordei, com tudo que neles se encontra, desde móveis à obras de arte. Esclareço que faço essas doações à Normani kordei pela dedicação, apoio e afeto manifestados em vários momentos de dificuldades que passei, contra quem repudio qualquer ação que venha frustrá-la de receber essas doações. Minhas jóias, abaixo discriminadas, lego à minha mãe: um colar de pérolas cultivadas no valor de cem mil dólares...”

O tabelião continuou a descriminar as jóias com voz sem entonação. Mas parecia que ninguém prestava mais atenção ao velho, todos olhando para Normani. Ela recebera o filé da herança. Taylor Hansen e o filho, as migalhas.

Normani notou o olhar de ódio de Taylor. Ficou com o  rosto impenetrável, sem mover um músculo sequer. Mas dentro de si, aquela herança que Dinah lhe legara fazia sua cabeça dar
voltas. Era muito dinheiro e poder. Conseguiria manobrar tudo aquilo? Tinha até medo. E agora ela seria a principal suspeita da morte de Dinah. Estava claro que todos iam pensar que matara ela por causa daquele testamento. Ninguém acreditaria que o desconhecia.

Antony também a olhava com ódio. Até o entendia. Afinal, a herança da família ir parar em mãos estranhas, era uma coisa difícil de engolir. E ele estava furioso com a migalha que recebera. Queria mais.
 

Allyson olhou mais uma vez para Normani, que leu naqueles olhos um interesse furtivo. Claro, ela sabia de sua preferência sexual e agora que era a herdeira principal da empresa, tornara-se importante aos olhos dela.

Olhou-a com um olhar cínico, encarando-a nos olhos. Ela enrubesceu e desviou o olhar.

Gary Miller, o gigolô de Taylor, a fitava com ar de conquistador. Para ele, as mulheres deviam ser uma fonte de renda.

Voltou a olhar para allyson, esperando novo olhar. Mas ela não voltou a fitá-la. Normani não conseguiu prestar mais atenção à leitura do testamento. Aquela bela loura a atraía. Olhava para as longas pernas cruzadas, de meias finas, e sentia-se invadida por pensamentos de luxúria.

O tabelião encerrou a leitura e ergueu-se. Distribuiu cópias do testamento para Taylor e o filho, entregando o original a Normani. Sorriu para ela e disse baixinho:

-- Parabéns, senhorita kordei.

Normani ergueu-se. Nada mais tinha a fazer ali. Todos já estavam de pé, com a família Hansen discutindo acidamente o testamento. Somente allyson se mantinha calada, ouvindo-os com um rosto impenetrável. O olhar dela pousou mais uma vez em Normani, que sustentou-o. Ela tornou a desviar os olhos.

Allyson aproximou-se de Normani, com ódio no olhar.

-- Peço que agora se retire de minha casa. Sua presença é um insulto para nós. – Disse, com voz contida.

Normani sorriu com cinismo, fitando-a nos olhos.

-- É  o melhor convite que me fez. Sua casa me faz mal.

Foi até o tabelião, cumprimentou-o, cumprimentou o assistente e dirigiu-se para a saída com passos provocantes, não sem antes olhar de soslaio para allyson. Ela a seguiu com o olhar até sair.

Pegou o seu carro e saiu em disparada. Estava com uma sensação de irrealidade. Aquilo era um sonho? Não. O testamento no banco ao lado comprovava os acontecimentos.

Ela agora era uma mulher rica, com poder. Possuía sessenta por cento da Hansen Corporation!

Mas essa idéia não a alegrava. Aquilo significava que arranjara inimigos e o assassino de Dinah agora se voltaria contra ela. E a polícia iria considerá-la com um bom motivo para ter assassinado Dinah. Que ironia do destino! Ela, que amava Dinah verdadeiramente, seria a suspeita principal da morte dela.

Devolveria de bom grado aquela herança, se a morte de Dinah tivesse ocorrido em circunstâncias normais. Não tinha sede de poder e de muito dinheiro. Já achara aqueles duzentos e cinqüenta mil dólares dinheiro demais, para suas ambições. Aquela herança traria em seu rastro muita dor de cabeça e perigo. Mas queria respeitar a decisão de Dinah. Se ela havia decidido que a mãe e o irmão não a mereciam, é porque sabia de algo que não os tornavam merecedores desse prêmio. Tinha que respeitar a decisão dela e tentar descobrir o responsável pelo seu assassinato. Aí, tomaria uma decisão sobre a herança.

Do dinheiro que ela depositara em sua conta, comprara aquele carro. Ainda tinha o bastante para comprar um bom apartamento em New York.

O que faria com o apartamento da Quinta Avenida? Morar lá? Não, não teria coragem. Nem de vendê-lo, estava cheio de recordações de Dinah. Ela o havia decorado, haviam morado juntas, tinha roupas e objetos pessoais dela. Deixaria fechado, até resolver o que fazer.

•N̸o̸r̸m̸i̸n̸a̸h̸• ✓ F̶A̶T̶A̶L̶  I̶N̶H̶E̶R̶I̶T̶A̶N̶C̶E̶Onde histórias criam vida. Descubra agora