CAPÍTULO: 34

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CAPÍTULO: 34

 

-- Vejo que chegou a hora da verdade. Vejo que já sabe. Sim, Normani, eu a amo. Desde que a vi lá na empresa, sentí-me atraída por você e com o passar dos dias, apaixonei-me. Mas nunca falei à você deste amor, nunca pedi nada a você!

-- E não vai pedir nunca?

A voz de Normani soou rouca.

-- Não. Sei que não me ama, sei que é apaixonada por uma mulher morta – Disse, com amargor –
Mas não pode querer impedir-me de sentir o que sinto. O que quer? Humilhar -me, tripudiar sobre os meus sentimentos? Dizer que nunca sentiria por mim o mais ínfimo desejo, porque não chego aos pés de  sua amada?

Normani a segurou pelos ombros, com um olhar firme.

-- Helen! Jamais faria isso! É o que pensa de mim? Que sou uma mulher fria e cruel, que teria prazer em humilhá-la? Não, Helen. Não sou assim. Seu amor me comove, você é uma mulher maravilhosa. Mas não posso amá-la, porque meu coração ainda é de Dinah. Helen, o que gostaria de mim, não posso dar.

Helen a fitou com olhos brilhantes.

-- Você me deseja, Normani? Diga! Sente pelo menos desejo por mim?

-- Você é uma bela mulher, Helen. Mas eu estou arrasada, cheia de sofrimento, sem nenhum objetivo na vida, incapaz de amar outra mulher, entende?

Helen sacudiu a cabeça negativamente, com olhar suplicante. Os olhos cheios de lágrimas, o peito ofegando de emoção.

-- Normani! Será que não entende que eu a amo tanto, que me contentaria com o que pudesse dar-me? Normani, só quero poder amá-la, poder mostrar à você o meu amor, ser sua! Se sente desejo por mim, saiba que eu me daria à você sem pedir nada além disso!

Normani a fitou com fria revolta.

-- Helen, respeite meu sofrimento! Eu perdi o amor de minha vida, Helen! Ninguém me fará esquecer Dinah! Eu não posso prender-me a ninguém, será que não percebeu que estou como uma folha morta, sem rumo na vida? Quem se aproximar de mim sentimental mente, vai se ferir!

-- Nada importa, se posso ser sua! – Disse, arrebatada, jogando-se nos braços de Normani – Tudo valerá à pena, para ter você, Normani! Eu a quero desesperadamente, quero ser sua, mesmo que me tenha só por desejo! Sem pressões, sem cobranças!

Helen apertava-se contra ela, soluçando. Seu corpo tremia, as mãos apertaram o rosto de Normani e subiram para os cabelos, enterrando os dedos neles, nervosas e suplicantes.

Normani fechou os olhos e a apertou contra o corpo, contagiada com a paixão que explodia na voz de Helen. Ela sentia-se tão perdida e revoltada! Revoltada contra o destino que lhe havia arrebatado a pessoa que mais amava. O maldito destino, que agora jogava em seus braços outra mulher cheia de paixão, oferecendo-se à ela. O que devia fazer? Repudiá-la e sair dali e mergulhar na escuridão de  seu sofrimento? Ou aceitar a mão que se estendia para ela com uma oferta de carinho e esperança? Ela estava afogando-se em sofrimento quando Helen surgiu em seu caminho como  um raio na escuridão, fazendo-a reagir e tentar voltar a viver. E a gratidão a engoliu e a fez cometer um erro: subjugou-se à paixão de Helen.

Helen ergueu o rosto para ser beijada, a boca entreaberta, os olhos suplicando.

Normani desceu o rosto e esmagou a boca contra a outra que tremia. E a língua dela invadiu sua boca como  que uma súplica de desejo. Sugou sua saliva, com as mãos trêmulas apertando-a, o corpo tremendo de emoção pelo desejo concretizado.

Normani desceu as mãos, alisando e explorando  as curvas e reentrâncias do corpo que se oferecia com loucura. A boca  de Helen a sugava com ímpeto, como se quisesse sugá-la  toda para si. Normani se sentia perdida no mar de paixão que era o corpo de Helen se entregando, ela se grudava em seu corpo como se tivesse medo de Normani a deixar.

Ah, se ela fosse Dinah! Como ficaria feliz, cheia de desejo!

Não foi preciso muito para sua mente desesperada formar a ilusão. De olhos fechados, não foi difícil imaginar que era Dinah quem a beijava, quem a apertava nos braços, que lhe sussurrava palavras de amor.

Normani a puxou para a cama. Suas bocas se desgrudaram mas logo Helen a beijou pelo rosto todo, ofegando:

-- Meu amor... meu amor.... amo-a
...amo-a . . .

A mão de Normani alcançou o interruptor da luz, ao lado da cama. No escuro era mais fácil pensar que estava com Dinah. Helen ergueu-se para se despir rapidamente e voltar para a cama nua e quente, caindo nos braços de Normani.

Foi um ato cheio de desespero, cada uma pensando no que seria depois que a realidade voltasse.

O êxtase final. As duas se deixaram ficar imóveis, esgotadas, sentindo o cansaço do ato produzindo um delicioso relaxamento.

Normani não sentiu remorso por ter usado Helen para fabricar sua ilusão. Ela não  havia mentido, havia sido honesta com Helen sobre o que sentia. Se ela aceitava uma relação assim, o risco dela era consciente.

Depois de um longo silêncio, Helen falou, com sua voz cheia de felicidade:

-- Normani, como me fez feliz! Sinto-me como se estivesse nas nuvens. . .

-- Cuidado para não cair dessas nuvens, Helen – Respondeu Normani, voltando o rosto para ela - Lembre-se que não prometi nada à você. Um dia irei embora e se você iludir-se comigo, vai sofrer muito.

-- Normani... com  o  tempo, não  poderia  amar-me ? Sou tão inferior à Dinah, assim? – Perguntou, humildemente, fitando-a com ansiedade.

-- Que complexo é esse, Helen? -- Perguntou, surpresa – Você não é inferior à Dinah, nunca disse isso! Você é linda, uma mulher inteligente, desejável, amiga. . . mas eu não a amo. Essa é a diferença entre Dinah e você, para mim. Quando amamos uma pessoa, a vemos por uma ótica mágica, em que ela se torna perfeita.

-- Mas então, essa mágica pode repetir-se entre nós.

-- Não acredito, Helen. Pra mim, o amor é à primeira vista. Quando vi Dinah, apaixonei-me instantaneamente. O amor se manifesta quando olhamos a pessoa desejada. Sentimos logo que vai ser diferente das outras relações. Ficamos dominados por um fascínio mágico. Quem diz que amou aos poucos, conhecendo a pessoa, está confundindo admiração pelo que essa pessoa é com amor. O amor não tem lógica, amamos mesmo se o caráter da pessoa for o pior possível, porque não vemos os defeitos que os outros percebem, envolvidas na magia.

-- Discordo. Quanta gente reconhece que a pessoa amada não presta, e continua amando-a!

Normani sorriu.

-- Isso não é amor, é uma paixão doentia.

-- Então, acha que nunca poderá amar-se porque não aconteceu essa magia que diz entre nós?

-- Sim. Não espere isso de mim, Helen. Só posso sentir por você desejo.

Ela a abraçou com a paixão luzindo nos olhos.

-- Pois que seja! Quero-a de qualquer jeito, Normani! Eu a amo e não vou privar-me da felicidade de tê-la, mesmo que isso não dure muito tempo! Viver é um risco, Normani. E ser feliz, também.

Normani a fitou com admiração, abraçando-a também.

-- Disse uma coisa certa, Helen. A felicidade é um risco que corremos, porque não dura para sempre. Veja o que aconteceu comigo e Dinah. Nossa felicidade era tão grande, e não durou muito. Tem razão. Viva o presente, que o futuro é incerto. Mas agora, vamos dormir.

Helen aconchegou-se em seus braços e fechou os olhos. Normani permaneceu acordada, pensando:

-- Meu Deus, o que fiz? Dinah... oh, Deus... eu a traí...

•N̸o̸r̸m̸i̸n̸a̸h̸• ✓ F̶A̶T̶A̶L̶  I̶N̶H̶E̶R̶I̶T̶A̶N̶C̶E̶Onde histórias criam vida. Descubra agora