Havia seis ou sete pessoas na sala quando entrei. Ela estava deitada em uma cama alta, um foco de luz muito forte e grande logo acima da sua barriga. Em volta dela, o obstetra que seria o responsável pela cesariana, uma mulher ao seu lado, mais outra perto de uma bandeja cheia de pequenos objetos metálicos e cortantes, um homem que parecia checar sua pressão e outras pessoas que não me dei ao trabalho de analisar.
A sala era clara e espaçosa, mas o ausência de casualidade e de vozes despreocupadas me fazia sufocar.#Gustavo: Oi, amor... - Falei perto do rosto dela, fazendo-a se virar para mim e me encarar ali. Ela sorriu em resposta, soltando uma leve lufada de ar, como se estivesse mais tranquila por me ver ali. Mas não falou nada. Ela parecia sonolenta, e eu imaginava que tinha algo a ver com a anestesia.
#Leandro: Tudo bem? - Ouvi a voz do Dr. Leandro soar abafada por debaixo da máscara, e ao encará-lo, notei que a pergunta não havia sido direcionada a mim, mas sim a uma das pessoas ali perto.#Enfermeiro: Tudo bem. - O homem do outro lado da cabeça de Cecília respondeu.
E então, as pessoas ali começaram a se comunicar entre si, passando e repassado objetos enquanto cortavam com cuidado a pele da barriga dela. Segurei uma das suas mãos com firmeza, agoniado por ter a impressão de que ela sentia dor. Mas ela não reclamava. Tudo que fazia era permanecer calada e neutra, olhando para o vazio no teto da sala.
Eu não queria assistir o que eles faziam com a pele da barriga dela. Não porque passaria mal de alguma forma, mas porque, sinceramente, tudo que eu queria ver saindo dali era o meu filho: Bem, saudável e chorando alto. Estava mais concentrado no semblante completamente neutro dela, porque mesmo que aquilo fosse normal, eu não conseguia me convencer de que estava tudo bem.
Ela parecia calma demais.#Gustavo: Está tudo bem? - Falei muito baixo, perto do seu ouvido. Ela apenas sorriu e piscou, muito lentamente, assentindo vagamente com a cabeça.
Os médicos se mexiam para lá e para cá. O homem ao lado dela continuava monitorando os sinais vitais. O tempo parecia não passar, talvez porque estivéssemos com pressa em retirar meu filho de dentro da barriga dela.
#Gustavo: Vai ficar tudo bem. Já já vai acabar. - Falei aleatoriamente, segurando sua mão com força enquanto tentava empregar um tom de casualidade na voz. Ela piscou mais duas vezes.
Ela deu um sorriso calmo, e só. Parecendo cansada de manter os olhos abertos, ela os fechou e ficou daquela maneira por algum tempo. O aperto que sua mão fazia na minha afrouxou um pouco.
#Gustavo: Seus pais estão aí fora. - Soltei de repente, apenas com o intuito de mantê-la distraída - Eles vieram assim que souberam...
#Leandro: Tenho que cortar agora.– Ouvi o médico falar, parecendo mais distante do que realmente estava. A mulher próxima à bandeja com os objetos se mexeu com um pouco de pressa, e três outras pessoas começaram a se agitar por ali.Respirei fundo, tentando não transparecer a preocupação. A sala estava quente demais para mim. Levei minha mão livre à testa de Cecília e brinquei com alguns fios que estavam ali, grudados no suor dela também. Eu não via nada que acontecia na cirurgia, porque havia um lençol estrategicamente colocado entre nós e os médicos que cuidavam da operação. Era um pouco angustiante supor o que estava acontecendo apenas pelas reações que eram verbalizadas.
#Leandro: Vamos logo...– Ouvi o Dr. Leandro dizer outra vez, e sua voz tinha um tom de urgência. Não era pressa, mas sim algo mais, em um tom bastante baixo. Talvez propositalmente baixo. – Está sangrando muito.
Respirei fundo outra vez. Meu coração não estava bem. Eu não estava bem. Queria que aquilo terminasse logo, mas cada segundo parecia se arrastar por horas. Cecília havia aberto os olhos novamente, mas eles piscavam tão devagar que, a cada piscada, pareciam não ter forças para se abrirem outra vez.
A energia do outro lado do pano começou a aumentar. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas não parecia estar tudo como deveria estar.
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Unidos Pelo Destino (Concluída)
RomanceO destino as vezes lhe prega peças cruéis, para que você consiga encontrar o caminho da felicidade. Assim aconteceu com Cecília e Gustavo. Duas vidas... Duas histórias... E um algo em comum... Quais as peças que o destino usou para juntar esses dois...