capítulo 112

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Assim que chegamos no hospital, me deparei com a difícil tarefa de parecer normal. Eu havia prometido acatar ao pedido de Cecília, repetido exaustivamente durante todos os 15 minutos de viagem (que, em condições normais, deveriam ser feitos em meia hora).
"Não faça um escândalo".
"Seja normal".
"Nervosismo é uma coisa. Pânico é outra". Na recepção.

#Gustavo: Boa noite. Minha mulher entrou em trabalho de parto e precisa ser atendida. - Comecei, tentando engolir o grito para as três mulheres da recepção.

Como imaginei que elas não me levariam a sério, me apressei em adicionar: - O obstetra mandou que ela viesse o mais rápido possível.

Uma das mulheres, talvez notando a força que eu fazia para não explodir ou talvez notando que Cecília estava mesmo em trabalho de parto, se apressou em conseguir uma cadeira de rodas em algum canto ali perto da recepção. Ajudei-a a se sentar com cuidado, e uma nova onda de contrações a atingiu.

#Recepcionista: Vocês têm que preencher alguns dados desse formulário... - Uma delas começou, claramente não entendendo a situação.
#Gustavo: Eu preencho o que você quiser, mas coloque a minha mulher em um quarto primeiro!
#Enfermeira: Vocês são o casal do Dr. Leandro? - Uma outra mulher perguntou.
#Cecilia: Sim... somos - diz com dificuldades.
#Enfermeira: Ele já está esperando. Vou levá-los até lá.

Tudo que tivemos que fazer foi andar por um longo corredor. Cecília na cadeira de rodas, eu com um formulário nas mãos e a enfermeira caminhando. Entramos em um elevador e em seguida chegamos a uma sala verde-bebê enjoativo. E mesmo sendo tudo o que tivemos que fazer, a coisa toda pareceu demorar mais do que tinha que demorar.

Cecília não deixou escapar nenhum som. Ela parecia querer manter suas dores em silêncio, mesmo que suas contrações ficassem mais constantes e aparentemente mais fortes a cada minuto. Sem saber o que fazer para ajudá-la, e tendo certeza que nada do que eu tentasse surtiria efeito, apenas fiquei ao lado dela o tempo todo, repetindo coisas como "tudo vai dar certo" e "já estamos chegando".

Eu estava angustiado. Angustiado porque não podia fazer com que sua dor passasse. E porque meu filho queria sair dela à força. E era claro que eu sabia que isso aconteceria algum dia, mas vê-la se contorcendo daquela forma só tornava tudo um pouco mais desesperante.

#Leandro: Boa noite! - O Dr. Leandro disse assim que entramos na sala de pré-parto. Havia mais duas mulheres lá dentro, parecendo serem suas auxiliares de parto, que o ajudaram com a tarefa de levantar Cecília da cadeira e sentá-la em uma cama alta.
#Gustavo: Doutor, ela está com muita dor! - Me apresei em falar, não lembrando de retribuir o "boa noite" dado - O senhor não pode dar algum remédio...
#Leandro: Gustavo, ela está em trabalho de parto. Não há muita coisa que possa ser feita. A única coisa que vai fazer com que a dor passe é o nascimento do bebê.

O rosto dela se contorceu outra vez, e outra vez me contorci também, por instinto.

#Leandro: Ei, já preencheu o formulário? - Percebi que ele estava falando comigo.
#Gustavo: Quê? Não...
#Leandro: Ótima hora pra fazer isso. Volte daqui a uns quinze minutos, ok?
#Gustavo: Quê? - Exclamei, surpreso - Não! Não vou deixá-la sozinha...
#Leandro: Gustavo, nós temos que seguir alguns procedimentos aqui. - Ele se voltou para mim, falando com uma autoridade de médico e, ao mesmo tempo, de pai - Eu tenho que fazer alguns exames nela, e você não tem que ficar grudado à sua mulher o tempo todo. Não se preocupe, você vai estar presente no parto. Mas não precisa estar presente na tricotomia.
#Gustavo: Mas...
#Leandro: Nós só vamos mudar a roupa dela e checar se está tudo bem. Não tem porquê se preocupar, ok? Vá preencher seu formulário, ligue pra quem tem que ligar e tome um calmante antes que eu mesmo injete um em você à força.

Respirei fundo tentando me controlar. Encarei Cecília outra vez e notei que ela estava no breve período de trégua entre uma contração e outra...

#Gustavo: Amor... - Comecei, me aproximando dela e sentindo uma enorme vontade de me desculpar. Mesmo que não fosse por vontade própria, eu tinha que sair. Antes que me tirassem de lá à pontapés.
#Cecilia: Vai. - Ela falou em um tom de voz baixo, e eu sabia que Cecília não estava sendo rude, mas apenas evitando falar demais e deixar escapar algum gemido de dor.

Me aproximei do seu rosto e a beijei apaixonadamente, empregando intensidade suficiente para que ela entendesse que eu voltaria e que estava odiando ter que deixá-la naquele momento.

#Gustavo: Estou de volta em quinze minutos. - Falei contra o seu rosto, encarando-a nos olhos - Eu vou voltar. E quando voltar, não vou sair do seu lado.
Ela assentiu com a cabeça de forma simples.

Me forçando a dar meia volta e caminhar para fora da sala, eu saí.

Unidos Pelo Destino (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora