capítulo 36

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  Helena

Contra a minha vontade, coloco um pedaço de carne na boca e mastigo na marra.Tomo o suco rápido e limpo a boca.

Russo: Isso! muito bem!

Helena: Estava ótima a comida, eu já terminei. Obrigada.—Ele passa o polegar direito no meu rosto.

Russo: Tens um rosto tão lindo.. uma pele tão macia. Sabe, Helena, tu me faz lembrar muito da sua mãe.

Olho pro Morumba que come com total foco em seu prato.

Helena: Por que a minha mãe?

Ele dá sinal para seus capangas fecharem a porta, o que me assusta.

Russo: Há 21 anos atrás, eu trabalhava como jardineiro em uma mansão na Barra da Tijuca. Lá morava uma mulher e um homem que tinham acabado de se casar. Ela era muito nova, tinha 18 pra 19 anos.

Russo: O homem um pouquinho mais velho, tinha 23. Eu na época com 21, ainda não tinha me metido nessa vida, então trabalhava como jardineiro naquela casa. O marido dessa mulher trabalhava o dia todo, chegava em casa as oito da noite e saia logo de manhã as sete. Ela passava o dia inteiro sozinha em casa, tão só.

Russo: Até que um dia eu terminei o meu serviço mais cedo e ela me chamou pra tomar café com ela. Era uma mulher tão bela, jovem, sadia, sempre foi, mas parecia até um anjo de tão linda. Foi nesse dia do café que aconteceu: Nosso primeiro beijo. E ali nasceu o amor, o amor verdadeiro.

Russo: O amor que essa mulher não sentia por seu marido mas sentia por mim, por que eu a satisfazia de todas as maneiras. Nutrimos esse amor dentro daquela casa por quase 2 anos, escondido. Quando eu fiz 24 anos, entrei pra vida no tráfico, então ela passou vir até mim. Ela morria de medo de favela também, assim como você, mas eu dava a total segurança pra ela.

Russo: Eu comecei a ter dinheiro fácil, pude começar a dar presentes a ela como o marido dela dava, até a pedi em casamento, mas ela não aceitou porque não aceitou meus padrões de vida. Então ela engravidou. Ela ficou desesperada, sem saber o que fazer, me procurou e me garantiu de que a criança era minha.

Russo: Eu naquela época não podia nem pensar em ter um filho, minha vida estava só começando então não aceitei a criança. Ela disse que eu não precisaria me preocupar pois ela iria assumir a criança como filha do marido, Jorge Fernandes.

Olho pra ele negando.

Helena: Não..— Balanço a cabeça negativamente.

Russo: Elaine!—diz apaixonado.— O nosso amor teria dado tão certo. Mais tarde procurei tua mãe, disse que queria trazer você pra morar comigo, trazer ela, disse que eu queria te conhecer.

Russo: Mas ela disse que tu já tinha se acostumado chamar o Jorge de pai e os caralho a quatro. Continuamos juntos em segredo por mais um ano, eu era o amante dela. Nós nos amávamos. Ela só estava com o teu pai por causa de você, pra te dar uma vida na classe alta.

Russo: Então anos mais tarde eu tive que ir embora pra Brasília. Quando voltei ela tava grávida do teu irmão mais novo e não quis mais nada comigo, acho que ela aprendeu a amar o marido dela.

Começo a chorar como se cada palavra daquela fosse um tiro em mim.

Helena: Isso é mentira. Minha mãe nunca faria isso, ela não mentiria assim, minha mãe sempre amou o meu pai, sempre amou nossa família.

Russo: E também amava a mim.—Ele coloca em minha frente um envelope marrom.

Russo: Eu fiz questão de ter o exame de DNA pra ter certeza de que tu era minha filha, porque de começo eu achei que a Elaine tava mentindo memo. Aí quando tu nasceu, nois já deu um jeito de fazer a porra do exame.

Abro o envelope e pelo tipo do papel, velho e fino, parecia mesmo que foi feito a muitos anos.

Vejo a data: 26/04/1998
Meu aniversário é 07/04/1998.

Olho o nome completo da minha mãe no papel, o meu tipo sanguíneo, meu nome completo, impressões digitais, o nome completo do Russo que é Ronaldo Pedroso Marechal, e no fim da folha a confirmação.

Começo a chorar com falta de ar olhando aquilo.Levanto da mesa e acabo derrubando alguns copos no chão sem querer.

Helena: Não.—tusso chorando.— Não é, isso é tudo uma farsa. Minha mãe..—falta-me o ar.—minha mãe não, ela não faria isso. Meu pai nunca a perdoaria, eu nunca iria perdoar!—grito chorando.— Isso é mentira.

Russo: Olha como tu é branquinha e loirinha igual a mim.— sorri pra mim.— estou muito feliz por ter te encontrado minha filha.

Ele vem até mim e passa as mãos em meus ombros.

Russo: agora podemos ter uma relação de pai e filha, poderemos fazer tudo o que um pai e uma filha fazem. Seremos melhores amigos! — Diz empolgado.

  Horas depois|

Volto pro quarto e vejo o Pedro dormindo e o Jediel também já dormia, no sofá.Vou pro banheiro chorando. Aquilo foi muito pra mim.

Saber que minha mãe mentiu pra mim a vida inteira, que enganou meu pai, que traiu meu pai! É recusável! A minha mãe, que eu tanto amava, que eu considerava a minha melhor amiga, mentiu pra todo mundo, se envolveu com um homem louco e nojento desse e ainda teve a coragem de trair e enganar meu pai dizendo que a criança era dele.

Infelizmente não era mentira daquele verme, e nem brincadeira. O exame comprovava tudo.

Entro no chuveiro e tomo um banho, e na tentativa de tentar esquecer daquilo, começo a pensar no Gabriel.

Helena: Ai, Gabriel—falo comigo mesma chorando.— eu queria tanto você agora.

Continuo chorando e fico mais de uma hora debaixo do chuveiro, fico até eu me acalmar por completo e parar de chorar.

Soraya

Corro com a moto até a boca do Chagas. Subo correndo pro escritório dele e o vejo todo machucado limpando o sangue do rosto e fazendo seu próprio curativo.

Soraya: Meu Deus.—Ele só me olha rápido e volta a fazer o que estava fazendo.

Soraya: Olha como tu tá.—Vou até ele.

Soraya: Tudo por causa daquela menina infeliz.—Ele não diz nada e continua sem me olhar.

Soraya: Fala comigo!—Ergo rosto dele e o vejo chorando.

Soraya: Tu.. tu tá chorando?—Ele abaixa a cabeça e então eu o abraço.

Chagas: Ela ficou lá e eu não pude fazer porra nenhuma — diz chorando no meu ombro.— ela disse que me amava e eu não falei nada pra ela, eu não falei que eu amava ela também, agora ela pode não voltar mais e eu posso nunca mais ver ela, e ela não ouviu de mim o que ela queria ouvir, caralho. Eu tô bolado, porra. Eu sou um merda, mermão.

Minha vontade é de começar dar risada da maneira que ele fala, mas seguro.

Soraya: Escuta — ergo o rosto dele.— me escuta. Tu não a ama, tu gosta dela. É diferente. O que ela queria ouvir não era o que ela tinha que ouvir. Tu precisa descansar e parar de se gastar por essa garota, cacete. Ela faz todo mundo em volta dela pagar pelos erros dela. Olha o seu estado, tu tá CHORANDO! Ela fez o Jediel que não tem nada a ver com a porra toda ficar lá.

Chagas: Ela não tem culpa.

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