capítulo 62

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Helena

Fico olhando o Thiago eufórico no colo dele por uns cinco minutos.

Chagas: Oi, amor.— Me dá um selinho.

Helena: Oi.— Sorrio sem mostrar os dentes.

Chagas: Cê tá bem?— Faz carinho no meu cabelo.

Afirmo e me sento na cadeira. O Thiago no colo dele fica colocando o dedo nas tatuagens dele.

Chagas: Que saudade que o pai tava de você, meu amor.— Fala beijando e abraçando o Thiago.

Thiago: Papai, eu queo que voci volta pa nossa casinha.

Abaixo a cabeça em silêncio enquanto o Gabriel conversa com ele, fico pensando em como dizer, que palavras usar pra tentar evitar ao máximo não chorar na frente do meu filho.

Helena: Já sabe quanto tempo vai ficar aqui?

Chagas: A primeira audiência é amanhã. Ai a segunda audiência na sexta que define a pena máxima e pena mínima, mas o juiz quer me fazer uma proposta na terceira. Ai eu dou a resposta oficial na quarta e última audiência.

Helena: Ah sim.

Chagas: Que que foi?

Olho pra ele e nego com a cabeça já com os olhos encharcados.

Chagas: Gata, olha pra mim.

Olho pra ele e respiro fundo.

Chagas: Que que aconteceu?

Não falo nada por não conseguir, se eu abrisse a boca eu ia chorar.

Chagas: Que que a mamãe tem, Thi?

Olho pra ele e respiro fundo.

Helena: Gabriel, a gente vai ter outro filho.

Ele ri e continua olhando pro Thiago.

Chagas: Ah agora não né, amor. Transar na cadeia não é legal, tá ligado? Quando eu sair dessa porra nois faz outro filho, quantos tu quiser.

Fico em silêncio por uns cinco minutos e então tento falar de novo.

Helena: Acontece que não dá pra esperar mais..

Chagas: Porra, Lena. Então tá ué, cola aí amanhã sem o nenê que..

Helena: Não, Gabriel! Não dá pra esperar mais porque já tá feito, a gente já fez. Eu tô grávida, Gabriel. De novo. A gente vai ter outro filho.

Ele me olha fixo com cara de assustado, como se tivesse levado um choque, com os olhos arregalados e com sua respiração rápida, ele coloca o Thiago no chão.

Chagas: Não, Lena..—fala suave sem acreditar.— Não pode ser, amor.

Vejo a tristeza em seu olhar e deixo escorrer as lágrimas que eu não aguentava mais segurar.

Helena: Eu.. eu não sei o que te falar, eu não sei o que fazer, o que sentir.. eu não sei!— Falo falhando por começar a chorar-.

Ele deita a cabeça pra trás respirando fundo e esfrega o rosto com as mãos.Pego o Thiago no colo e dou o celular pra ele assistir desenho.

Chagas: Puta que pariu.

Helena: A gente.. a gente já passou por tanta coisa, essa vai ser só mais uma. Eu tô bem, eu.. eu vou ficar. Já passei por isso uma vez, não vai ser difícil.— Falo secando o rosto.

Chagas: Eu tô te deixando sozinha de novo, tá ligado? Eu não vou tá contigo de novo, entendeu? não vou tá lá pra te dar apoio, pra segurar tua mão, pra tá lá no dia que nascer. Eu fudi tudo. De novo.

Viro o rosto começando a chorar de novo.

Helena: Mas eu não vou te abandonar. Tá bom? Eu vou vir, toda semana eu vou vir. Vou te mostrar as fotos, todas as ultrassons, a gente vai dar um jeito tudo bem?

Chagas: Eu não quero filho meu nascendo e tendo que vir me ver na cadeia, Helena. Eu não quero ser esse pai pros nossos filhos. Eu já tô me fudendo com o nosso moleque aí, daqui uns dias vai ter apresentação de dia dos pais na escola e eu não vou estar lá, tá ligado? no dia do aniversário dele, nas datas mais importantes. E agora a gente vai ter outro, e vai ser do mesmo jeito, Lena.

Ele fala de uma maneira tão triste, tão abalada, que eu posso garantir que nunca o vi numa tristeza tão profunda assim.

Helena: Mas agora não tem mais o que fazer! -falo chorando- eu não vou interromper, não vou tirar. É uma criança!

Thiago: Mamãe, poque voci tá cholando?— Passa a mão no meu rosto.

Helena: Tá tudo bem, meu amor—beijo a mãozinha dele.— olha o carrinho olha, que cor que é? -falo distraindo ele com o desenho.

Thiago: Azul!

Ele continua atento no desenho e eu abaixo a cabeça chorando.O Gabriel não fala nada, ele fica quieto por uns dez minutos, aparentemente pensando.

Chagas: Escuta.

Ele segura minha mão.

Chagas: Eu prometo, juro, pra você que quando eu sair daqui a gente não vai ter mais essa vida.Eu não vou mais assumir porra nenhuma naquela favela, a gente vai viver tranquilo, Helena. Vamos criar nossos filhos em paz.

Afirmo com a cabeça enquanto choro o olhando.Conversamos mais um pouco e então o policial interrompeu dizendo que acabou o tempo.

Ele me dá um abraço forte e eu me desmancho naquele abraço, chorando e soluçando, de desespero, medo. Eu queria ficar ali abraçada com ele pra sempre, é onde eu posso chorar sem medo.

Helena: Por que que isso tá acontecendo com a gente?— Soluço.

Ele passa a mão no meu cabelo e sinto ele chorando também.

Chagas: Vai dar tudo certo, vida. Fica calma, não se desespera assim.—Faz carinho no meu cabelo.

Ele me olha e limpa minhas lágrimas.

Chagas: Eu amo você.

Ele me dá dois selinhos e um beijo rápido. Em seguida, pega o Thiago no colo e, meio emocionado, fala calmo com ele.

Chagas: Se comporta, não faz arte pra mamãe não se estressar contigo porque agora ela tá com o seu irmão dentro da barriga dela e ela não pode ficar passando nervoso.

Thiago: Tá bom, papai.— Abraça ele.

Ele me olha com os olhos carregados de água.

Chagas: Cuida da mamãe.

Ele entrega o Thi nos meus braços e o policial leva ele.Olho chorando e escondo o rosto do Thiago no meu ombro pra que ele não veja aquilo.

Saio de lá completamente arrasada, sem chão. Chego em casa com o Thiago e ele meio sonolento, dou a mamadeira e tento fazer ele dormir.

Thiago: Mamãe.— Me chama.

Helena: Oi, amor?

Thiago: Eu queo o papai.— Diz meio triste.

Helena: Eu também quero, filho. Também quero o seu papai.— Falo quase chorando.

Continuo com ele no colo.Coloco ele na minha cama e fico lá mais uns quinze minutos.

O Pedro chega da escola e converso um pouco com ele na cozinha, ajudo na tarefa e faço alguma coisa pra ele comer no almoço já que eu estava sem fome.

Corro pro banheiro passando mal e vomito pra caramba. Droga! Eu odeio isso.Na minha gravidez do Thiago eu tive um enjoo apenas, e nessa mal começou ainda e eu estou todos os dias ruim assim.

Thiago: Ô, mãe!—me grita do quarto.— Eu fiz xixi.

Helena: Tô indo!— Grito de volta.

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