Capítulo 01

5.3K 439 118
                                    


ERIN

A liberdade é um conceito utópico, uma vez que é questionável se realmente os indivíduos têm a liberdade que dizem ter. Como, por exemplo, a independência do ser humano, o poder de ter autonomia e espontaneidade. Faça o que quiser fazer, as escolhas são suas, seja quem quiser ser. E, no final, acostume-se com as consequências.

— Oh sim, querida. Estou quase lá.

Após receber o oral descompassado, sem qualquer técnica que induzisse ao meu prazer e consequentemente ao meu orgasmo... Aqui estou, deitada, enquanto o cara bonitão que está sobre meu corpo me penetra sem ritmo. Alguns poucos minutos de sexo e ele desabou o seu peso sobre mim. De certa forma, fiquei meramente aliviada por ter chegado ao fim.

— Pode se vestir e sair, tudo fica por minha conta — disse sem hesitar.

Ele chiou, mas preferiu se calar.

Homens costumam dizer que mulheres são bichos de sete cabeças. Difíceis de serem compreendidas ou desvendadas. Não retiro a complicação, e tão pouco as listo em um papel cujo fim é interminável. Somos quebra-cabeças que não se montam, teorias que não se comprovam, mentes perturbadas e misteriosas que não se revelam.

Do outro lado, homens são espécimes incrivelmente previsíveis. São fáceis de lidar e objetivos em suas vontades e desejos. Tudo o que você precisa fazer é observar o seu comportamento, sua maneira de olhar, falar, notar seus interesses e não tentar modificá-los conforme a sua vontade própria. Se o fizer, você estará salva de grandes ilusões. Se não, perderá o seu tempo e, com certeza, se derramará em lágrimas em cima de um pote de sorvete Ben & Jerry's. Não que eu já o tenha feito.

Tateei a cama até encontrar o maço Marlboro dentro do bolso da minha calça jeans. E, logo na primeira tragada, senti a nicotina ser absorvida pelos meus pulmões de maneira prazerosa. Existem meios indolentes de se desejar a morte. Fumar entorpecentes é uma delas.

O cara ao meu lado ainda estava em êxtase pós-orgástico quando eu caminhei desnuda até o banheiro. Em um momento apreciativo, apoiei as mãos sobre a pia e me encarei no enorme espelho de moldura amarela. Eu não estava com cara de quem acabou de transar, meus olhos azuis estavam destacados pela maquiagem, os cabelos castanhos e compridos envoltos ao meu rosto como se tivessem acabados de serem escovados. Toda a tensão muscular que deveria ter sido descarregada do meu corpo ainda estava ali.

Exalei a fumaça do cigarro contra o espelho, embaçando-o. Não importava quantas vezes eu tentasse... Nada mudaria.

Ao sair, percebi que o projeto de homem, já vestido, ainda estava sentado na cama. Aparentava repensar algumas decisões importantes de sua vida, tais como transar com uma desconhecida que encontrou no saguão de um hotel.

Enquanto ele observava o chão, vesti-me apressada.

Meu inconsciente perguntou-se o que ele teria feito com a camisinha, e quando meus olhos vagaram pelo quarto encontrei-a jogada ao lado da cama, usada e amarrada. Talvez ele fosse mais idiota do que eu havia imaginado. Não fora capaz de se juntar a mim ao banheiro por algum motivo maior do que a sua própria covardia.

Ele sabia que tinha sido horrível.

— Por que ainda não foi embora? Está esperando um beijinho de despedida ou o dinheiro para o táxi? — Ele arregalou os olhos, confuso. E eu, impaciente, caminhei até a porta e a abri fazendo sinal para ele sair. — Tchau John.

— Meu nome é Josh!

Ah, passei perto.

— Tanto faz. Saia!

Benefício da Dúvida (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora